Professor e arquivista Raimundo Ferreira escreve sobre a curiosa “Resenha do filme”

RESENHA DO FILME

_ Raimundo Ferreira

Vamos inverter a ordem das coisas, ou seja, primeiro fazer as considerações, depois anunciar de que se trata os comentários. Conforme somos sabedores, atualmente convivemos em um mundo manifestado onde o SER perdeu o protagonismo e o que realmente está sendo considerado e respeitado é o TER, ou seja, os valores pessoais, compostos por bom caráter, integridade, conhecimento técnico, solidariedade, respeito, honestidade, entendimento sobre o mundo ao nosso redor e integração com as leis da natureza, nada disso conta e/ou tem muita importância diante dos status de vínculo estreito com a alta sociedade, exercício de altos cargos na esfera pública ou privada, altos salários garantidos, residências em bairros nobres, carros luxuosos e frequência regular em lugares chiques de alto patrão entre outros adereços e brilhos da moda.

Toda essa tendência, que de certo modo está ditando, ou melhor, influenciando no comportamento e atitude das pessoas na atualidade, foi perfeitamente colocada com muita inteligência e sabedoria no enredo de um filme, que para as pessoas menos avisadas e que não conseguem captar essa visão, podem até achar um dos filmes mais chatos e enfadonhos dos últimos tempos. O roteirista e diretor, contando com a colaboração de um ator extraordinário, além de mostrar com sabedoria e sutileza essa questão do ser e do ter, conseguiram explicitar com clareza e sem rodeios, o viés da humanização e que está às claras à nossa frente, mas a maioria, para não dizer a totalidade das pessoas, preferem enveredar por outros caminhos e se comportarem de maneira que os valores humanos de toda ordem, sejam substituídos pela ostentação.

Sem descrever maiores detalhes, apenas vamos evidenciar que nessa obra a história mostra o trabalho de um cidadão na função de zelador de banheiro público e apenas nessa atividade, a história demonstra os valores morais, as virtudes, o respeito ao semelhante, o bom humor e a fórmula de como deveríamos viver e conviver plenamente de maneira feliz e mantendo as boas relações humanas e a fórmula é simples, os ensinamentos são repassados através da dedicação plena desse cidadão ao trabalho, como se fosse uma atividade da mais alta importância e que na verdade é, porque todo trabalho é digno, mostrando a satisfação desse cidadão para com vida que leva, não só com o trabalho, mas também com as relações humanas e a própria alegria de viver, mostrando o respeito e a consideração que ele tem pela conservação e preservação da natureza, demonstrando a forma de vida pura e simples sem a preocupação de julgar as outras pessoas, demonstrando o desapego ao supérfluo, não o desapego que algumas pessoas tentam praticar fazendo um tipo largada e vivendo esfarrapadas, mas um desapego sem a necessidade das coisas que realmente não são necessárias para plenitude de uma vida digna e de boa convivência com os semelhantes, dessa forma esse filme passa uma lição de humanidade que vale a pena assistir e meditar sobre a reflexão repassada, quem interessar veja Dias Felizes.