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O AcreNews conta a história do “Zé Braga”, o mais antigo jornaleiro do Acre

Publicado

em

Evandro Cordeiro

Ao desembarcar em Rio Branco no ano de 1970, o então ex-cortador de seringa José Braga dos Santos, com apenas 20 anos, passou pelo menos uns dois meses pensando no que fazer na capital do Acre para sobreviver e, se possível, se dar bem. Ele tinha acabado de chegar juntamente com mais 12 irmãos e os pais, vindos da colocação Floresta, seringal São Pedro do Icó, localizado as margens do rio Iaco, dois dias de viagem de Sena Madureira, por embarcação, subindo rumo à fronteira do Brasil com o Peru.

A capital assustou o “Zé Braga” ou “Zé Batista”, como é conhecido o vendedor de jornal mais antigo do Acre, um dos pioneiros dentre os históricos jornaleiros que tivemos, inclusive o Jibiri e o Pelé. Em 1970, Rio Branco era uma metrópole, pelo menos em relação ao lugar de onde ele vinha, mesmo numa comparação com o barracão do seringal São Pedro do Icó, aquele tempo muito movimentado nos finais de semana. “A gente se assustou um pouco. Chegar do seringal direto para a capital foi um choque, mas logo nos acostumamos”, conta ele ao AcreNews. Braguinha tratou de montar uma banca para vender doces e, na esteira, veio a ideia de vender jornais. Foi o maior acerto de sua vida. Nos anos 1970, mas principalmente na década seguinte, vender jornal era uma atividade lucrativa. Aliás, muito lucrativa.

Foi na venda dos principais jornais de Rio Branco que o Braguinha ganhou a vida. Aos 71 anos, é um homem bem tranquilo financeiramente. Com grana da banca criou um casal de filhos e adquiriu bens. Muitos bens, rigor, para quem veio do seringal sem muita expectativa. Além de carros bons, casas e até sítios, formam o patrimônio da família. Tudo abiscoitado com a venda dos Diários, entre eles Varadouro, Folha do Acre, Gazeta do Acre, A Gazeta e O Rio Branco, além de outros mais recentes, como Página 20 e A Tribuna.

Para vender jornais bem cedo nas bancas o Braguinha criou uma rotina inédita. Acordava às 3 da manhã e ia para as oficinas dos jornais, “disputar” com outros vendedores, alguns avulsos, as tiragens do dia. “Zé” chegou a levar para as bancas até 3 mil exemplares. “Quando tinha notícia bombástica quase não dava tempo de amanhecer o dia. Vendia tudo”, conta ele. No dia da morte do ambientalista Chico Mendes, em 22 de dezembro de 1988, por exemplo, o jornal O Rio Branco chegou a fazer duas tiragens e ele vendeu todos os exemplares. “Não vendemos mais porque não tinha”, lembra.

A banca do “Zé Braga” é localizada até hoje, desde os anos 1970, na esquina da Epaminondas Jácome com a Marechal Deodoro, em frente ao histórico Tecidos Cuiabá. Foi o endereço mais procurado nos últimos 40 anos, até a extinção dos jornais impressos. “Aqui vinha do delgado ao juiz. Toda a sociedade comprava jornal comigo”, diz. A rigor, o fim da notícia imprensa em papel dividiu a era na história do mundo. Muita mão de obra foi dispensada e isso gerou um baque na vida do Braga. Nos últimos anos, admite ele, tem se tornado por um bom tempo um homem triste. Não pelo lado financeiro, mas pelo saudosismo. “A internet fez isso com a gente”, reclama, com os olhos lacrimejando. “Com relação ao dinheiro não é problema. Seu pai (Osmar Cordeiro, que foi muitos anos chefe das oficinas do jornal O Rio Branco) sabe que cheguei a comprar carro zero vendendo jornais. Adquiri muitos outros bens e criei minha família. Então não é dinheiro, mas aquele clima legal que dá saudade até hoje. As pessoas futricando os jornais na banca. Aquilo era uma coisa que agradava, mesmo o cara não comprando o jornal”, diz.

Prédio onde funcionou o extinto Banacre, na esquina da Epaminondas Jácome com a Marechal Deodoro; nessa época a “Banca do Braguinha” já fazia sucesso. Foto: Américo de Mello.

“Zé Batista” não vende mais jornal, óbvio, mas continua o dia todo sentado em um banco de madeira cuidando de sua banca, vendendo bombons. Sobrevive do negócio e de uma aposentadoria. “Mas a saudade é grande do tempo que a gente acordava cedo para ir buscar o jornal lá nas oficinas dos jornais”, relembra em tom mais saudosista do que nunca.

DE ONDE VEM A PROFISSÃO DE JORNALEIRO

Em 30 de setembro é celebrado o dia de um dos mais importantes profissionais do mercado.

A informação, nos dias de hoje, é um bem indispensável. É através dela que norteamos nossas vidas, que sabemos o que acontece em mundos distantes do nosso. A informação, além de tudo, nos oferece entretenimento.

E não é só aos envolvidos na mídia que devemos agradecer pelo fato da informação chegar até nossa casa. Devemos agradecer a milhares de profissionais que trabalham na distribuição dessa informação.

No dia 30 de setembro, os jornaleiros são lembrados, pois esse é seu dia. Crê-se que os negros escravos foram os primeiros jornaleiros e saíam gritando pelas ruas as principais manchetes estampadas nas primeiras páginas do jornal A Atualidade (primeiro jornal a ser vendido avulso, no ano de 1858).

Das ruas, os jornaleiros, principalmente de origem italiana, evoluíram para caixotes e depois para bancas de madeira. Quem primeiro montou um ponto fixo foi Carmine Labanca, um imigrante italiano, na cidade do Rio de Janeiro. O sobrenome do imigrante se associou ao nome dos pontos-de-venda (“banca”).

A regulamentação das bancas veio com o então prefeito da cidade de São Paulo, Jânio Quadros, em 1954, por conta do paisagismo da cidade. O prefeito entendeu que as bancas de madeira não combinavam com o aspecto progressista da cidade. O político concedeu licenças para novos modelos, o que veio a gerar um grande avanço na organização do espaço.

A trajetória dos jornaleiros é marcada de árduo trabalho e de grandes recompensas. A explosão de um brilho nos olhos das crianças ao comprarem gibis e o pensamento crítico de um intelectual só pode ser formado porque a banca estava disponível. Pela importância de permitir que impressos cheguem às pessoas, pela luta e outros fatos.

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