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Gilberto Trotamundos: o acreano que deu a volta ao mundo três vezes — e agora enfrenta a maior batalha da vida
O Acre sempre produziu personagens que parecem saídos de romances de aventura. Mas poucos vão tão longe — literalmente — quanto Gilberto Bezerra de Farias, o Gilberto Trotamundos, o ciclista que percorreu 142 países, cruzou todos os continentes três vezes em cima de uma bicicleta e transformou desconhecidos em amigos por onde passou. Um contador de histórias ambulante, alma inquieta, referência cultural e símbolo de resistência amazônica.
A história que correu o mundo agora volta para dentro de casa com um peso que nem ele, acostumado a atravessar desertos e tempestades, imaginou enfrentar. No último dia 8, o filho de Gilberto publicou nas redes sociais um relato emocionante: o pai está com câncer no fígado e no cérebro. “Ele não reconhece mais a gente”, escreveu.
O anúncio partiu o coração de muita gente — dos familiares, claro, mas também de milhares de admiradores espalhados por todos os continentes, pessoas que cruzaram com ele nas estradas ou nas páginas de seus livros.
Gilberto nasceu no Acre, mas o mundo foi sua morada. Depois da separação, ainda jovem, decidiu seguir um sonho improvável para qualquer um — e mais ainda para alguém vindo da Amazônia dos anos 1980: rodar o planeta em duas rodas.
Na estrada, ganhou o apelido de “Trottamondos”, dado por um francês em 1986, nome que adotou e transformou em identidade. Foram quase 40 anos viajando, enfrentando sol, frio, nevascas, desertos, florestas e cidades desconhecidas.
Nesse tempo, produziu uma obra monumental:
– 12 livros, em quatro idiomas
– 17 filmes/documentários, muitos deles sobre suas rotas e sobre a memória dos antepassados acreanos
– Conteúdos constantes em Facebook, Instagram, YouTube e TikTok, onde manteve viva a chama de suas aventuras
Gilberto virou uma referência, um ativista cultural do Acre, um divulgador da história amazônica e da coragem de quem decide não se acomodar.
A vida recente
Em junho deste ano, mudou-se para Santa Catarina, feliz com novos projetos e com a companhia da família. Mas, após algumas idas ao hospital, veio o diagnóstico que ninguém queria ouvir.
Hoje, o aventureiro que cruzou o Saara, os Andes e a Patagônia enfrenta um território cruel e desconhecido: a doença que avança rápido e o faz perder a memória — inclusive dos seus.
Um legado que permanece
Gilberto Trotamundos inspirou gerações a tirarem os sonhos da gaveta, pegarem uma bicicleta e acreditarem que o mundo é maior do que parece. E que o Acre, mesmo longe dos grandes centros, produz gigantes. Sua história segue viva — nos livros, nos filmes, nas estradas que percorreu e nas vidas que tocou.
Agora, quem o acompanhou por tantos continentes acompanha, com o coração apertado, sua batalha mais dura.







