ACRE
Máquinas do Deracre concluem rompimento de 81km de selva e tiram do isolamento, 112 anos depois, o município de Porto Walter; caravana do Deracre faz o trajeto pela primeira vez
Evandro Cordeiro
O município de Porto Walter, no Acre, não é mais isolado por terra desde esta segunda-feira, 5 de setembro de 2022. Uma caravana puxada pelo diretor presidente do Deracre, o engenheiro civil Petrônio Aparecido Chaves Antunes, entra na cidadela, sede do município, localizada às margens do caudaloso Rio Juruá, exatamente às 14h20, seis horas depois de deixar Cruzeiro do Sul. Era a primeira vez que um automóvel percorria as ruas pavimentadas com tijolo daquele povoamento depois de ter chegado por terra. Lideranças políticas e comunitárias da região não contiveram as emoções. Tinha churrasco pelo trajeto e muita alegria dos moradores.
O trajeto visto pelo mapa / Localização do município de Porto Walter dentro do mapa do Acre
A caravana rompendo a selva rasgada pelas máquinas
O município de Porto Walter era um dos quatro municípios isolados do Acre, cujo acesso só se dar por água ou ar. Os outros três são Marechal Thaumaturgo, Jordão e Santa Rosa do Purus. Antiga aldeia dos índios Arara, Náuas, Amoaças, Kampas, Kulinas e Catianos, Porto Walter é explorada pelos ‘brancos’ por volta de 1910. Um ‘coronel’ de nome Absolon de Souza Moreira fixa residência na parte mais alta da região e passa a chamar aquela localidade de Vila Humaitá. Em 1916 ela assina uma carta de doação endereçada ao prefeito do então Departamento do Juruá, que inicia a construção de prédios públicos. Após sua emancipação política, em 1992, passou a se chamar Porto Walter
Petrônio fez o trajeto dirigindo um jipe do Deracre / Petrônio Antunes levou na caravana o diretor presidente do Idaf, Chico Tum
Engenheira Florestal Leide Pereira, que fez o levantamento ambiental de todo o trajeto, fez o percurso outra vez, agora de carro / Chegada da caravana em Porto Walter
O diretor do Deracre, Petronio Antunes, com o gerente regional do Juruá, Mauri Barbosa, responsável direto pela obra
Mais de um século depois, os cerca de 12 mil moradores são agraciados com uma estrada, saindo em definitivo do isolamento. O processo de abertura da estrada precisou apenas de vontade política. O atual governo teve e, em obediência a legislação, processou o levantamento arqueológico e ambiental. Sem entraves, no início de 2022 as máquinas iniciaram os trabalhos, realizados por meio de uma parceria do governo do Estado com a prefeitura de Porto Walter, que custou aos cofres públicos R$ 1,6 milhão. Alguns trechos, como os 33km entre os rios Paraná dos Mouras e Juruá Mirim precisam ser rasgados do zero, em meio a mata nativa, ou mata bruta, como se diz no linguajar rural. Com o esforço de operários e a supervisão do Deracre, finalmente a estrada é concluída. A abertura se concentra no primeiro estágio, segundo Petronio Antunes, o diretor do Deracre que não fez falta na região nos últimos seis meses, empolgado com a missão lhe entregue pelo governador Gladson Cameli (PP), que havia prometido o feito. A via, ainda sem nome oficial, ganhou uma raspagem de tratores, mas ainda faltam fases para ficar trafegável de inverno a verão. “A ideia era romper o isolamento de século. Nosso governo conseguiu. Agora é seguir com os trabalhos”, disse ao AcreNews o diretor presidente do Deracre, amparado por sua equipe e por lideranças políticas e comunitárias locais.
Petrônio com o prefeito de Porto Walter, César Andrade (MDB)
A empolgação de quem mora em Porto Walter e de quem está no caminho
Vereadora Luciene e marido, que moram na comunidade Santa Rosa: a localidade deles vai ganhar com a estrada
A abertura de uma estrada entre Rodrigues Alves e Porto Walter, tirando esse último do isolamento, gerou uma explosão de emoções para quem mora na cidade e por um grupo de pessoas que mora no trajeto, em comunidades que também só tinham acesso por água. A vereadora de Rodrigues Alves, Luciene Mesquita (MDB), mora no povoado Santa Rosa, onde cerca de mais de 450 famílias vivem e que serão beneficiadas com a passagem da estrada. Para ela, o 5 de setembro precisa virar data comemorativa. Mais à frente, na comunidade Paraná dos Mouras, os moradores também registram o momento histórico. “Isso aqui não tem preço. A gente fica até sem palavras”, diz, empolgado, o vice-prefeito de Porto Walter, Guarsonio Melo (PSDB), que nasceu naquela região.
Guarsonio, o vice-prefeito de Porto Walter que nasceu no Paraná dos Mouras: sem palavras de tão emocionado
Depois de cruzar 33km de selva braba, nas margens do Rio Juruá Mirim, quem fazia a festa era alguém que morava isolado naquele lugar havia 33 anos, o Moacir Bezerra Correia. De tão empolgado com a entrada, aos 59 anos de idade, Moacir está decidido a montar um restaurante. Meus filhos estão todos criados, mas quero investir nesse projeto para melhorar minha situação e atender quem estiver passando por aqui”, diz ele.
Moacir Bezerra diz que vai fazer um restaurante na beira da estrada nova
Na cidade de Porto Walter, além da casta política, que se delicia com um evento raro realizado por meio de vontade política, moradores comuns também celebram o futuro. “Com mais gente vindo pra cá, por meio de estrada, estou com meu emprego garantido”, diz o garçom do principal restaurante da cidade, Rafael Antony, de 25 anos.
O garçom Rafael
Dono da casa de carne Estrela, se não a única, a maior da cidade se Porto Walter, o crítico Atenilton Correia Pinheiro, 63, elogia o feito, mesmo com suas ressalvas. “A gente sofre demais aqui pra chegar em Cruzeiro do Sul. São oito horas de viagem. A estrada cria possibilidades”, disse.
Arenilton, da casa de carnes
Passagem de balsa pelo Paraná dos Mouras