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Especial: Mariano Maciel, ‘correspondente do Acre’ em Brasília, fala com o Acrenews sobre a vida, a carreia e a política
Evandro Cordeiro
O Acre tem um eterno correspondente em Brasília. Independente do jornal no qual ele esteja trabalhando, o nosso veterano do rádio, TV e jornais Mariano Maciel virou um ícone das notícias na capital do Brasil. Há duas décadas e meia, aproximadamente, sobretudo antes das redes sociais, é ele quem apura mais pormenorizadamente a atuação de nossa bancada de senadores e deputados federais.
Mariano é de família tradicional de Cruzeiro do Sul e a carreira no jornalismo começou antes da troca definitiva do tom de voz, em plena adolescência, por volta dos 15 anos. Ele fazia locução pelas lojas do centro de sua cidade natal até dar uma passada na rádio A vós dos Náuas, onde pediu uma oportunidade. A emissora sacou o talento e até hoje, aos 70 anos, ele não parou mais de “fazer” notícia. Já fala em parar, não de vez, mas dar uma puxada no freio de mão, em função da própria idade e pela necessidade de estar mais perto da família.
É com esse veterano, de muitas histórias, de vivência interessante entre o Acre e Brasília, nas últimas seis décadas, que o Acrenews bate um papo nesse domingo, 8 de setembro. Ele continua falando bem e de tudo, ou quase de tudo. Opina sobre política, nacional e local, conta sobre a vida e a carreira e tem críticas ácidas a situação atual, onde tudo foi relativizado, inclusive o conceito de democracia. Maciel acredita, entre outras coisas, que a polarização nacional, entre Lula e Bolsonaro, vai prevalecer nas disputas municipais.
Veja a seguir parte de nossa longa conversa por telefone:
Acrenews – Mariano Maciel, você nasceu onde, exatamente?
Mariano – Sou de Cruzeiro do Sul e meus pais, Gontran Maciel e Maria Siqueira são de famílias pioneiras da cidade. O meu avô, João Maciel, por exemplo, ajudou a construir todas as pontes que existiam no centro e nos bairros de Cruzeiro, e que ainda hoje vivem no imaginário de muitas pessoas. O centro de Cruzeiro do Sul era tomado pelas águas do Juruá e, por isso era conhecida como “Veneza do Juruá”. Pena que não é mais assim.
Acrenews – Como e quando começou esse teu interminável ‘namoro’ com a imprensa, com o jornalismo?
Mariano – Locutor era um sonho de criança. Aos 15 anos de idade bati na porta da pioneira Rádio “A Voz dos Náuas” pedindo uma oportunidade; fazia propaganda volante dos políticos da época, entre eles, Nósser Almeida e Geraldo Maia, e no interior das Casas Pernambucanas e da Loja 11 de Outubro, nas horas vagas. Como era menor de idade, minha carteira de trabalho só foi assinada pelo extinto SERDA (Serviço de Divulgação do Estado Acre) no dia 01 de janeiro de 1974, permanecendo na “Voz dos Náuas”, até a sua transferência para Sena Madureira.
Acrenews – Até virar correspondente em Brasília, como foi sua caminhada?
Mariano – O jornalismo me chamou a atenção com a Rádio Nacional de Cruzeiro do Sul, emissora Radiobrás que permaneceu por 10 anos no Juruá. Nesses anos, o programa “Musica e Informação” foi líder em audiência pela manhã. O programa abriu-me as portas para um contrato depois com a Rede Amazônica de Televisão. Na TV Cruzeiro do Sul eu era repórter, âncora do primeiro jornal televisivo da cidade e editor (rsrsrs), sendo transferido para a TV Acre, dois anos depois pelo Alfredo Doau. TV5 e TV Gazeta abriram-me as portas para Brasília, onde permaneço há 23 anos. Não eu imaginava que passaria tanto tempo aqui no Distrito Federal.
Acrenews – Você pensa em aposentadoria, ou quer fazer igual o icônico Castelo Branco, que morreu perto de 100 anos sobre a máquina de escrever?
Mariano – Evandro, a idade chega, né, amigo? Minha idéia é “pendurar as chuteiras do jornalismo” no final dessa legislatura e, quem sabe, curtir a aposentadoria pelos lados do Igarapé Preto em Cruzeiro do Sul, onde tenho irmãos, filhos, netos e uma “penca” de sobrinhos. Família é tudo. O tempo dirá.
Acrenews – Que ideia você tem da politica no Brasil e no Acre na atualidade?
Mariano – A política é dinâmica, como dizia meu amigo Luiz Pereira. Aqui se vê a boa política que nos orgulha e a má política que nos causa revolta. Estamos vivendo tempos de apreensão e a democracia é relativa, como o próprio presidente Lula diz. Quem a defende, ao mesmo tempo é aliado e passa pano nas decisões do Nicolás Maduro. Aí fica difícil, né?. Hoje é preciso muita cautela ao escrever algo porque não sabemos quem vai definir o que é “fake news” ou não. Eu acho que o eleitor tem que ficar atento para os acordos políticos. Cabe a ele observar o que é instinto de sobrevivência política e/ou projeto de poder. Eu vi recentemente o candidato à reeleição Zequinha Lima, da minha cidade, com o ex-presidente Bolsonaro. È, no mínimo, esquisito, né? O ex-comunista mudou de opinião muito rápido.
Acrenews – Você acha que a polarização nacional entre Lula e Bolsonaro vai interferir nas eleições municipais?
Mariano – Com certeza. A polarização nacional está tomando conta das eleições em todos os municípios brasileiros e, em Rio Branco no não será diferente.