ESPORTE
Gols acreanos
Escrevi um dia desses sobre a questão dos gols bonitos, citando entre os meus preferidos um do Pelé, na Copa do Mundo de 1958, quando na jogada o rei deu um chapéu num zagueiro sueco, e um do Nelinho, quando a bola fez uma “curva impossível” num jogo contra a Itália, na Copa de 1978.
Depois que eu escrevi, fiquei pensando nos gols bonitos feitos por jogadores do Acre, desses que jamais saíram (ou sairão) na televisão (porque, inclusive, não foram filmados). Verdadeiros gols dignos de figurarem numa placa e que permanecem tão somente na memória de quem os presenciou.
E então, dentre os muitos que eu vi no vetusto Stadium (assim mesmo em latim, para preservar a grafia original) José de Melo, separei três que continuam passando nas minhas retinas já desgastadas pelo tempo: um deles feito pelo Jangito; outro pelo Bico-Bico; e um terceiro da lavra do rei Artur.
O do Jangito, atacante amapaense, ex-funcionário do Banco do Brasil, que jogou no Clube do Remo e que depois fez história no Acre com as camisas do Rio Branco e do Independência, foi marcado em um jogo entre as seleções acreana e rondoniense, bem no comecinho da década de 1970.
O jogo se encaminhava para o final e a seleção do Acre perdia por 2 a 1. Um resultado desonroso para as cores acreanas. Foi então que o Jangito pegou uma bola na entrada da área, deu dois dribles secos, quase sem sair do lugar, nos zagueiros e mandou no ângulo, sem chance para o goleiro deles.
O gol do Bico-Bico, em meados da década de 1970, foi num jogo entre o Independência e o Paysandu, de Belém. Jogo duro, com o Tricolor de Aço perdendo por 1 a 0. Eis que o Bico pegou uma bola, saiu fazendo embaixadas em diagonal, e arrematou sem deixa-la cair, no ângulo do goleiro dos caras.
O gol do rei Artur, também pelo Independência, e igualmente contra o paraense Paysandu, deu-se numa vitória do time acreano no campeonato brasileiro da série B de 1991, igualmente no Stadium José de Melo, naquela trave que ficava (fica) próxima ao portão de entrada, na direção da Av. Ceará.
Lance dentro da área do Paysandu. A bola quicando à frente do Artur. Ele fingiu que ia dar uma pancada. Dois zagueiros e o goleiro se atiraram na frente do atacante. Artur, então, não chutou. Puxou a bola de lado e derrubou os três adversários. E só então mandou para o gol vazio. Uma obra de arte!
Elegi esses três gols como daqueles mais bonitos que eu vi no futebol acreano, mas existem muitos outros. Puxando pelo fio da memória eles aparecem. E cada torcedor que se dedicar a esse exercício se recordará de outros e mais outros. Cada um elege os seus. E todos fazem parte da história!

