RAIMUNDO FERREIRA
O sábio e o tolo é o tema da coluna deste sábado, 13, do professor Raimundo Ferreira de Souza
O SÁBIO E O TOLO
Raimundo Ferreira
Mesmo sem a pretensão de debater com maior profundidade as deduções e afirmações apresentadas pelo grande filósofo Immanuel Kant, uma de suas frases mais conhecidas chamou nossa atenção, e gostaríamos de compartilhar uma pequena análise que buscamos desenvolver. Segundo Kant: “o sábio pode mudar de ideia; o tolo, nunca.”
Para início de conversa, o sábio não só pode, como deve mudar de ideia. Afinal, além de não deter toda a sabedoria do universo, o mundo manifestado é dual, e a evolução em todos os setores da vida é dinâmica. O sábio, como eterno aprendiz e amante da sabedoria, deve ter como principal característica a humildade. Assim, deve sempre se posicionar afirmando que, diante das circunstâncias e condições apresentadas no momento, seu diagnóstico é aquele; no entanto, novos estudos e análises poderão apresentar amanhã um novo contexto. Com o caminhar de novas reflexões, novas versões surgirão, e, dessa forma, para se alcançar — se não a verdade plena — ao menos uma maior proximidade dela, muitas análises e ajustes sobre a realidade também precisarão evoluir.
Já o tolo dificilmente buscará a essência da verdade. Qualquer opinião que emite será sempre fundamentada no fanatismo; sua visão nunca será fruto de observação ou análise da realidade, mas sim de um olhar dogmático. Mesmo diante de uma simples pergunta — por exemplo: “Qual é a melhor padaria da cidade?” — ele prontamente responderá um nome qualquer. Ou seja, suas respostas jamais se baseiam na análise da realidade, mas exclusivamente na preferência do próprio gosto. Para o tolo, refletir e analisar dá muito trabalho, e ele não aprendeu — nem quer aprender — essa prática. Assim, torna-se mais cômodo repetir e impor suas preferências pessoais.
Por outro lado, o sábio vive da análise e se alimenta da reflexão, da mesma forma que o corpo humano ingere alimento para sobreviver. Sua luta constante é tentar se aproximar da verdade verdadeira.
Quanto à aquisição de conhecimento e à formação da consciência, a filosofia afirma que tais qualidades não se consolidam apenas pela leitura de livros, mesmo que sejam os melhores. Ler é importante, mas pode nada transformar se o conteúdo não for entendido e utilizado como guia ou mapa. É preciso interpretar as ideias e relacioná-las com a realidade. Do contrário, a leitura servirá apenas para decorar frases e conceitos desconectados, sem utilidade para orientar alguém, interpretar o mundo ou responder questões concretas. Memorizar informações até os papagaios fazem — e essa prática se assemelha muito à própria inteligência artificial. Nós, seres humanos, dotados da capacidade de raciocinar, analisar e refletir, devemos fazer a diferença.
Assim sendo, aconselha-se que nossos posicionamentos estejam sempre alicerçados nos valores da bondade, fraternidade e solidariedade. Somente internalizando esses valores e analisando a realidade por meio da tese, antítese e síntese, seremos capazes de nos posicionar de modo humanizado, sem impor preferências pessoais, e com clareza para responder aos questionamentos que nos forem apresentados.
Já o tolo será sempre inflexível: seus posicionamentos e pontos de vista serão dogmáticos; acreditará que sua visão é a verdadeira e dificilmente terá disposição para mudar de ideia. Afinal, para ele, abandonar uma opinião que considerava consolidada pode representar uma ameaça à própria identidade. Assim, o tolo e seus posicionamentos tendem a envelhecer e a se desintegrar juntos, dentro do mesmo pacote.


