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ARTIGO

Artigo do defensor público doutor Valdir Perazzo: Francisco Miguel de Siqueira, restabelecendo a verdade

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Fiz uma visita ao túmulo de Francisco Miguel de Siqueira na cidade da Ingazeira. Fui acompanhado do Historiador Hesdras Sérvulo Souto de Siqueira Campos Farias. Depois da visita ao túmulo, visitamos o senhor Milton Severino Amaral, profissional que vai restaurá-lo (o túmulo).

Enquanto estávamos na casa do senhor Milton, nos ocorreu a ideia de fazermos um 1º Congresso sobre a História da Ingazeira. Achamos que a realização de um evento cultural dessa natureza poderia ser início da realização de um projeto de um livro campanha no escopo de tirar a cidade da Ingazeira do isolamento em que se encontra.

São apenas 15 km de estrada de barro que separa o asfalto – PE 275 que leva o nome do saudoso deputado estadual Francisco Leite Perazzo –  da sede do município de Ingazeira. Um livro campanha sobre a História da “Cidade Mãe”,  da qual nasceram os demais municípios do Vale do Pajéu, chamaria a atenção das autoridades do Estado para realização dessa pequena, mas importante obra.

Ao darmos início aos contatos para efeito da realização do aludido congresso, começamos sentir uma resistência das autoridades do município. O motivo alegado para interpostas pessoas que pretendiam nos ajudar na realização do evento,  era de que falarmos sobre Chico Miguel implicaria uma desgaste, especialmente em período eleitoral.

Achamos por bem não levarmos à frente o projeto cultural. Por hora.  Não contrariarmos pessoas que nos são muito queridas, e que vão contribuir com a restauração do túmulo do Tenente Coronel Francisco Miguel de Siqueira, líder conservador da Ingazeira.

Porém, a resistência que se fez à realização do 1º Congresso sobre a História da Cidade Mãe (Ingazeira), nos levou a uma conclusão. Os que resistiram, mesmo que não tenham consciência disso, têm a intuição de que a biografia do Tenente Coronel Francisco Miguel de Siqueira se confunde com a própria História da Ingazeira do Século XIX.

E é uma verdade inquestionável!

A biografia de Francisco Miguel de Siqueira (Tenente-Coronel da Guarda Nacional, Comandante da Guarda Nacional, Juiz Municipal, Delegado, Líder do Partido Conservador, Procurador da Paróquia, Proprietário Rural, Conselheiro Municipal, Repressor do Movimento Revolucionário “Quebra Quilos” e Combatente na “Revolução Praeeira”), torna-o o personagem mais importante da Ingazeira no século XIX.

Eu já li e recentemente reli o livro “Padre Carlos Cottart de Afogados da Ingazeira”. O livro se baseia, fundamentalmente no TOMBO, Igreja N.S. dos Remédios, Afogados da Ingazeira, 1910-925.

Lendo o livro acima, fico comovido com a dedicação do Padre Carlos Cottart com a História da nossa Região. Fico pensando que, sem o trabalho realizado pelo padre francês, muito pouco saberíamos sobre a História do Vale do Pajéu.  Eu e meus parentes nada saberíamos sobre a nossa ancestralidade nas famílias Siqueira, Brito e Nogueira de Carvalho. Optamos pelo sobrenome italiano, em detrimento das famílias, Siqueira, Brito, Nogueira de Carvalho e Cunha que já estavam na região há mais tempo do que o italiano Antônio Perazzo.  Minha eterna gratidão ao Padre Carlos Cottart!

Mas ficaram registradas informações  no livro de Tombo organizado pelo ilustre religioso   sobre meu tetra avô Francisco Miguel de Siqueira, que ao longo dos anos vêm denigrindo a  sua biografia. Algo que perdura há mais   de 150 anos, sem que ninguém defenda sua memória. E quem escreveu não lhe deu o direito ao contraditório. A infâmia contra ele lançada se deu sem direito de defesa. Evidentemente que a culpa não é do notável Historiador Carlos Cottart.

