ARTIGO
Jornalista e escritor Pitter Lucena segue a série de homenagens lembrando a trajetória de Nilda Dantas
NILDA DANTAS: A RAINHA DO RÁDIO
No coração pulsante da Amazônia, onde as folhas sussurram histórias antigas e as águas fluem como a vida que nunca cessa, vive uma mulher cuja presença transcende a passagem do tempo. No reino mágico do rádio, onde as vozes ganham asas e os sentimentos são tecidos em ondas sonoras, ergue-se uma rainha cujo nome ressoa como um cântico de admiração e respeito: Nilda Dantas. Ela é mais do que uma simples radialista; é uma poetisa, escritora, jornalista e até mesmo uma fotógrafa nas horas de calmaria. Ela é um capítulo vivo e intemporal na história do rádio acreano, um testemunho vibrante de coragem, perseverança e paixão.
Eu tive o privilégio de cruzar caminhos com essa mulher notável nos anos 80, e desde então, uma amizade sólida floresceu, resistindo a todas as marés do tempo. No entanto, Nilda Dantas não é apenas uma amiga; ela é uma força da natureza que desafia todas as fronteiras temporais. Como uma rainha que rege com compaixão e sabedoria, ela fez do reino do rádio um lugar de conexão e encantamento.
Sua jornada no mundo do rádio começou em 1967, quando as ondas mágicas da Rádio Novo Andirá a acolheram em seus braços sonoros. Filha de Emídio de Brito Pires e Raimunda Dantas Pires, sua trajetória não era predestinada ao rádio, mas o destino conspirou para que sua voz se tornasse uma bênção para os ouvintes. Em uma época em que sonhos femininos eram muitas vezes limitados a poucas opções, ela desafiou as expectativas ao seguir seu coração, encontrando-se nas ondas sonoras dos programas de calouros.
Foi durante uma visita a um desses programas, em 1966, que o deputado federal Francisco Wanderley Dantas reconheceu o talento que emanava da voz de Nilda. O que começou como uma sugestão rapidamente se transformou em uma jornada de sucesso, pavimentando o caminho para uma carreira ilustre. Em uma era turbulenta, em meio às transformações políticas e sociais da década de 1960, ela enfrentou o desafio de entrar em um meio predominantemente masculino. No entanto, sua determinação e paixão a impulsionaram além dos preconceitos e barreiras.
Nilda Dantas brilhou como destaque no rádio local e, em 1980, foi chamada pelo radialista Campos Pereira para uma nova aventura na TV Acre. Lá, ela compartilhou sua presença cativante como âncora e repórter do jornal da afiliada da Rede Globo no Acre. Embora tenha conquistado novos horizontes, ela nunca se afastou do seu amor pelo rádio.
Com o passar dos anos, Nilda encontrou seu lar na Difusora Acreana, onde se tornou a voz querida do “Espaço do Povo”. Sua dedicação incansável, desde o primeiro dia em que adentrou um estúdio de rádio, permaneceu inabalável. Seu compromisso em criar um ambiente repleto de informação, entretenimento e conexões humanas nunca vacilou. Em uma era onde a tecnologia ameaça eclipsar as tradições do rádio, Nilda reconhece a importância crucial que essa mídia tem para comunidades distantes, onde as ondas sonoras transcendem as barreiras físicas.
Para Nilda Dantas, comunicar pelo rádio na era digital é um desafio que ela abraçou com entusiasmo. A importância do rádio para as comunidades remotas é vasta e significativa. Ela entende que, através do rádio, ela presta um serviço social inestimável, levando informações onde muitas vezes o poder público não alcança. Sua paixão por se manter atualizada e aprimorar sua habilidade de se comunicar ecoa na maneira como ela se dedica a essa arte.
Nilda Dantas, essa mulher além de seu tempo, tem uma jornada que vai além das ondas sonoras. Ela é uma poetisa em seu cerne, expressando suas emoções mais profundas e íntimas através das palavras. Seus livros, como “Quase Nua”, “Devora-me” e “Saturitas”, revelam uma alma que é mais do que uma voz no rádio; é uma narradora de sentimentos, uma contadora de histórias que toca os corações daqueles que a ouvem e leem.
Além de sua dedicação ao rádio e à escrita, Nilda também revela sua alma criativa através da fotografia, do teatro e dos festivais. Ela é uma mulher de múltiplas paixões, uma alma que não teme se aventurar em territórios desconhecidos.
E quando o rádio cede lugar a outras formas de expressão, Nilda Dantas revela outro aspecto de sua existência: o de poetisa. Sua sensibilidade brilha em suas palavras, especialmente através de sua obra “Quase Nua”. Neste trabalho, ela se desnuda de maneira emocional, revelando desejos ardentes e sentimentos contraditórios que habitam seu âmago.
Para Nilda, ser mulher é muito mais do que os papéis convencionais. É ser amiga, amante e companheira, é transcender os erros e cicatrizes para se tornar um anjo aos olhos de outros. Seja na maturidade ou na juventude de espírito, cada mulher é digna de ser chamada de princesa, mesmo sem coroa ou séquito, pois o que importa é a autenticidade e a essência divina que reside dentro de cada uma.
Seus versos falam de encontros, despedidas e memórias que tocam a alma. Em um poema, ela compartilha que uma lágrima vai rolar, evocando lembranças suaves que emergem do sono profundo da memória. E enquanto seu coração pode resistir, o rei do tempo pode eventualmente ser domado por sua voz, seu amor e seus sentimentos.
A jornada de Nilda Dantas ecoa como um conto atemporal, onde a voz de uma mulher se torna um eco eterno. Um conto onde ela é a rainha do rádio, a poeta das emoções, a artista da imagem e a amiga fiel. No mágico reino do rádio, a voz dela não apenas ressoa; ela ecoa através do tempo, um testemunho de coragem, paixão e autenticidade. O amor e a voz de Nilda continuam a despertar ilusões pelo mundo afora, perpetuando seu legado com uma ressonância inabalável. A voz e o coração dela ecoam, hoje e para sempre.
E assim, a história de Nilda Dantas, a rainha do rádio na Amazônia, é contada. Uma história de paixão, determinação e um compromisso inabalável de servir, conectar e inspirar. Uma história que transcende o tempo, tocando as vidas daqueles que têm a honra de conhecer essa mulher notável que, com sua voz e presença, ilumina os corações daqueles que ela alcança. Ela vive não apenas no reino do rádio, mas também no coração da Amazônia e nas memórias daqueles que a amam e admiram.
Pitter Lucena é jornalista, escritor e editor-literário