GERAL
“Nazaré Besouro”, uma das primeiras cruzeirenses a negociar com o mercado peruano e a sofisticar a culinária do Juruá
Por Eré Hidson
A empresária Maria Nazaré Lima Washing, conhecida em todo o Vale do Juruá como Nazaré Besouro, epíteto que recebeu devido a uma encenação teatral ainda criança, nos tempos das Pastorinhas, movimento cultural e religioso da época, é nosso destaque de Cruzeiro do Sul.
Flha de Osmã D’albuquerque Lima, funcionário público, e Margarida Farias Lima, a Joia, dona de casa, casou-se com Miguel Arnesto Washing, renomado Chef de Cozinha. Com ele foi mãe de Vladmir Ramon Farias Lima, funcionário público e, como o pai, renomado Chef de cozinha; Miguel Antônio Lima Washing, médico; Raquel Gabriela Lima Washing, médica.
Nazaré Besouro nasceu em 15 outubro de 1954, em Cruzeiro do Sul, na época, Território Federal do Acre.
Morou na infância com o deputado Edson Simões Cadaxo e dona Lily, a quem considera como seus pais. Tem em relação aos filhos deles, Edilson, Joiceli, Joicelene e o Cadaxinho (in memorian) o sentimento de irmãos. Eles retribuem o carinho e a chamam carinhosamente de “Pitola” ou “Pitolinha”.
“Tudo que eu aprendi na vida, como cozinhar, arrumar casa e me preparar pra vida, foi com a madrinha Lily, esposa do governador Cadaxo”, diz, agradecida.
De doméstica a lavadeira, a umas das pioneiras empreendedoras, a fazer transações comerciais com o Peru, cuja cidade mais próxima de Cruzeiro é Pucallpa, começou a trabalhar com a Minerva, dona de um restaurante mais requintado na época, no hotel Savone, e ajudava na lida doméstica, limpeza da casa dos pilotos da empresa de aviação, Cruzeiro.
Em tempo, conheceu a amiga Wilse Guedes, que a convidou para conhecer o Peru.
Na volta desta viagem, começou a fazer viagem por conta própria.
“Eu levava calçados, roupas de banho, Nescafé, sabonetes Febbo para negociar com eles e tudo começou assim. Na volta, trazia mercadorias, sobretudo frutas e legumes, que na época eram produtos mais difíceis de serem ofertados pelos donos de supermercados, devido ao isolamento histórico que a nossa região do Juruá sempre enfrentou”, destaca.
Teve parceria comercial nessa atividade com os empresários Abraão Cândido da Silva, do grupo Big-Bran, além da boa relação comerical com o empresário Zinho Santos, do Armazém Santos, e outros.
“Eu fretava um avião modelo Cesna, vínhamos somente, o piloto e eu! Nunca trouxe outro passageiro, pois não pegaria bem eu ficar revistando a bagagem dos outros. Tinha semana que eu fazia dois a três vôos, trazendo repolho, tomate, alho, cebola de cabeça, batata inglesa, uva, maçã, e assim tudo começou. Depois de muito tempo conheci o Miguel Arnesto Washing, o Tino, com quem me casei e logo em seguida engravidei, tendo que parar as viagens para o Peru”, conta.
Ela lembra que estava morando no mesmo lugar onde é hoje o Hotel Samaúma, e o Tino, seu marido, trabalhava de frentista no posto de gasolina Fluvial, do Chiquinho Cameli (in memorian), seu compadre. “Quando ele chegou e disse que ia montar um restaurante, eu não sabia que ele sabia cozinhar. O pai dele tinha cinco restaurantes no Peru, mas eu não sabia. Aí fomos começando devagarinho, aos poucos, e foi uma surpresa pra mim, mas, com muito esforço e muito suor, deu certo”, lembra.
Foram perto de 40 anos com o Restaurante Samaúma funcionando. “Recebemos vários clientes e amigos. Destaca o governador Jorge Viana, que em seus oito anos de governo, foram utilizando o Hotel Samaúma e Restaurante Samaúma. Tenho maior consideração e gratidão ao Jorge Viana. Ele me ajudou muito. Não me deu nada de mão-beijada, mas valorizou o nosso trabalho. Também tiveram os quatro anos do governador Binho Marques, a quem eu agradeço muito, pois era uma ótima pessoa”, historia.
Católica praticante, Nazaré Besouro cultua sua fé de público. “Rezo todos os dias, peço a Deus pela vida do Jorge Viana, que foi no governo dele que começou o Fundo Aval”, informa.
Destaca os amigos que fez na vida, como pessoas importantes para o seu crescimento como ser humano, entre estes Norma Rosas,
Cleide do Benvindo,
Joiceli Cadaxo, essas, moram em Rio Branco, e nem sempre estão juntas fisicamente, mas, mentalmente e no coração.
Ainda destaca a amizade com outro amigo em Rio Branco, o Coutinho, que já candidato a prefeito de Mancio Lima, atualmente mexe com transportadora.
Destaca também a amizade com Cely Queiroz Cameli, Viúva do empresário Chiquinho Cameli. Ele era um homem muito generoso. Gostava de fazer caridade, segundo ela.
Com a amiga Celinha Lima, a quem a considera uma filha, e tantos outros amigos como João Tota, Maria das Vitórias,
Doutor Rair, o Mano,
Dadau, empresário.
