GERAL
Especial de domingo: Repórter descobre porque a saúde do município de Epitaciolândia é uma das melhores do Acre
Jorge Natal, especial para o AcreNews
Não existe um ranking oficial ou métrica universal que aponte um “melhor” secretário de saúde municipal no Acre, pois essa avaliação depende de critérios subjetivos e de desempenho, que não estão disponíveis publicamente. No entanto, por causa de suas funções básicas (planejamento e gestão) o resultado do trabalho de cada um aparece, sejam positivos ou negativos.
A atenção básica (ou primária) de saúde é o primeiro ponto de contato de uma pessoa com o sistema de saúde, sendo um conjunto de ações que visam promover a saúde, prevenir doenças e tratar agravos. Ela é atribuição dos municípios, o que não impede os gestores de irem além, como é o caso do município de Epitaciolândia.
O trabalho do programa Saúde na Comunidade, por exemplo, consiste em levar atendimentos médicos e serviços de saúde essenciais às áreas mais distantes do município, buscando garantir o acesso à saúde de qualidade para todos. Porém, o programa oferece consultas em diversas especialidades, como pediatria, ginecologia e cardiologia e já realizou, com a mais recente atividade, mais de 136 mil atendimentos ao longo de sua história, atingindo 121 edições.
Também foi o primeiro município acreano a pagar o piso nacional para alguns profissionais em saúde, a ter Unidades Básicas em Saúde (UBSs) funcionando no turno da noite, além de disponibilizar o transporte para pacientes irem à capital e até ao estado de Rondônia. “A nossa filosofia de trabalho é o acolhimento e depois a resolutividade”, declarou o secretário de Saúde, Sérgio Mesquita, de 41 anos, que também é o vice-prefeito do município.
Formado em Letras Vernáculo pela Universidade Federal do Acre (Ufac), Sérgio é policial civil licenciado e também já foi professor. A reportagem do AcreNews o encontrou na Reserva Extrativista Chico Mendes, na comunidade São Sebastião, fazendo o que ele mais gosta: cuidar de pessoas. “Esse trabalho é sacerdócio, a nossa equipe é muito comprometida e somos destaque em nível estadual e nacional”, assegurou ele, que é considerado o melhor gestor de saúde do Estado. Veja a entrevista:
AcreNews – Qual é o balanço que o senhor faz da sua gestão?
Sérgio Mesquita – Nós pegamos uma Pasta que os próprios servidores não acreditavam no trabalho deles. Hoje temos uma saúde que desponta como uma das melhores do Acre. Estou me referindo a avaliações, não apenas do Previne Brasil. Temos duas UBSs funcionando até meia noite, com dois médicos e equipes completas, inclusive com dentistas e psicólogos, e com farmácias abarrotadas de remédios. Já realizamos 121 edições do programa Saúde na Comunidade, levando café da manhã e almoço para todos que estiverem lá. Temos sete atendimentos especializados, que não é a nossa obrigação. Ofertamos 15 mil ultrassonografias. Transportamos diariamente 40 pacientes para Rio Branco e 70 pacientes com câncer para Porto Velho. E fomos o primeiro município da região a pagar o piso nacional para as categorias dos trabalhadores em saúde. E temos um dos melhores planos de cargos, carreiras e salários do Estado. Tenho muita gratidão pelos servidores e pela população que reconhece o nosso trabalho. Enfim, buscamos oferecer um atendimento humanitário, acolhedor e resolutivo.
AcreNews – Por que o senhor aceitou o convite para ser secretário de Saúde?
Sérgio Mesquita – Porque eu gosto de desafios, sou movido por isso. Aquilo que você já aprendeu, fica fácil executar, o que tem inúmeras vantagens. Porém, essas rotinas não trazem inovação nos procedimentos administrativos e nas relações interpessoais. Quando o prefeito me convidou, eu disse: Dê-me 12 dias e ele não entendeu o porquê desse prazo. Eu precisava entender como funcionava a atenção primária e como funcionava o SUS. Eu entendi qual era a função primária na sociedade. Em 15 dias eu li sete livros.
