Valterlucio Campelo
Esquerda x Direita não é jogo de par ou ímpar, escreve nesta terça-feira, 22, o colunista Valterlucio Campelo

Por Valter Lucio Bessa Campelo
Um dos melhores resultados do processo político dos últimos anos foi acender a chama que iluminou as posições ideológicas da população brasileira. Os conceitos de esquerda e direita saíram das bibliotecas e universidades e encontraram a sociedade que, aos poucos, vai se informando e, através de seus filtros, se identificando de um lado ou de outro. A chamada polarização nos beneficiou com a politização daquilo que antes era apenas engano e cartório partidário longe do povo.
Ao mesmo tempo, foram revelados neste período os chamados “isentões”, centristas de ocasião e omissos que se enfurnam nos bastidores, desobrigados de explicarem seus votos e se escondendo da luz política. Sabe aquele “nem é carne, nem é peixe”? Pois é, eles existem aos montes e, para se justificarem, tiram do bolso o argumento mais raso e tolo: “Sou contra a polarização”. Bingo! Com isso o sujeito acha que tem alvará para se omitir e, dependendo do público, atacar qualquer dos lados.
De vez em quando arrotam uma bobagem do tipo: “Os dois lados têm coisas boas e coisas ruins”. Fica evidente aí, além da ignorância, a falsa equivalência, como se os lados fossem igualmente válidos. Afetando uma virtude “acima dos extremos”, adotam uma atitude que Kant (Fundamentação da Metafísica dos Costumes, 1785) denominaria de adaptação dos princípios para manter uma aliança de poder. Político tem que ter lado; imparcialidade pertence à Justiça, e à imprensa quando possível, considerando que deve buscar a verdade.
No século XX, o centrismo foi duramente enfrentado tanto pela esquerda quanto pela direita. Em 1953, por Aneurin Bevan, figura central da ala esquerda do Partido Trabalhista do Reino Unido, ele dizia enfaticamente: “Sabemos o que acontece com quem fica no meio da estrada. Eles são atropelados”. Para Bevan, o “meio da estrada” não era um lugar de equilíbrio sensato, mas de covardia política e ineficiência sistêmica. Ele acreditava que o capitalismo e o socialismo eram forças irreconciliáveis e que tentar conciliar interesses opostos resultaria em paralisia. Bevan usava a imagem do atropelamento para ilustrar que o centro é o ponto de maior impacto das forças que vêm de ambos os lados. Sem uma base ideológica sólida, o centrista seria vulnerável a qualquer crise.
Já nos anos 1980, Margaret Thatcher, do Partido Conservador, praticamente repetiu a frase: “Ficar no meio da estrada é muito perigoso; você é derrubado pelo tráfego de ambos os lados”. Embora em polos opostos, Bevan e Thatcher compartilhavam um profundo desprezo pelo consenso e pela indecisão. Para Thatcher, o “meio da estrada” estava levando o Reino Unido à ruína econômica e a política deveria ser sobre convicções inabaláveis. Ela também afirmava que o consenso era o processo de abandonar todas as crenças em busca de algo em que ninguém acredita; para ela, o centro era moralmente vazio.
No Brasil do século 21, temos um arremedo de centro que não passa de centrismo de ocasião, afirmado apenas no pragmatismo de se colocar no poder. Diversos atores se revezam com conversas sobre “extremos”, parecendo crianças com medo do “lobo mau”, mas são apenas espertos procurando uma vaga no poder. Isso não significa que devamos ser radicais, mas temos que assumir nossa identidade claramente.
Como me alinho ao grupo que tem princípios inarredáveis e valores morais firmados, não posso deixar de acusar a corrida oportunista para o “centro” que alguns candidatos fazem, como se a neutralidade fosse uma posição respeitável. Garanto que não é. Especialmente no Acre e em outros estados pequenos, sabemos quem é quem. Senhores candidatos, desçam do muro; o povo está vendo suas vergonhas. Como escreveu Dante Alighieri, no inferno os lugares mais quentes estão guardados para os que se declaram neutros em tempos de guerra.
Nota: Valterlucio Bessa Campelo escreve semanalmente para diversos portais e é autor do livro “Arquipélago do Breve”.
Gostaria que eu resumisse os principais argumentos de Thatcher e Bevan citados no texto?












