Professor Raimundo Ferreira apela em artigo em função da maior seca da história: “SOS Rio Acre”

S.O.S. RIO ACRE
Conforme as imagens apresentadas até o momento, infelizmente, as aparências não vão nos enganar. Este fenômeno vem se agravando a cada ano e apesar da Amazônia possuir a maior reserva de água doce do planeta, mas ultimamente, na época da seca, esses canais fluviais em rede, constituídos por rios e igarapés, vem perdendo a capacidade de manter os níveis de água em condições, que até há pouco tempo permitia uma reserva mínima, onde as pequenas embarcações trafegavam, a fauna aquática mantinha-se em condições de esperar o período da época chuvosa, quando migravam em piracemas para as cabeceiras dos rios e igarapés, cumprindo o ritual natural do acasalamento e reprodução, e dessa forma a natureza se renovava e a vida seguia em frente. Nos últimos anos estamos presenciando as grandes secas, que afetam e eliminam quase que por completo a água desses mananciais, as embarcações, mesmo as de pequeno porte não conseguem navegar, os peixes morrem aos milhares de toneladas por conta da escassez de água e até as populações das cidades situadas às margens dos rios, sofrem pela carência do líquido precioso, uma vez que a capitação para o abastecimento é realizada no leito dos rios. No caso do Acre, os rios Caetê, Juruá, Tarauacá e o próprio rio Acre, que dá nome ao Estado, considerados os principais mananciais da região, estão com os níveis de água em situações críticas e considerando que, no mínimo ainda temos uns três meses antes que as chuvas comecem a mudar o cenário, provavelmente e conforme estamos acompanhando os acontecimentos, certamente podemos enfrentar uma das maiores secas até então registrada na região do Acre. As possíveis causas dessa tragédia, que pode se instalar na Amazônia e em especial no Estado do Acre, entre outras razões, tem os motivos fundamentados em alguns comportamentos e práticas que os próprios habitantes, as vezes até com anuência das autoridades constituídas, praticaram e ainda praticam, entre estes, a exploração comercial de areias retiradas com uso de drogas nos leitos dos rios, desmatamento sem controle das margens e contando ainda com ação desastrosa dos moradores que dispensam todo tipo de entulho na calha dos rios e não esquecendo também de enfatizar o descaso dos órgãos estaduais e nacionais, responsáveis pela manutenção e conservação do meio ambiente que permitem, e em muitos casos até canalizam os esgotos domésticos de forma in natura para os leitos desses mananciais. Diante de ações e atitudes descuidadas, conforme ocorreram no passado e ainda ocorrem, não poderíamos esperar que a natureza apresentasse outro cenário, que não fosse o resultado do mal uso e mal comportamento que fora executado pelo homem ao longo de toda ocupação e exploração dessa região.