AcreNews – Passaram-se alguns meses e qual foi o resultado?
Sérgio Mesquita – Quando eu assumi, éramos o 21º empatado como 22º colocado no Previne Brasil (modelo de financiamento da atenção básica). A saúde em Epitaciolândia não funcionava. Então, a estratégia foi reunir a equipe e trabalhar de uma maneira que esse resultado pudesse mudar. O prefeito me deu autonomia e os resultados vieram. Com três meses, nós saltamos para o 3º lugar. É preciso ressaltar, que os valores dos recursos vêm de acordo com a tua nota no programa. Deste então, sempre estamos nas primeiras colocações.
AcreNews – O senhor tem outros números que possam destacar a sua gestão?
Sérgio Mesquita – Eu gosto muito de números, de indicadores. O Previne Brasil é o melhor programa para se fazer aferições. Hoje, aqui na comunidade São Sebastião, estamos realizando a 121º edição do programa Saúde na Comunidade, que tem uma média de 50 profissionais atuando. Lembrando que somos os responsáveis pela prevenção, enquanto o governo estadual é pela especialização. E aí está o problema: ele sai da nossa esfera de atuação. A gente viu a necessidade de ginecologistas, ortopedistas, cardiologistas, dentre outras especializações. Esses profissionais não estavam disponíveis no hospital de Brasiléia e, para serem atendidos, os usuários precisam fazer agendamentos e irem para Rio Branco.
AcreNews – E o que o senhor fez?
Sérgio Mesquita – Nós começamos a contratar especialistas para a rede municipal. Hoje temos profissionais das áreas de ginecologia, ortopedia, psiquiatria, cardiologia, pediatria, nutrologia, oftalmologia, psicologia e odontologia. As verbas para essas contratações são pequenas e tivemos que complementar com recursos próprios. Isso é inverter prioridades e investir na qualidade de vida da população. Lembrando mais uma vez: a contratação desses profissionais é de responsabilidade do governo estadual.
AcreNews – E o transporte para essas pessoas que precisam de tratamento especializado?
Sérgio Mesquita – Todas as pessoas que estão agendadas para Rio Branco estão procurando tratamento especializado. O transporte delas também é de responsabilidade do Estado. Como este não oferece, a população procura o serviço na prefeitura. E a gente disponibiliza o transporte para a capital e até para Rondônia, onde algumas pessoas fazem o tratamento de câncer. Recentemente, inauguramos uma casa de apoio em Porto Velho. Quando se tem amor e solidariedade, não existem limites entre municípios ou divisão entre Estados.
AcreNews – Por que o senhor gosta de gente?
Sérgio Mesquita – Porque todos nós somos gente e nos relacionamos com gente. As pessoas que mais amamos, os nossos pais e mães, são gente. E precisamos cuidar das pessoas. Nos atendimentos, nunca fizemos acepção de pessoas, ou seja, acolhemos usuários de todos os municípios do Alto Acre. Nos acolhimentos em Porto Velho, temos pessoas de Rio Branco e de Senador Guiomard. Hoje, neste atendimento aqui, temos inúmeras pessoas de Brasiléia. Jamais iremos negar esses serviços ou segregar pessoas. Embora eu goste de gerenciar políticas públicas, eu nunca fui político. O meu trabalho é técnico, de gestão. O nosso prefeito também tem esse perfil, além de ser humano. O município tem muitos problemas, isso salta aos olhos, mas é gratificante viver e trabalhar no município que mais cresce, que tem o segundo melhor IDH, a melhor renda per capita, a melhor saúde e a melhor educação entre os municípios acreanos. Esta escola que você está vendo foi construída com recursos próprios. Esta comunidade aqui não tinha ramais, educação e saúde. Hoje tem.