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Presidente da COP 28 diz que ‘não há ciência’ por trás de demanda por redução de combustíveis fósseis, segundo jornal britânico
O sultão Al Jaber, presidente da COP28, disse que “não há ciência” comprovando a necessidade de se reduzir progressivamente o uso de combustíveis fósseis para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. O caso foi revelado pelo o jornal britânico The Guardian.
A declaração de Al Jaber contradiz o consenso científico. Isso porque a própria ONU, que promove a COP28, diz que o uso de combustíveis fósseis é o principal causador do aquecimento do planeta.
Desde a era pré-industrial, a queima de combustíveis fósseis, como petróleo, gás natural e carvão, já provocou um aumento de 1,25ºC na temperatura média da terra.
Para manter o aquecimento do planeta em 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais é necessário reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa pela metade até 2030 [48%] e até 99% até 2050, segundo cálculos do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.
O aumento da temperatura está associado ao aumento do nível do mar, ao aumento da frequência e intensidade de eventos extremos e ao desequilíbrio de ecossistemas.
Mas para Al Jaber, eliminar o uso de combustíveis fósseis, ainda que progressivamente, não permitiria o desenvolvimento sustentável “a menos que se queira levar o mundo de volta às cavernas”.
“Não há nenhuma ciência por aí, ou nenhum cenário por aí, que diga que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é o que vai atingir [a meta de restringir o aquecimento global a] 1,5º C”, disse.
Desde que Al Jaber foi escolhido para presidir a COP28, ativistas ambientais têm apontado o conflito de interesses, porque o sultão também é chefe da empresa petrolífera estatal dos EAU, a Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc).
As declarações dele aconteceram durante um evento online, em 21 de novembro, em resposta às perguntas de Mary Robinson, ex-enviada especial da ONU para mudanças climáticas.
Durante o evento, Robinson disse que o mundo está em uma crise que prejudica mais as mulheres e as crianças e que isso acontece porque ainda não há comprometimento com a eliminação progressiva de combustíveis fósseis. “Essa é a única decisão que a COP28 pode tomar e, de muitas maneiras, porque você é o chefe da Adnoc, você poderia realmente tomá-la com mais credibilidade.”
Al Jaber rebateu dizendo que esperava ter uma conversa “sóbria e madura” na reunião e disse não estar aderindo ao que chamou de “discussão alarmista”.
Importância da COP
A COP 28 é 28ª conferência do clima da ONU, um evento que reúne governos do mundo inteiro, diplomatas, cientistas, membros da sociedade civil e diversas entidades privadas com o objetivo de debater e buscar soluções para a crise climática causada pelo homem. A conferência vem sendo realizada anualmente desde 1995 (exceto em 2020, por causa da pandemia) pelos países que concordaram com um pacto ambiental da ONU no início da década de 1990.
O tratado, chamado de Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), tem como principal objetivo estabilizar a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e, assim, combater a ameaça humana ao sistema climático da Terra, cada vez mais evidente nos últimos meses. Esse ano, por exemplo, pela 1ª vez, o mundo registrou um dia com temperatura média global 2°C acima da era pré-industrial.
Aliado a isso, segundo o observatório europeu Copernicus, o mês de outubro de 2023, foi o mais quente já registrado em nível mundial, com uma temperatura média do ar à superfície de 15,3°C, o que representa 0,85°C acima da média de outubro de 1991 a 2020 e 0,4°C acima do outubro mais quente anterior, em 2019.
A rápida mudança climática que estamos vendo agora é causada pelo uso humano de petróleo, gás e carvão para casas, fábricas e transporte. Quando esses combustíveis fósseis queimam, eles liberam gases de efeito estufa — principalmente dióxido de carbono (CO2). Esses gases retêm o calor do Sol e fazem com que a temperatura do planeta aumente.