RAIMUNDO FERREIRA
Para o professor Raimundo Ferreira, em sua coluna deste domingo, o tecnicismo atual está desconecto de outras áreas do saber
TECNICISMO
Na nossa visão, dentro dos limites que nos é permitido observar, avaliar e formular algumas hipóteses, o sistema de formação — e, de certo modo, de educação — que hoje qualifica profissionalmente as pessoas desta geração para enfrentar a vida, no mínimo, peca por omissão. O tecnicismo vigente, com raras exceções, tem especializado indivíduos para executar, inclusive, tarefas complexas. Contudo, falta-lhes uma conexão efetiva com outras áreas do saber, especialmente com as correlatas, e também com a própria realidade social e cultural em que atuam.
O que se observa, portanto, é que muitos desses profissionais trabalham como se estivessem isolados, apartados de conhecimentos adjacentes que poderiam contribuir de maneira decisiva para o aperfeiçoamento de suas práticas técnicas.
Recentemente, em uma conversa informal com um desses profissionais especializados, atuante no setor da saúde, ficamos surpresos diante do desconhecimento — ou mesmo ignorância — em relação a questões simples, mas diretamente relacionadas à sua área de atuação. Apesar disso, em sua prática cotidiana, esse profissional atende, prescreve medicamentos e orienta pacientes, sem perceber as lacunas que comprometem a qualidade de sua atuação.
Nosso objetivo não é apontar falhas individuais, mas chamar a atenção para o problema estrutural: o afunilamento cada vez maior da formação profissional, que restringe a amplitude de conhecimentos e compromete a necessária conexão entre áreas afins. No momento em que mais se exige interdisciplinaridade, integração e visão de conjunto, o sistema educacional parece contribuir para o contrário: o isolamento e a fragmentação do saber, empobrecendo tanto a prática profissional quanto a compreensão mais ampla da realidade à nossa volta.