ARTIGO
Professor Raimundo Ferreira, da Ufac, escreve sobre o Rio Acre
O professor Raimundo Ferreira, bibliotecário da Universidade Federal do Acre, vai passar a colaborar com o site AcreNews com seus textos históricos sobre o cotidiano acreano. Mesmo morando fora, depois da aposentadoria, Ferreira não esquece as raízes. Estreia com um texto maravilhoso sobre o Rio Acre
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O RIO ACRE DE OUTRORA
Por Raimundo Ferreira
A essa altura dos acontecimentos, mesmo que recorremos à criativas descrições alegóricas retrospectivas, ou a qualquer contorcionismo retórico embasado nos conhecimentos filosóficos, históricos, ou mesmo científicos, para justificar e/ou explicar a situação apática que observamos na atualidade, nada vai projetar com o devido realismo, a simbologia e a importância que teve esse manancial para os acreanos. A verdade é que, a ambição, a falta de bom-senso, a ganância por poder e lucros fáceis, a ignorância, o egoísmo, ou ainda uma mistura de tudo isso entre outros ingredientes, proporcionaram essa condição de desprezo que observamos hoje, onde o ser humano e somente o ser humano, movido pelo instinto predatório, conseguiu proporcionar essa tragédia, ocupando os locais prejudiciais ao regime natural desse rio, desmatando indiscriminadamente as margens do rio, inclusive as nascentes de onde jorravam águas limpas e o que é mais grave, utilizando sem o menor respeito e consideração, esse bem da natureza e que é de importância única e exclusiva para manutenção e preservação do bioma acreano, para sobrevivência e subsistência da fauna, flora e do próprio ser humano, sem qualquer critério e respeito às leis naturais. Para quem não conheceu o que foi de fato e o que representou esse manancial para o Estado do Acre, não adianta nem tentar descrever com palavras rebuscadas, ou até poéticas, pois, jamais vão entender, valorizar e enxergar essa grandeza e importância. Hoje observarmos esse regato sem vida, de águas turvas, sem as condições mínimas necessárias e suficientes para se apresentar e ser considerado um rio da Amazônia propriamente, pois, em seu leito, que por esse época apresenta em média um metro de profundidade, não tem outra utilidade que não seja de carrear a sujeira fétida que é depositada na sua calha, tanto através dos afluentes, quanto pela ação direta dos ribeirinhos que habitam suas margens, especialmente o subproduto dos centros urbanizados, os esgotos não tratados. Essa corrente de água descaracterizada, desvitalizada e desprezada, já foi um rio exuberante e de importância fundamental para ocupação e desenvolvimento do Estado do Acre.