Professor Raimundo Ferreira escreve na coluna desta quinta, 6, sobre o boteco raiz em Rio Branco,citando o Bar do Gandola como ícone

BOTECO RAIZ

Raimundo Ferreira de Souza

Existe um tradicional e famoso boteco lá em Rio Branco, situado um pouco afastado do centro da cidade, Bairro da Conquista — daqueles ambientes típicos que nasceram boteco, continuam boteco e, provavelmente, seguirão assim por mais umas três gerações.

Seu proprietário, Edilson, é conhecido em toda a cidade pelo apelido que já se tornou seu próprio nome: Gandola. Todo mundo — desde o pessoal de uns quarenta anos atrás até a nova geração — conhece o Bar do Gandola.

Algumas mulheres casadas, inclusive, nutrem certa rejeição pelo lugar, talvez por acreditarem — com ou sem razão — que ali é o refúgio preferido de homens casados em busca de aventuras fora da relação oficial. Não saberia afirmar se isso procede, mas dizem as más línguas que há até um ditado popular sobre o assunto: “Xodó é igual chuva — muito bom pra dormir, mas ruim pra sair.” Ou seja, em caso de existir, é providencial que se mantenha em lugar discreto.

Voltando a esse ambiente sagrado e tradicional, o Bar do Gandola é um daqueles pontos de encontro que simplesmente não podem ser modernizados. Se passasse por reformas que alterassem sua aparência ou atraíssem um público diferente dos fregueses cativos, perderia o encanto, acabaria a magia, e toda a história construída ali se diluiria. Vale ressaltar que, nesse Bar do Gandola especificamente, sempre foi, continua sendo e certamente continuará a ser frequentado por autoridades do governo e do judiciário, policiais de todas as categorias e patentes, funcionários públicos, empresários, professores e pelo público riobranquense em geral de várias idades.

Lugares assim precisam ser preservados. Existem em várias cidades esses recantos cheios de alma, e todos devem ser mantidos com suas características originais. Afinal, há uma freguesia fiel para esses espaços sagrados — e nós, admiradores e amantes dos bons botecos, devemos lutar para que eles continuem existindo, carregando consigo a simplicidade, a cultura e o sabor das boas conversas.
Em “Jampa”, por exemplo, podemos citar o Bar da Cleia, outro verdadeiro boteco raiz.