Quando o Padre Carlos Cottart chegou em Afogados da Ingazeira em 1910, meu tetra avô já havia morrido há 32 (tinta e dois) anos. Chico Miguel faleceu em 1878. Ora, ele reuniu no livro de Tombo o que recolheu em documentos que haviam sido escritos, unilateralmente, por sacerdotes que passaram pela Ingazeira.  E tais escritos eram a visão de quem os escreveu e não do Padre Carlos Cottart. E visão política sobre o Coronel e não religiosa.

Explico com o que está contido no próprio  livro acima, extraído do  Tombo organizado e escrito pelo Padre Carlos Cottart.  Vejamos.

As infâmias que foram lançadas contra o Coronel Francisco Miguel de Siqueira, sem que ele  tivesse o direito de defesa, na solidão da secretaria da Igreja, foram escritas por dois sacerdotes: o Padre João Vasco Cabral d’Algornez e pelo Padre Pedro de Souza Pereira.

O Padre Amancio Leite da Silva sucedeu o Padre Damaso d’Assumção Pires em 14 de janeiro de 1871. Ficou muito pouco tempo em Ingazeira. Foi embora um ano depois, em 1872. Eis o que está escrito sobre ele no livro de Tombo:  “O padre Amancio era de Piancó. Retirou-se logo porque tinha sido ofendido em palavras pela família que dominava na Ingazeira”.

É uma terceira pessoa que está escrevendo isso  sobre o Padre Amancio. O texto não está na primeira pessoa. Se o texto fosse escrito pelo Padre Amancio ele diria eu me retirei. Quem escreveu foi o sucessor dele. E o sucessor do Padre Amancio foi exatamente o Padre João Vasco Cabral d’Algornez.  Eis a prova, extraída do livro de Tombo: “A ele sucedeu a 14 de julho de 1872 o Padre João Vasco Cabral d’Algornez”.

Agora vejamos a posição política do Padre João Vasco Cabral d’Algornez sobre o movimento subversivo, denominado de “Quebra Quilos”, que o Coronel Francisco Miguel de Siqueira, como Tenente-Coronel, como Delegado, como Juiz Municipal, isto é, como defensor da ordem, teve que combater.

Não esqueçamos que o Coronel Francisco Miguel de Siqueira era uma autoridade do Império do Brasil, e que, pela Constituição Monárquica (art. 145 de 1824), tinha o dever de lealdade para com o Imperador Pedro II.

No livro de Armando Souto Maior, intitulado “Quebra Quilos – Lutas Sociais no Outono do Império”, o ilustre escritor informa que o Juiz Municipal da Ingazeira comunicou as autoridade do Estado que  o Padre João Vasco Cabral d’Algornez,  do púlpito, em atitude subversiva (o adjetivo é do juiz e  transcrito pelo escritor, não é meu), incita à população à participar do movimento revolucionário “Quebra Quilos”.

Em artigo que anteriormente escrevi fiz a transcrição de como está escrito no livro. Quem tiver curiosidade é só acessar o livro acima citado que está disponível nas redes sociais em PDF.

A posição política do Padre João Vasco Cabral d’Algornez sobre o movimento revolucionário acima citado é de defesa. Não apenas de defesa, mas também participando e incitando a população e se valendo da Santa Instituição a que pertencia para potencializar o movimento.

Agora, qual era posição política do Tenente-Coronel Francisco Miguel de Siqueira sobre “Quebra-Quilos”? A defesa da ordem instituída pelo Império do Brasil e da Constituição Monárquica. E o que diz a Igreja sobre as autoridades? Não só obedecê-las, mas até rezar por elas (São Paulo).

