Crônicas, poemas, desenhos e observações
HÁ TRINTA ANOS
O irmão do Ray Melo, meu colega de trabalho e de aluguel, chegou em casa, no bairro Tucumã (bairro da capital do Acre), com a cara triste e nervoso pedindo pra largar a caipirinha que eu estava preparando, desligar o tresenhum (máquina de reproduzir músicas em discos de vinil, fitas cassete e cd – Ah! Num vou explicar o que são essas coisas do século passado não!) e ligar a TV.
– Senna morreu, Braga!
– Tira o tênis antes de entrar, carai!
– O Ayrton Senna morreu, porra!
Ligou a televisão, deitou-se nas almofadas, em cima do tapete (que eu havia comprado na loja Casas Natal). Terminei minha caipirinha. E sem dar atenção ao moleque continuei meus afazeres do domingo de folga. Ray não havia voltado da noite de farra. A jovem saiu do banheiro, embrulhada na toalha, pingando água por todo o assoalho.
– Senna morreu? Senna Morreu?
– Quem morreu? – disse eu.
– (Em uníssono) O Ayrton Senna Morreu!
Peguei meu copo e a jarra de caipirinha. Pernapassei a rede estendida de parede a parede. Aquietei-me sobre ela, me ajeitei e chorei. E todos chorávamos. Foi o domingo mais triste que vivi no Acre.
No dia seguinte a comoção era total. Toda a cidade chorava. O Brasil inteiro estava triste. Pedi ao editor do jornal O Rio Branco, grande jornalista e ser humano da melhor qualidade, Moura Neto e ao meu chefe no departamento de arte, chargista Luiz Conversani para publicar uma caricatura do nosso herói falecido.
Essa foi e sempre será a minha homenagem a esse grande atleta brasileiro. Só isso.