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ESPORTE

Motoradio, figurinhas, Copa de 1978 e campinho do Maracutaia

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Quando você nasce com o sangue de cronista esportivo tudo conspira de forma favorável. Lembro-me que, em 1977, a minha saudosa mãe, então uma servidora pública da escola estadual Natalino da Silveira Brito, localizada no bairro Estação Experimental, resolveu comprar um aparelho motoradio, de cor amarela, seis faixas (uma potência para aquela época). Eu, o caçula da família de cinco irmãos, muito curioso, passei a brincar de trocar as faixas do rádio, até me apaixonar pelas transmissões esportivas, muitas delas embaladas pela voz marcante dos narradores esportivos José Carlos Araújo e Osmar Santos.

A primeira grande transmissão que ficou guardada na minha mente foi a final do Campeonato Paulista de 1977. O duelo foi narrado na voz de Osmar Santos, o rei dos bordões do rádio brasileiro, enquanto o momento mágico daquela transmissão ocorreu quando o cronista narrou o gol do corintiano Basílio na decisão do Paulistão/1977 diante da Ponte Preta, num estádio com quase 150 mil presentes, com vitória do Timão por 1 a 0.

Um ano depois, ou quase isso, ocorreu a Copa do Mundo da Argentina-1978. Eu, uma criança já apaixonada pelo futebol, não contava ainda no meu lar com um aparelho de televisão. Porém, isso não chegou a ser um grande problema, pois minha vizinha Dora (irmã do cronista esportivo M. Costa) deixava o seu aparelho de televisão ligado para eu acompanhar as partidas da janela da casa da minha mãe, apesar da maioria dos jogos daquele mundial eu ter assistido no confortável sofá da sala da casa dos meus padrinhos de “fogueiras” juninas (Valdir e Marlene, hoje vivendo em Boa Vista-RR). Lembro-me, ainda, que, naquela época, eu já tinha o hábito de colecionar figurinhas. Fui colecionador assíduo das gravuras do “Futebol Card”, produto esse que trazia imagens de centenas de jogadores do futebol brasileiro das décadas de 1970/1980 (o card apresentava a ficha técnica do atleta e outras curiosidades) e, para atrair ainda mais os apaixonados pelo futebol, o produto disponibilizava em seus pacotes algumas barrinhas de chicletes.

O certo é que, essa minha paixão desde cedo pelo futebol, foram elementos que me ensinaram muito, principalmente no requisito histórico de nossos clubes e atletas. Lembro-me que, com oito anos de idade, eu já era, modestamente, uma referência entre os mais próximos, quando o assunto era analisar os adversários do Brasil na Copa do Mundo da Argentina de 1978 ou algo sobre o futebol tupiniquim.

E essa toda minha paixão pelo futebol ganhou ainda mais motivação quando surgiu pertinho da minha residência o campinho de terra batida chamado pelos seus “artistas” de “Maracutaia” (o campo foi construído no finalzinho dos anos de 1970, no espaço físico da Fundação do Bem Estar Social do Acre  – Funbesa). Foi neste espaço que, não somente eu, mas centenas de garotos, apreenderam a arte de praticar o bom futebol (isso, no meu caso, mais pelo fato da minha persistência de atravessar, quase diariamente, a rua da casa minha mãe para, posteriormente, adentrar o estádio “Wembley” da minha infância.

Vasquinhos – campeão infantil da Funbesa -1984. Em pé da esquerda para a direita: Zequinha (presidente), Grande, Gil, Carlos, César Limão e Musfata (técnico). Agachados: Jonas, Nabor Sales, Reginaldo, Manoel Façanha e Augusto. Foto/Acervo Pessoal Manoel Façanha

Lembro-me, ainda, que as partidas disputadas naquele campinho de terra batida ganhavam ares de glamorosidade quando eram narradas de um alto falante, na voz do inconfundível e saudoso padeiro Osmar Correa, o Galvão Bueno da minha infância. Outro episódio interessante foi o fato de o padeiro/narrador ser um dos responsáveis em lançar o hoje conhecidíssimo jornalista Roberto Vaz (ac24horas.com) na área de locução esportiva. Lembro-me, ainda, que o local da transmissão era uma cabine de madeira improvisada a pouco mais de quatro metros de altura de uma seringueira que ficava à beira do campo de terra batida do “Maracutaia”.

E, para aqueles que jamais pisaram no animado terreiro do Maracutaia (até o anjo das pernas tortas Garrincha colocou seus dois pés no recinto durante uma agenda para LBA, no Acre, em 1979) ou ouviram falar desse lendário campo de terra batida, só tenho a dizer que foi neste espaço físico que ocorreram grandes competições do futebol amador durante a década de 1980, isso sem falar do surgimento de inúmeros craques para o nosso futebol: Antônio Júlio, Sabino, Rei Artur, César Limão, Zito, Magide, Waltinho, Delcir, entre outros.

Farinha – 1979. Em pé, da esquerda para a direita: Preto (in memoriam), Garrincha, José Alício e Delcir. Agachados: Jacaré, Gobeia e Afrânio. Foto/Acervo Pessoal de Afrânio Moura.

 

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