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Pitter Lucena relembra vida e obra do irrequieto poeta e jornalista Chico Pop, “figura lendária”

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CHICO POP: O POETA DA CULTURA

Nas esquinas da memória, onde o tempo e a inspiração dançam em harmonia, vive a figura lendária do jornalista cultural Chico Pop. Francisco Ventura de Menezes, cujo nome evoca tanto a reverência à cultura acreana quanto a energia pulsante da juventude, deixou uma marca indelével na cena cultural do Acre. Mais que um simples jornalista, ele foi o catalisador de uma revolução artística que ecoa até os dias atuais.
Lembro-me de conhecer Chico Pop em 1988, na redação do jornal O Rio Branco. Era impossível não perceber sua aura efervescente e seu olhar curioso voltado para as manifestações culturais tanto locais quanto nacionais. Pop era mais do que um jornalista; ele era um visionário que entendia profundamente o papel transformador da cultura na sociedade. Para ele, a cultura era muito mais que entretenimento; era uma ferramenta de mudança, um meio de dar voz e alma a uma comunidade em constante evolução.
Nos corredores da redação do jornal O Rio Branco, ele não era apenas um espectador, mas um embaixador ardente da criatividade que fervilhava em sua terra natal. Com uma perspicácia avançada, ele anteviu o poder transformador da cultura e a defendeu com devoção inabalável.
O jovem Chico, outrora destinado às vestes eclesiásticas, abriu mão da batina, dos cânticos sacros e dos crucifixos para lançar-se em meio à efervescência cultural de uma Rio Branco ainda puritana e provinciana. As letras eram suas novas preces, e o papel, seu altar. A edição do jornal “O Pop” seria o início da trajetória de um homem que logo seria conhecido como Chico Pop.
A imprensa acreana ainda engatinhava, e Chico Pop encontrou nesse cenário o terreno fértil para plantar suas sementes culturais. No jornal “O Rio Branco,” fundado em 1969 pelos Diários Associados de Assis Chateaubriand, ele depositou suas palavras sagradas, abrindo janelas para música, literatura, cinema e fotografia. Seus escritos eram como pinceladas em um quadro em branco, revelando a cultura pop global entrelaçada com as tradições acreanas.
Além das páginas impressas, a voz de Chico Pop ecoava pelos éteres das Rádios Difusora e Andirá, cativando ouvintes com programas de música que transitavam por gêneros variados. Ele também era figura carimbada no Cineclube Aquiry e nos eventos da cidade, promovendo festivais, bailes e festas que regavam a sede cultural dos que o cercavam.
Chico Pop não era meramente um observador passivo; ele era uma sinfonia ambulante de entusiasmo. Seus passos eram marcados por uma boemia vibrante que o levava aos cantos mais efervescentes da cidade. Era nos bares da velha boemia de Rio Branco que ele encontrava seu habitat natural, rodeado por amigos e admiradores, cada um deles capturado pela aura cativante do jornalista cultural mais bem admirado e querido da região.
Seu pseudônimo, Chico Pop, não era mera casualidade. Era uma afirmação de sua missão: tornar a cultura popular acessível a todos, como uma explosão de sabor e cor. Suas palavras ecoaram através de sua coluna em jornais locais, onde ele se destacou como um dos pioneiros do jornalismo cultural no Acre. Com destemor, ele explorou os reinos da música, poesia, teatro e cinema, costurando a rica tapeçaria da cultura acreana.
Chico Pop transcendeu os limites das palavras impressas. Ele era uma antena que captava as pulsações da sociedade, transmitindo-as para todos os que estavam sintonizados em sua frequência. Ele não se limitou a relatar os eventos culturais; ele se tornou parte deles. Era um ativista cultural incansável, um arauto da diversidade, um defensor da autenticidade. E, como as sementes que ele plantou germinaram, ele se tornou um dos fundadores do Festival Acreano de Música Popular (FAMP), um testemunho tangível de seu compromisso duradouro.
O Acre não era apenas seu lar geográfico; era seu mundo, sua paleta de cores. Ele pintou as páginas dos jornais com os tons vibrantes do Woodstock, a ousadia do underground e as melodias dos seringais. Em tempos de embates entre fazendeiros e movimentos sociais, Chico Pop não hesitou em ser a voz que clamava por mudança, através da música, cinema e teatro.
A essência de Chico Pop persiste nas marcas que ele deixou, nas vidas que ele tocou e nas expressões que ele elevou. Sua influência transcendeu o tempo, permeando as décadas de 1970 e 1980, moldando a narrativa cultural de Rio Branco. Seu legado floresce no Festival Chico Pop, uma celebração da vitalidade que ele sempre acreditou.
Sua estatura física de 1,60 metros era uma contradição a sua grandeza cultural. Chico Pop provou que o verdadeiro tamanho de um indivíduo reside em sua paixão, dedicação e impacto. Era um gigante da cultura, um Golias quando o assunto era arte, música, literatura e todas as formas de expressão que moldam a identidade de uma região.
Francisco Ventura de Menezes, o Chico Pop, não foi simplesmente um jornalista cultural. Ele foi um construtor de pontes entre a criatividade e a audiência, um arquiteto de mudanças através da arte. Sua memória continua viva, inspirando gerações a abraçar a cultura com paixão, a questionar com ousadia e a dançar ao ritmo das próprias batidas do coração.
Em 61 anos de vida, Chico deixou sua marca indelével. Ao partir, legou coleções de gravuras, jornais envelhecidos, recortes de publicações diversas e discos – uma herança que celebra o jornalismo cultural em sua pluralidade. Nas lembranças dos amigos e familiares, ele permaneceu como o fã audacioso de Charles Chaplin, alguém que vestia a fantasia da vida e dançava com ela.
Seu quarto tornou-se um relicário da história cultural do Acre, um testemunho de que é possível amalgamar diversos conceitos culturais em uma única narrativa. Chico Pop dançou entre as páginas dos jornais, entre as ondas radiofônicas e as vozes dos boêmios. Sua missão foi cumprida, e agora é nossa responsabilidade perpetuar o legado desse homem que desbravou a cultura em cada linha escrita, em cada palavra entoada, em cada passo de dança.

Pitter Lucena é jornalista, escritor e editor-literário

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