RAIMUNDO FERREIRA
Professor Raimundo Ferreira atualiza a coluna nesta sábado, 10, com um assunto pitoresco, a sabedoria da antiguidade
SABEDORIA DA ANTIGUIDADE
Raimundo Ferreira de Souza
Fica difícil até imaginar como seria, e como estaria nossa geração, se os valores humanos — respeitados e fielmente cumpridos pelos povos da Antiguidade — tivessem ultrapassado os séculos e ainda estivessem presentes, não como palavras vazias, como vemos hoje, mas como regras vivas a serem cumpridas e respeitadas.
Quanto aos hábitos, costumes, religiões e influências culturais, talvez não exercessem tanta importância nos dias atuais; porém, no que diz respeito às orientações comportamentais, nossa geração certamente estaria em outro patamar, especialmente nas relações humanas.
Nas civilizações antigas — particularmente no Egito — tudo possuía um significado simbólico. Não apenas os monumentos, templos e moradias, mas qualquer edificação ou obra representava algo e tinha a finalidade de ensinar ou inspirar reflexão. Diante dessas criações, as pessoas eram levadas a pensar no sentido mais profundo que cada símbolo poderia expressar. Ainda hoje no Cairo, pode se ouvir a expressão de que todos temem o tempo, mas o tempo teme as pirâmides. Porque elas estão lá e parece serem eternas.
Com as palavras não era diferente. Elas também eram símbolos vivos e poderosos, cujos significados eram respeitados e seguidos com rigor por toda a população.
Existe, inclusive, uma antiga obra — resgatada a partir de papiros raros — que contém as regras de conduta conhecidas como as Máximas de Ptahhotep, o sábio e vizir que viveu até a quinta dinastia do Egito. São ensinamentos que ele pediu ao escriba que registrasse antes de sua morte, para que não se perdessem no tempo.
Essas máximas expressam valores humanos que, embora ainda sejam repetidos e considerados belos e importantes, hoje estão esvaziados de significado. A primeira delas, e talvez a mais essencial, é a Humildade. Ptahhotep ensinava que o ser humano deve sempre reconhecer-se como aprendiz, aberto ao diálogo com os sábios e também com os simples, evitando a arrogância e a pretensão de ser dono da verdade.
Em seguida, ele destaca a Justiça e a Liderança, afirmando que o governante deve ser exemplo de retidão, servindo ao bem coletivo, e não a interesses pessoais. Ressalta também o Amor e a Convivência, orientando que se banam o rumor, o rancor e o egoísmo, e que se cultivem a empatia e a compaixão. Por fim, exalta o Coração, como o centro da consciência e da essência humana.
Todas essas virtudes estavam alicerçadas em Maat, a deusa egípcia da verdade, da justiça e da ordem cósmica. Dentro desse vasto universo simbólico, Maat representava a Lei Universal da Ordem que sustenta o cosmos. Esses ordenamentos de Maat, serviam como diretrizes ou guias que, obrigatoriamente, as pessoas teriam obedecer e seguir. Podemos afirmar, que a Maat na civilização Egípcia, era respeitada igualmente o Karma na cultura indiana, que estabelece os modos de vida das pessoas de acordo com as leis da natureza.
Para aquele povo, ou se vivia segundo as diretrizes de Maat — da verdade, justiça, lei, ordem e bem comum —, ou se caía no caos (Isefet), símbolo do mal, da desordem e do sofrimento.