O fato do ser humano nascer potencialmente capacitado é tema da coluna desta quinta-feira, 14, do professor Raimundo Ferreira

PENSAR E CRIAR SOBRE AMEAÇAS

Mesmo sem aprofundar no conceito filosófico que explica a capacidade do ser humano de raciocinar, compreender, julgar e agir de acordo com a razão — observando preceitos de lógica, ética e moral —, vale lembrar que a corrente do racionalismo enfatiza a importância da razão na busca do conhecimento. Segundo ela, somente por meio do método racional é possível compreender a realidade.

Ou seja, o ser humano nasce potencialmente capacitado. Não traz esse conhecimento pronto, mas tem a possibilidade e a capacidade de adquiri-lo através do aprendizado: das teorias, técnicas, habilidades e de todo o vasto conjunto de saberes que as relações humanas e a ciência podem oferecer.

Faço esse preâmbulo, aparentemente deslocado, para despertar nas pessoas comuns a consciência sobre a capacidade infinita que o ser humano possui. Mesmo com o avanço contínuo da ciência e da tecnologia — que hoje armazena, em gigantescas bases de dados, informações sobre praticamente todas as áreas do conhecimento, prontas para serem combinadas, comparadas e devolvidas como respostas rápidas e completas — o ser humano não deve se sentir diminuído, descartado ou inútil.

Sim, combinações de imensas massas de dados podem produzir respostas mais precisas e completas do que o que cabe na memória de um cérebro humano. Mas emoção, sensibilidade, criatividade, a produção de arte e cultura — tudo isso continuará sendo prerrogativa da mente humana, capaz de criar de forma única e incansável.

No entanto, tenho observado nas redes sociais uma enxurrada de propagandas exaltando as façanhas da inteligência artificial (IA), muitas vezes vendendo a ideia de “dinheiro fácil”. Uma, em especial, me chamou a atenção: uma moça dizia — com entusiasmo — que publicou seu livro em poucos cliques. Segundo ela, bastou enviar uma ideia, trocar algumas mensagens e a IA escreveu e publicou a obra, com pouco mais de cem páginas, exatamente como ela queria, com todos os detalhes, personalizada com seu nome como autora, e agora disponível para venda na Amazon.

Achei incrível pela tecnologia — mas inquietante pelo simbolismo. Ao ver isso, não pude deixar de pensar: será esse o prenúncio do fim da criatividade e da ação humana como ser pensante e criativo?