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Na ENTREVISTA DE DOMINGO, um bate papo sobre o sindicalismo no Acre com o líder de um dos maiores sindicatos, o dos urbanitarios

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Jorge Natal, especial para o Acrenews

Há quase 42 anos, um grupo de trabalhadores fundou o Sindicato dos Urbanitários do Acre. Com as mudanças no mundo, a entidade cresceu em número de filiados e de empresas representadas. Mas a combatividade nunca foi amenizada, independente dos governos que se sucederam nas últimas décadas.

Porém, nos últimos anos, teve que amargar um declínio quase generalizado da classe sindical. Alguns fatores podem justificar essa situação adversa, se não vejamos: as constantes crises econômicas e fiscais das nações, as mudanças das forças produtivas e das relações de trabalho, a globalização e o neoliberalismo.

No caso do Brasil, adicione ainda a chegada ao poder dos partidos de esquerda (tragou quadros do movimento), o fim do imposto sindical e a reforma trabalhista que oficializou o trabalho intermitente, a terceirização para atividades fins e a pejotização. Isso foi agravado pela formação de um novo proletariado advindo dos serviços oferecidos pelas plataformas digitais.

No Acre, o comandado sindical, liderado pelos trabalhadores em Educação e Saúde, chegou a encampar processos de impeachment contra governadores. Além da união e das greves, as entidades defendiam que os serviços essenciais fossem de qualidade, que a reforma agrária fosse efetivada, que a distribuição de renda fosse uma realidade e faziam protestos contra impostos abusivos, entre tantas outras lutas.

Para falar disso e de outros assuntos, a reportagem foi até a sede do último remanescente de um sindicalismo autêntico, o Sindicato dos Urbanitários, e conversou com o seu representante, Mauro Bezerra, de 46 anos. Recém-empossado para o próximo quadriênio, ele falou sobre a história da categoria, das lutas e das conquistas, bem como de pautas novas como a regularização dos serviços de uberização e a proposta para pôr fim à jornada de 6×1. Veja os principais trechos da entrevista:

AcreNews – Como estão sendo esses primeiros meses da sua gestão?

Mauro Bezerra – Somos uma equipe e temos uma extensa folha de serviços prestados a esta categoria. Substituir o Jucá no cargo de presidente não é fácil. Mas ele está nesta nova direção. Em outras duas gestões, também já fui diretor. É um desafio enorme comandar um sindicato com o prestígio do nosso. O nosso lema é organizar, lutar e vencer. Isso é desde a fundação em 1983. Somos uma gestão séria, comprometida e transparente.

AcreNews – Qual é o balanço que o senhor faz desses mais de 40 da entidade?

Mauro Bezerra – Esse tempo é marcado principalmente por conquistas. A nossa atuação não se restringe às causas da nossa classe. A gente ajuda outros sindicatos e defendemos assuntos de interesses da sociedade como um todo. Vou te dar um exemplo: num governo foi proposto subir de 17 para 25% a taxação de ICMS na tarifa de energia. Fizemos mobilizações e pressionamos os deputados, que infelizmente aprovaram aquele nefasto projeto. E pegamos porradas da polícia. Também puxamos movimentos de combate à corrupção, em favor dos excluídos e por um transporte público de qualidade. A gente visa o bem-estar coletivo.

AcreNews – Nestes novos tempos, quais são os principais desafios?

Mauro Bezerra – A comunicação é um deles. Os patrões e a direita estão manuseando e manipulando as informações com muita rapidez. Precisamos nos comunicar melhor e resgatar a consciência de classe dos trabalhadores. Hoje, infelizmente, uma parte considerável dos trabalhadores estão uberizados. Ele tem os meios de produção, ou seja, tudo que é disponibilizado é dele. Tem uma jornada de trabalho de mais de 14 horas diárias, inexistindo direitos trabalhistas e previdenciários. E muitos deles acham que isso é vantagem. Ainda tem a pejotização, aquela história de que todo mundo pode ter uma empresa.


AcreNews – Vocês receberam informações de que trabalhadores do Saerb estariam expostos a perigos. Aproveite para falar sobre saúde e segurança no trabalho.

Mauro Bezerra – Uma das nossas missões é fiscalizar as empresas no que diz respeito à saúde e segurança do trabalhador. Estamos atentos e exigimos todas as formas de proteção que a lei determina. Quanto ao Saerb, temos duas categorias: o servidor efetivo e os trabalhadores contratados. Estes estavam exercendo as suas funções expostos a perigos. Denunciamos o caso na imprensa, encaminhamos ofícios e fizemos a denúncia no Ministério Público do Trabalho. Saúde e segurança dos nossos trabalhadores é e sempre será uma prioridade.

AcreNews – Qual é a posição de vocês no tocante à jornada de trabalho 6X1?

Mauro Bezerra – Isso tira do trabalhador o direito de passar tempo com sua família, de cuidar de si, de se divertir, de procurar outro emprego ou até mesmo se qualificar para um emprego melhor. A escala 6×1 é uma prisão e é incompatível com a dignidade do trabalhador. As centrais sindicais, há décadas, já se posicionaram sobre isso. A proposta é a redução de 44 para 40 horas semanais. Outra proposta paliativa é a 5X2, ou seja, a extinção do trabalho aos sábados. E, se tiver que trabalhar nesses dias, que o trabalhador seja remunerado extraordinariamente.

AcreNews – E a reforma trabalhista aprovada em 2017?

Mauro Bezerra – A reforma trabalhista gerou vários prejuízos, entre eles: desemprego, informalidade, concentração de renda, fragilização das entidades trabalhistas, redução de direitos, fim da contribuição sindical, aumento da jornada de trabalho e desigualdade no mercado de trabalho. A promessa da flexibilização era aumentar os empregos e desenvolver o País, inclusive houve financiamentos. A reforma trabalhista só trouxe desgraças para o trabalhador, pasmem, com a simpatia dele.

AcreNews – O que aconteceu com os representantes sindicais?

Mauro Bezerra – Acredito eu que uma parte dos sindicatos foi dominada por pessoas despreparadas. Estas, com interesses particulares, estão à frente dessas entidades, outrora autênticas e combatentes. As maiores entidades do nosso Estado fogem à luta. Tem presidente de sindicato que se diz de direita, contrariando a lógica da luta de classe.

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