SAÚDE
Neuropsicóloga Simone Lavorato detalha sintomas, tratamentos e impactos do Alzheimer na vida das pessoas e de familiares
Cerca de 2 milhões de pessoas vivem com alguma forma de demência no Brasil e o número pode triplicar até 2050. O Alzheimer é uma delas. A doença, mais comum em pessoas acima de 65 anos, é causada pela morte de células cerebrais e provoca a perda de funções cognitivas, como memória, linguagem, planejamento e habilidade visuais-espaciais.
O Alzheimer não tem cura, mas o tratamento medicamentoso combinado com outras técnicas ajuda a amenizar o impacto dos sintomas, que costumam aparecer alguns anos antes do diagnóstico. Em entrevista ao portal Brasil 61, a neuropsicóloga Simone Lavorato explica quais os principais sintomas, formas de tratamento, além de trazer mais detalhes sobre a doença.
Brasil 61: Como ocorre o desenvolvimento de uma demência?
SL: Existem diversos fatores que podem levar o sujeito à demência. Algumas são doenças neurodegenerativas, lesões vasculares, deficiências nutricionais, alguma infecção muito grave. Então, existe aí um conjunto de fatores que podem levar à demência. A demência é, na verdade, um grupo de sintomas que vão diminuindo a capacidade da pessoa de julgamento, de adaptação a situações sociais. Afeta a memória, afeta também a rotina diária da pessoa e muitas vezes a pessoa com demência não tem condições de fazer as atividades de vida diária. Ou seja, ela precisa de um suporte, precisa de uma ajuda. Ela perde a independência de viver plenamente sozinha.
Brasil 61: O que é o Alzheimer e como ele afeta a pessoa diagnosticada?
SL: O Alzheimer é um distúrbio cerebral irreversível, ou seja, uma vez instaurado, ele vai progressivamente piorando. Ele afeta muito a memória, habilidade de pensamento, por isso que muitas vezes ele é até confundido com a demência. Então, às vezes tem uma confusão aí entre separar o que é Alzheimer e o que é demência. Essa questão do Alzheimer ainda não tem uma causa específica determinada. Acredita-se muito na questão genética, mas muitos estudos ainda estão surgindo e vêm trazendo novidades acerca da real origem do Alzheimer.
Brasil 61: Por que a doença é mais comum em idosos?
SL: O Alzheimer é muito comum no idoso justamente porque o avanço da idade é um fator de risco determinante para o desenvolvimento da doença. Apesar de termos muitos casos prematuros de pessoas com menos de 60 anos e que já estão sendo diagnosticadas com Alzheimer.
Brasil 61: Existem formas de se prevenir contra o Alzheimer?
SL: Como ainda é um grande desafio para os pesquisadores entender as questões de origem e como pode ser prevenido o Alzheimer a gente tem algumas recomendações no sentido de colocar o cérebro para funcionar; fazer atividades que exijam que continue com o funcionamento cerebral ativo; um estilo de vida mais saudável; atividade física, porque está ligada diretamente com a questão da liberação hormonal. Então são alguns conselhos, mas que a gente ainda não consegue saber exatamente o que fazer para prevenir.
Brasil 61: Quais os sintomas mais frequentes em pessoas com Alzheimer?
SL: Podemos dizer que o Alzheimer traz falta de memória. A pessoa perde a memória de forma muito marcante, desorientação, falta de concentração, muitas vezes alteração de linguagem. E também ela passa, às vezes, a não conseguir fazer um julgamento adequado de certas situações e até mesmo se posicionar frente às questões diárias, de rotina, que ela não consegue mais administrar. A gente pode citar, por exemplo, questões financeiras, jurídicas, até mesmo de higiene pessoal. A pessoa passa a ter um comprometimento e não consegue mais desenvolver isso de forma independente.
Brasil 61: O Alzheimer não tem cura, mas existem tratamentos que podem retardar os efeitos da doença. Gostaria que a senhora falasse um pouco sobre isso.
SL: Quanto ao tratamento, é essencial que a gente faça uma combinação de tratamento medicamentoso e de terapia. Seja ela a terapia psicológica, seja ocupacional, ou seja, é uma associação para ter realmente um tratamento efetivo.
Brasil 61: Qual o impacto da doença na vida dos familiares?
SL: Quando temos um membro da família adoecido com Alzheimer ou outra demência, a gente costuma dizer que toda a família adoece. Então toda a família precisa também de um tratamento, de um acompanhamento psicológico. Porque é muito difícil ver aquela pessoa que sempre foi ativa, um membro da família e de repente ele vai perdendo autonomia ao passar do tempo. Isso é muito traumático para qualquer família. Por isso que eu sempre digo que onde a gente tem um idoso adoecido ou cometido de Alzheimer ou demência, a gente tem também uma família adoecida.
Fonte: Brasil 61