Professor Raimundo Ferreira, nosso artículista, bebe na filosofia indiana para dissertar sobre a mente humana

A MENTE NO COMANDO

Sobre as questões da mente, especialmente no que se refere ao poder, muitas pessoas têm a ideia de que, por exemplo, alguém que possui a capacidade de fazer uma cadeira ou qualquer outro objeto levitar seria detentor de um grande poder mental. No entanto, do ponto de vista filosófico, essa pessoa pode apenas possuir algumas habilidades — talvez ligadas ao ilusionismo, entre outras — mas o verdadeiro poder da mente reside, de fato, na capacidade que ela tem de ser utilizada para criar, inventar, dirigir a própria vida e também ajudar outras pessoas da melhor forma possível.

Nilakantha Sri Ram, membro da Sociedade Teosófica e filósofo indiano — popularmente conhecido apenas como Sri Ram — defende a teoria da dualidade, a mesma que Platão já abordava na Grécia antiga. Ele afirma que o mundo é mental e dual por natureza, ou seja, tudo nasce na mente, é formalizado no mundo material, tem múltiplas funções e cria sombra.

Partindo desse simples pressuposto, podemos concluir que, se não pensarmos — ou melhor, se não criarmos ideias na mente — nada poderá surgir ou ser formalizado no mundo manifestado. E é nesse ponto que podemos conjecturar sobre uma das grandes crises da atualidade, presente em quase todos os segmentos da vida moderna. Pois, se as pessoas não estão se dedicando à prática do pensar, especialmente à formulação de ideias próprias, nada — ou quase nada — poderá ser criado e apresentado como produção genuína desta geração. E aquelas ideias que porventura surgirem tendem a ser fruto de pensamentos de grupos ou ideologias coletivas.

Vale salientar que tais práticas podem acarretar sérios riscos — não só o da desconexão com a realidade, como também o da estagnação do hábito criativo como destino possível. Por mais iluminadas que possam parecer, as mentes alheias devem ser observadas com discernimento. É importante compreender seus métodos, interpretá-los, fazer nossas próprias leituras, adaptá-los e, principalmente, criar a nossa própria versão. Afinal, essas mentes são oficinas particulares de trabalho que atendem exclusivamente aos interesses de seus respectivos donos.

Não queremos dizer com isso que as mentes iluminadas não possam servir como fonte de inspiração ou orientação. No entanto, os nossos objetivos e interesses precisam ser elaborados e desenvolvidos à luz de nossas próprias necessidades.

Nossa ênfase na importância de se ter ideias próprias, ajustadas aos nossos contextos e propósitos, advém exatamente desse entendimento sobre o que acreditamos ser mais útil e relevante para todos. Existe inclusive uma máxima sobre a mente, defendida por Cícero que: as mentes grandes falam de ideias; as mentes médias falam de eventos e as mentes pequenas falam de pessoas.