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GOSPEL

Médico e teólogo bocacrense escreve um dos textos mais curiosos sobre a morte

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Enfim, descansou!

Você já deve ter acompanhado a trajetória de sofrimento de um moribundo. Seja um paciente com doença crônica, síndrome debilitante ou diagnóstico de câncer, é fato que as dores e a falência progressiva dos órgãos são achados que causam comoção em parentes e amigos. O drama das múltiplas internações e de tratamentos malsucedidos vai machucando o doente ao ponto de lhe causar declínio do corpo e abatimento da alma. Muitas vezes o próprio médico ouve de alguns pacientes: “Doutor, deixe eu morrer! Eu não aguento mais tanto sofrimento!”. Por mais calejada que esteja a sensibilidade médica diante de pedido tão constrangedor, ainda assim a consciência médica se retrai em dó e compaixão, num senso de inadequação e impotência. Alguns pacientes logo se entregam enquanto outros lutam heroicamente, buscando sobreviver mais um ano, um mês ou um dia. O olhar vai ficando opaco, o corpo vai definhando, as forças se exaurem, mas o desejo de viver é intenso, manifesto em suspiros, busca de uma posição melhor, menos dolorosa e de submissão aos tratamentos mais agressivos, como cirurgias radicais, radioterapias, quimioterapias, dentre outros. Muitas vezes, estas medidas terapêuticas reabilitam a saúde do paciente, mas em boa parte dos casos, a falha terapêutica é um destino certo e os portais da morte clamam por ser adentrados. Em casos mais prolongados de sofrimento físico e mental, pode-se chegar a um ponto em que a própria família passa a desejar que o ente querido pare de sofrer e mesmo que a morte, tão nefasta e preterida, seja a solução para tal alívio, ainda assim passa a ser a única alternativa desejada. Quando, após anos, meses ou semanas de luta, o moribundo chega a óbito, então é comum ouvir-se a frase: “enfim, descansou”; “passou desta para uma melhor”; “o sofrimento acabou”; “agora, ele descansa em paz”.

Mas, você já parou para refletir sobre o peso de tais clichês?

Bem, de uma perspectiva meramente física e materialista, o corpo inerte de um cadáver, a ausência de movimentos respiratórios e o silêncio dos gritos lancinantes de dor geram a sensação de que a pessoa descansou. Eis o ponto de vista do naturalismo ateísta. É a filosofia do tipo: “morreu, acabou”, que apela para a ausência de sentido num prisma espiritual, numa realidade nua e crua onde bebês morrem de câncer, pessoas moralmente boas sofrem à míngua e homens maus são intocáveis. O problema do mal os faz negar Deus gerando a impossibilidade de uma vida além-túmulo. Neste caso, o “enfim, descansou” reflete a privação do sofrimento e o alívio gerado pela morte. Ao menos, por meio da inexistência, a pessoa nunca mais sofrerá.

Existem aqueles, todavia, que acreditam no aniquilacionismo. No Estado Eterno, os fiéis estarão com Deus para sempre e os injustos serão aniquilados, não mais existirão. Sendo assim, caso esta teoria esteja correta, a expressão “enfim, descansou” tem aplicação para justos e injustos, para todos. Dentre os aniquilacionistas, alguns creem na teoria do sono da alma, por meio da qual as pessoas que morrem ficam em estado inconsciente (como se estivessem dormindo ou descansando), sem nenhuma sensação de gozo ou dor. Somente no Juízo final é que “acordarão” e receberão sua sentença. Para tais pessoas, a ideia de condenação eterna é inadmissível.

Os reencarnacionistas creem que esta não é a única vida, mas que a pessoa pode voltar a existência em outro corpo e repetir este processo múltiplas vezes até que consiga evoluir o suficiente por meio de uma ética adequada, caridade e boas obras. A morte é apenas um estágio intermediário entre uma vida e outra e não determina definitivamente o destino da pessoa. É uma teoria atrativa por aparentemente resolver muitos aspectos do problema do mal, mas que pouco tem a nos apresentar no teste das cosmovisões.

Podemos pensar em uma última teoria, o Universalismo, uma proposta mais atraente e liberal. Trata-se da ideia de que ao final das eras todos serão salvos; o amor de Deus será superabundante em suas criaturas de maneira que mesmo os pecadores condenados ao inferno serão restaurados e resgatados. Como nos diz Rob Bell, no final the love wins.

Porém, na linguagem bíblica descanso não representa nem sono, tampouco ciclos de reencarnação, finitismo materialista ou salvação universal da humanidade. A ideia de descanso indica repouso das fadigas que o homem adquiriu após a queda. Lameque desejou que seu filho Noé trouxesse descanso à sua descendência e este descanso veio por meio da arca salvadora. Para a nação de Israel, o descanso era a representação do livramento do jugo egípcio e a concessão da terra prometida. Alcançaram-no, mas depois foram exilados por conta de seus pecados. A máxima representação do descanso, contudo, veio com Jesus Cristo, Senhor da criação e do Descanso (do sábado). Nenhum dos patriarcas ou profetas conseguiu dar o descanso necessário à alma humana: libertar o homem dos seus pecados. Jesus Cristo o conseguiu morrendo e ressuscitando, pagando o preço pelos nossos pecados e nos outorgando vida eterna. Quem crê no sacrifício feito pelo Nazareno do século I, passando a seguir seus ensinos, tem a vida eterna. Neste sentido, os que morrem em Cristo descansam e gozam as benesses da Eternidade, tal qual Lázaro no seio de Abraão e o ladrão que foi levado ao Paraíso após sua morte.

Muitos vivem pensando em aquisições de bens e fazem disto o seu tesouro; outros só pensam em desfrutar prazeres pois não acreditam que haja vida após a morte. Porém, o senso de culpa e de acusação da consciência gradualmente vai revelando até mesmo ao maior dos ateístas que há uma prestação de contas final a ser feita e ela não ocorrerá com juízes deste mundo, mas com o Supremo Juiz. Aqueles que crerem em Cristo, morrerão com a certeza de seu descanso eterno e entrarão no gozo do seu Senhor; aqueles que morrem sem crer em Cristo, após a morte sofrem tormentos no Hades e por fim serão lançados no Lago de Fogo e Enxofre, onde sofrerão eternamente. Para estes, não resta descanso algum.

Escrevo este texto não para causar intrigas, procurar polêmicas ou trazer ressentimentos, mas o faço para gerar reflexão à luz da Eternidade que está às portas. Não sabemos quando será o dia de nossa morte, mas, diante da Revelação Bíblica, a condenação eterna é uma realidade, por mais que não entendamos. O homem só estará em paz se descansar em Deus, ter sua alegria Nele e Servi-lo em fidelidade. Quando alguém faz isto e morre podemos afirmar categoricamente: “enfim, descansou”, mas e quanto a você?

Se hoje fosse o dia de sua morte, ao acordar do outro lado, teria descanso ou tormento? Receba a Cristo como Salvador e tenha descanso eterno!

Fares Camurça Furtado é médico e teólogo
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