Eis o que disse o Promotor de Público de Flores sobre Francisco Miguel de Siqueira relativamente ao combate ao movimento revolucionário “Quebra Quilos”. Do livro acima citado: “A defesa de Flores era precária; praticamente estava na mão da Guarda Nacional e de quem nela quisesse tomar parte. O promotor público, ao que parece, depositava suas esperanças no tenente-coronel Francisco Miguel de Siqueira…”.

Conclusão. O Padre João Vasco Cabral d’Algornez e o Tenente Coronel Francisco Miguel de Siqueira tinham posições políticas diametralmente opostas. O Padre defendendo um movimento revolucionário; o Coronel defendo a ordem e a Constituição. Indago. Qual a posição política moralmente superior?

As infâmias lançadas pelo Padre João Vasco Cabral d’Algornez contra o Coronel Francisco Miguel de Siqueira eram por divergências políticas. O Coronel defendendo a ordem e o religioso defendendo a desordem.

O Padre Pedro de Souza Pereira também dizia não gostar da Ingazeira, supostamente porque tinha restrições contra as autoridades locais. Entenda-se aqui restrições à  família de Chico Miguel. O motivo era um pretexto. E quem o diz é o próprio Padre Carlos Cottart que é insuspeito, porque não conheceu o Coronel.

Eis o que disse Carlos Cottart sobre o desempenho do Padre Pedro de Souza Pereira como religioso: “Até a hora em que foi nomeado Vigário de Ingazeira só fez tratar dos seus negócios materiais particulares, e depois de nomeado Vigário, recusou-se a ir morar na Ingazeira”.

Além de fazendeiro em Afogados da Ingazeira – seus negócios particulares – o Padre Pedro de Souza Pereira era político, líder do partido liberal. Foi prefeito da novel cidade de Afogados da Ingazeira. O Coronel Francisco Miguel de Siqueira era líder do Partido Conservador. Tinham posições políticas opostas. O religioso defendia as ideias do liberalismo francês que era contra a Igreja Católica.

A História não registra conduta idônea desse Padre como político. Eis o que consta dos jornais da época.

Nesses termos a comissão propõe que seja annulada a eleição feita na matriz e presidida pelo cidadão Pedro de Souza Pereira, recomendando-se, por intermédio do governo, a responsabilidade  do delegado de polícia  Antônio Pereira de Souza, do promotor público Dr. José Theodoro Cordeiro, e do commandante da força policial  Manoel de Freitas Barboza, pelos actos abusivos que praticaram nessa eleição”.

Eleição presidida pelo Padre Pedro de Souza Pereira (o político), foi anulada por atos abusivos nela praticados.

Podemos dizer que as infâmias lançadas no livro de Tombo (não pelo Padre Carlos Cottart), mas pelos dois políticos acima referidos – falaram sobre o Coronel na condição de políticos e não de religiosos – não refletem a verdade. São opiniões de quem tinha partido. Opiniões parciais.

Destaco duas provas incontroversas de que o Tenente-Coronel Francisco Miguel de Siqueira era um Católico dedicado à Igreja. No templo construído pela sua família (seu sogro Agostinho Nogueira de Carvalho concluiu a construção do templo que seu pai iniciou), numa das linhas do telhado está escrito o nome do Coronel.  E o recado para a História é o seguinte: “eu participei da construção desse Templo”).

Finalmente destaco que, numa escritura pública (eu tenho uma cópia), encontrada pelo Padre Carlos Cottart, em que a família de Agostinho Nogueira de Carvalho doa partes de suas terras à Igreja Católica (Paróquia), em que no ato notarial estava presente o Frade Capuchinho Caetano de Messina, quem assina o documento como Procurador de São José, padroeiro da Ingazeira, é o Tenente Coronel Francisco Miguel de Siqueira.

Essa é a Verdade! O que ficou registrado no livro de Tombo (não pelo Padre Carlos Cottart), eram apenas narrativas de políticos que tinham lado!

Valdir Perazzo Leite

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