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No Acre, artesão reproduz barcos que navegam pela Amazônia em miniatura
Por Bárbara Mattana / nautica.com.br
Carlos Alberto é carioca, mas morador de um outro Rio — o Rio Branco, capital do Acre. Desde criança, ele sabia de sua vocação para artesão. Acabou se tornando topógrafo, mas a profissão — que, aparentemente, nada tem a ver com arte — o levou para o caminho que ele via para si lá atrás. Atualmente, o “acriano carioca” produz barcos em miniatura, sob escala, idênticos às grandes embarcações que navegam pela Amazônia.
Essa história começou através, justamente, de outra criança: Felipe, filho de Carlos. Em 2008, quando Felipe tinha 10 anos, Carlos o levou para o porto onde (à época) era gerente, em Porto Velho, Rondônia. O que ele não esperava é que o menino se apaixonaria pelos barcos que lá viu, e nesse mesmo dia, surgiria sua primeira encomenda como artesão de barcos em miniatura.
A pedido de Felipe, Carlos construiu o barco que abriu as portas para todos os outros que ainda viriam. Segundo ele mesmo contou à reportagem de NÁUTICA, “ficou longe de ser perfeito, mas encantou as pessoas que por lá passavam”.
A partir daí, a topografia passou a ajudar Carlos de uma maneira diferente: a construir barcos em escala, ou seja, com dimensões iguais às originais, mas em formato miniatura.
Da planta ao projeto final: tudo passa por Carlos
Para que os barcos em miniatura sejam versões idênticas aos modelos originais, Carlos se baseia na planta original da própria embarcação, com o apoio de fotos que ele mesmo tira. Nos casos em que o cliente não possui a planta do barco, a experiência como topógrafo ajuda o artesão a medir toda a embarcação real e, assim, produzir uma planta.
Com todos os dados em mãos, chega a vez de fazer o pedido dos componentes eletrônicos que vão constituir a miniatura, que começa a ser produzida de baixo para cima no ateliê de Carlos. De acordo com ele, seu local de trabalho é “simples, mas bem funcional”.
Sua principal matéria-prima é o compensado de 4mm, presente em grande parte dos 30 barcos de 25 modelos diferentes já produzidos por ele. Outros materiais bastante utilizados pelo artesão são o alumínio, plástico, madeira acetato e massa rápida, entre outros.
Se engana, porém, quem pensa que as miniaturas são feitas apenas para ficarem paradinhas em cima de algum móvel.
Em média, um modelo leva de 20 a 45 dias para ficar pronto e, na última etapa do processo, quando as embarcações já estão praticamente prontas, elas passam por testes na água!
Para o artesão, inclusive, detalhes como esse são parte essencial de seus trabalhos. Por isso, iluminação, pequenos objetos, atenção às cores e a atenção minuciosa às medidas estão sempre presentes nas obras de Carlos.
Você pode ter caprichado em tudo, mas se não tiver detalhes (pequenos e sutis), fica sem vida– comenta o artesão. “Tem gente que paga para fazer terapia, eu recebo”
A frase acima, dita pelo próprio Carlos, está no coração daquilo que o destino escolheu para que fosse sua profissão. Apesar de ver o seu trabalho como “receber para fazer o que gosta”, o artesão reconhece que “nem tudo são flores”, afinal, assim é para quem escolhe viver de arte.
“O reconhecimento não chega rápido e nem fácil. É como rapadura: é doce, mas não é mole”, afirma Carlos.
Apesar disso, no caso de Carlos, há muitos motivos para comemorar. Suas obras já foram expostas no Expoacre, uma das maiores feiras de agronegócio do país. Seu trabalho também já saiu do Acre, passando pelos estados de Rondônia e Amazonas.
Um dos clientes mais fiéis do artesão é Gladson Cameli, atual governador do Acre, que expõe em seu escritório as obras de Carlos.
Apesar da produção das miniaturas, Carlos nunca teve um barco
Com toda sua trajetória na produção de embarcações em miniatura, é fácil imaginar que Carlos seja dono de algum barco. Mas, não é o caso. Ele conta que nem mesmo na família há histórico de proprietários de barcos.
Uma embarcação de verdade, em dimensões normais, parece ainda distante das vontades do artesão. Mas, no caso das miniaturas, ele não só sabe como seria o seu barco ideal, como já está construindo um. Trata-se do Manoel Fonseca, que, segundo ele, “uns chamam de recreio e outros de navio”.
O modelo em questão foi construído pelo próprio Manoel Fonseca — tido por muitos como um dos lendários construtores de embarcações da região amazônica –, pelo seu irmão Zeca Fonseca e seu filho, Édson Fonseca. Para Carlos, a construção do barco (que deve ficar pronto em 2 meses) é uma forma de homenageá-lo. Eu costumo dizer que a diferença de um brinquedo de criança para um de adulto é o preço”, finaliza.