O marido da Nazaré, Miguel Arnesto Washing, o Tino, que concedeu a outra metade da entrevista, chegou em Cruzeiro do Sul em 1982, vindo de Lima, Peru, com apenas 20 anos de idade, filho de pais Chineses. Morou e cresceu em uma colonia Chinesa, no Peru. Conta fatos históricos dessa atividade comercial com o Peru, tendo chegado a ir por meio da floresta amazônica até Pucallpa, pelo rio Juruá Mirim.
Destaca a pobreza que viu na comunidade Paciência e as crianças com fome, e eles levavam latas de conservas-bovina, para comer em meio a floresta, mas fizeram doações para as crianças.
“Não tinha nada plantado, nem agricultora de subsistência, porque esse povo foi acostumado com o patrão da borracha, da casa aviadora que lhes davam tudo na boca em troca da borracha, e a agricultura ficou de lado”, conta.
Foi a época que quebrou a borracha, e era muita pobreza lá.
Destaca que passava de três a quatro dias no meio da floresta, parte iam de canoa, parte a pé.
Levavam entre três pessoas, em várias viagens, pra poder atravessar os calçados para o lado Peruano, até 16 mil pares de sapatos.
Destaca que em uma de suas viagens por meio da floresta, trouxe motosserra do Peru, e dar um exemplo em uma aula de matemática. “A gente comprava no Peru por 25 mil. Em Cruzeiro custava 75 mil, eu vendia por 50 mil, ainda dobrava meu lucro”, revela.
Uma caixa de uisque com 12 garrafas, ele vendia uma no Brasil, as outras 11 eram lucro.
Ainda tinham os dentes postiços de serra circular, na época que a atividade de exploração madeira era muito forte, comprava uma caixa com 100 dentes por 250 reais no Peru e vendia no Brasil por 1000 dólares.
Mas isso, eram outros tempos, tempos que se podia fazer esse tipo de aventura, pontua.
Andar a pé nunca foi um problema para o Miguel Arnesto, andava todos os dias 12 km a pé pra ir ao trabalho, 6 de ida e 6 de volta.
São marcas que registram o sucesso que tiveram e tem na vida.
Muito obstinado e destemido, Miguel Arnesto montou o talvez primeiro restaurante de alto padrão em Cruzeiro do Sul, colocando a mão-na-massa literalmente, inclusive quebrou concreto para a construção do Restaurante Samaúma.
Mudou o hábito do paladar alimentar em Cruzeiro do Sul, incrementando a culinária chinesa adaptada no Peru, em Cruzeiro do Sul.
Em quase 40 anos nessa atividade, recebeu inúmeros famosos e celebridades e políticos importantes.
Destaca a Miss Nicarágua, Bianca Jagg, que foi esposa do astro e líder dos Rolling Stones, Mick Jagg.
Destaca ainda a simplicidade do Cantor e compositor José Augusto e também do cantor e compositor Sérgio Reis.
Frank Aguiar e também Vanderlei Andrade em seus anos de glória.
“Eu estava na cozinha, quando o Frank Aguiar invadiu a cozinha. Quem é o cozinheiro aqui? Sou eu! Ele disse; quero um filé mal passado e um oleoso. Não se preocupe, amigo, vou fazer. Quando ele terminou de comer, entrou novamente na cozinha, me abraçou, eu soado, e ele já arrumado pra ir ao show”, lembra.
Destaca ainda uma comida que fez ao ex-governador do Amazonas, Amazonino Mendes (in memorian) a pedido do governador Orleir Messias Cameli (in memorian).
Um prato exótico, que 20 anos depois, já na fase do Hotel Samaúma, Amazonino ficou hospedado no hotel, e por curiosidade, relatou esse episódio, e perguntou quem teria feito aquela comida.
“Nunca comi uma comida tão maravilhosa daquela”, diz.
“Pois fui eu quem fiz, Governador. Ele me abraçou e agradeceu”, diz.
Também destaca a amizade e parceria com o governador Jorge Viana.
“O Jorge Viana foi um amigo e governador maravilhoso, nos ajudou muito com trabalho”
Destaca um faro inusitado que aconteceu com o governador Jorge Viana. Foi tudo de improviso Um dia de segunda-feira, veio um Brigadeiro para um evento sobre a pista do aeroporto. Ele me abordou: – Tino, tem como fazer a comida? Sim. E a cerveja? Eu disse: governador, eu estou sem dinheiro. Então, ele saiu catando o dinheiro dos assessores secretários e até dos ajudantes de ordem.
Mandou o então chefe da Casa Civil, o Cacá, ir comprar as cervejas, quando ele chegou com as cervejas, o próprio Jorge Viana tirou das caixas e colocou no gelo”, afirma.
São passagens interessantes que a esposa e então primeira-dama, Dolores Nieto, ficou servindo sorvete como sobremesa e o ajudante de ordem foi ser garçom.
Também teve muitos momentos com o governador Orleir Cameli, o Barão do Juruá.
“Muitas vezes, o restaurante lotado, o casal Orleir e Beatriz Cameli, ficam aguardando mesas. Eles vinham com muita frequência, nos ajudaram muito. São pessoas que eu não posso jamais, me esquecer”, conta, saudoso.
Orleir Cameli
Beatriz Cameli
João Tota
Maria das Vitórias
Jorge Viana
Binho Marques
Dadau
Dr Rair(Mano)
Abraão Cândido da Silva
Lalau
“Se eu esqueci alguém, peço desculpas. Mas, eu sou uma muito grata a quem me ajudou”, concluiu Miguel.