ARTIGO
Professor Aldo Tavares escreve, indignado, “Quando o rio Acre alaga a injustiça”, artigo delicioso
ANDO O RIO ACRE ALAGA A INJUSTIÇA SOCIAL
Aldo Tavares (https://www.facebook.com/aldotavares.nascimento.5/)
professor-mestre em Filosofia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Antes de chegar ao centro de Rio Branco, o rio Acre realiza uma acentuada curva no bairro Aeroporto Velho e, com o passar dos anos, a natureza imprime um ângulo maior na rua Terminal. Haverá um momento trágico quando casas serão destruídas pela força do barranco; porém, antes disso, a natureza, movendo-se silenciosa e lentamente, é paciente como o tempo para traçar novos caminhos.
Considero “natureza” uma tradução latina muito reduzida do grego “phýsis”, cujo significado é “o movimento vital”. Natureza é “o movimento vital”, o qual não é o mesmo do movimento de um objeto qualquer. Um dos maiores filósofos de todos os tempos publicou o belíssimo agenciamento-livro A evolução criadora, onde Henri Bergson pensa o conceito de “phýsis” de forma única; compreendê-lo tem o sentido, mais do que significado, de aprofundar o que é “o movimento vital”, sabendo que o Acre localiza-se na densa natureza, isto é, no denso movimento vital da floresta Amazônica, por exemplo, Brasileia, onde o rio Acre não apenas passa, mas envolve a cidade, ou seja, envolve sua civilização, marcada pelas igrejas, pelo comércio, pelos poderes, pelas diferenças de classes sociais, pelas injustiças, pela exploração do trabalho, pela política mentirosa.
O rio Acre não causa apenas enchente, ele decreta a Lei da Natureza, Lei que impõe a mais absoluta fraqueza dos ricos contra os mais pobres. Mais do que enchente, o rio Acre, com o passar dos anos, sepulta aos poucos os poderes político, Judiciário, comercial, ou seja, sepulta prédios que jamais promoveram a justiça entre os homens. No entanto, mesmo assim, quando a natureza malogra os que dominam a cidade, as contas bancárias dos ricos permanecem enxutas, quer dizer, permanecem secas por mais lucro, por mais desigualdade social.
Quando as águas retornarem às suas margens normais, políticos anormais continuarão às margens da verdade, patrões anormais se conservarão às margens da palavra do apóstolo Mateus, quando este diz, em A Parábola dos Trabalhadores na Vinha (Mt 20: 2-16), a injustiça contra o trabalhador, mas tais patrões anormais voltarão a frequentar as igrejas em nome de um Jesus que propaga a fé com arma em punho contra aqueles que lutam pela justiça do verdadeiro Jesus. As águas retornarão ao leito normal, as margens voltarão ao limite; a cidade de Brasileia, porém, não aprenderá com a Lei da Natureza e, por causa disso, políticos ficarão mais ricos, a Justiça ficará mais injusta, o comércio ficará mais profano, até o dia em que a Lei da Natureza, que é Lei Divina, fará justiça com as próprias águas, impondo, na região, o fim patrimonial dos ricos, repito, o fim na região, onde toda a arrogância de classe social morrerá afogada.