Durante uma palestra dedicada ao Dia de Campo das Agrárias, a professora e pesquisadora Bruna Laurindo Rosa defendeu a importância de um planejamento estratégico para enfrentar a seca, um período crítico que impacta diretamente na produtividade e nas condições dos pastos. Com experiência em nutrição animal, Bruna abordou aspectos práticos e a importância de considerar as especificidades de cada propriedade para maximizar resultados, independentemente dos recursos financeiros disponíveis.
Ao explicar ao Portal Acre Mais o efeito da seca no rebanho, a pesquisadora enfatizou a necessidade de estratégias de alimentação que contemplem as particularidades dos bovinos, que dependem de forragem. “É essencial pensar em reservas de forragem, seja na forma de silagem, feno ou até mesmo capineira para plantio e colheita, fornecendo aos animais o necessário durante esse período crítico”, orientou Bruna. Para propriedades que enfrentam limitações financeiras, ela recomenda a suplementação de rações fareladas e sal mineral, adaptando a dieta de acordo com a realidade de cada produtor, visto que “cada caso é um caso”.
A pesquisadora destacou também o valor de um controle zootécnico organizado para que o pecuarista saiba onde estão os pontos de desperdício e onde pode melhorar a aplicação de recursos. “É importante que o produtor saiba onde está, para definir metas realistas para o futuro. Um planejamento cuidadoso evita a falsa economia, que no fim acaba prejudicando o desempenho e aumentando custos a longo prazo”, ponderou Bruna.
Em muitos casos, os produtores, ao deixarem de oferecer uma dieta balanceada, acabam economizando de forma momentânea, mas esse descuido pesa no orçamento mais tarde.
Além dos desafios da seca, a pesquisadora também destacou o impacto das chuvas excessivas, que podem levar ao desperdício de alimentos, especialmente quando o manejo não contempla estruturas cobertas para proteger o alimento. “Um cocho coberto, por exemplo, pode parecer um investimento inicial alto, mas é uma medida que evita desperdício e gera economia no longo prazo”, afirmou. Segundo ela, essa atenção ao controle evita perdas e possibilita um uso mais eficaz dos recursos.
Desafios e características da pecuária acreana
Com uma pecuária voltada quase que exclusivamente para a produção de carne, o Acre se diferencia por ter um gado altamente especializado. Aproximadamente 90% do rebanho é destinado à pecuária de corte, fazendo do estado um dos três ou quatro com maior especialização nesse setor no Brasil. Essa particularidade torna a gestão forrageira e a adequação ao clima ainda mais cruciais para os pecuaristas locais.
Bruna Laurindo destacou que, enquanto outras regiões do país enfrentam variações de temperatura ao longo do ano, no Acre, o calor constante devido à proximidade com a linha do Equador é uma realidade. No entanto, a seca, um fenômeno regular e previsível, representa o maior desafio. “Saber que a seca virá todos os anos é uma máxima na pecuária. A planta, sem água, não se desenvolve. Por isso, é vital o planejamento forrageiro e o uso consciente dos recursos, pensando em longo prazo”, reforçou.
Para os pecuaristas, planejar financeiramente durante o período das “vacas gordas” — as épocas de maior disponibilidade hídrica — é essencial para enfrentar a seca com menor impacto. “Pensar na pecuária como uma atividade de médio e longo prazo muda a percepção sobre custos e investimentos. O que hoje parece custo, no futuro pode representar um retorno positivo e seguro”, concluiu a professora.