RAIMUNDO FERREIRA
Professor Raimundo Ferreira de Souza analisa, em sua coluna desta terça-feira, 9, a evolução dos limites do homem
EVOLUÇÃO E LIMITES
Raimundo Ferreira
Qual é o meu, qual é o seu, quais são os nossos limites?
Na verdade, são os impedimentos que impõem esses limites. No campo do fazer, mesmo que nos empenhemos e nos disponhamos a alcançar determinados objetivos, muitas coisas não conseguiremos realizar.
Por exemplo, do ponto de vista moral, não devemos ser desonestos nem nos apossar daquilo que não nos pertence. Até poderíamos fazê-lo, mas isso sacrificaria nossa reputação, ainda que exista o forte desejo.
Do ponto de vista da capacidade intelectual, mesmo com determinação, nossa inteligência também nos impõe barreiras. Dependendo da ambição, apenas uma quantidade muito reduzida de pessoas consegue alcançar avanços científicos de grande destaque.
No aspecto físico, constatamos que apenas alguns privilegiados atingem níveis de alta performance e rendimento.
Já sob o ponto de vista evolutivo e do aprendizado, no que se refere a valores e evolução humana, as pessoas podem alcançar níveis elevados de entendimento, capazes de decifrar as adversidades da vida com a visão de um sábio. Pico della Mirandola afirma, em sua obra Discurso sobre a dignidade do homem, que o ser humano pode evoluir intelectualmente a ponto de se aproximar, e até se misturar, à sabedoria divina.
No entanto, ao longo de toda a existência, faz-se necessária uma dedicação constante e contínua para atingir esse objetivo — não apenas no sentido do aprendizado e da contemplação, mas, sobretudo, no sentido de tornar-se e exercer o papel de um genuíno ser humano. Isso significa cultivar hábitos e costumes verdadeiramente humanos, pois os comportamentos alicerçados apenas nos instintos animais — sobrevivência e prazer na procriação — tendem a gerar involução e um automatismo que reduz a criatividade.
Talvez muitas pessoas estejam confiando excessivamente nos “milagres” da IA, que oferece respostas, soluções e até instruções práticas de execução. Mas a verdadeira evolução continua dependendo do esforço humano em desenvolver consciência, valores e sabedoria.