RAIMUNDO FERREIRA
Professor Raimundo Ferreira produz uma ode a mesa de bar, onde surgem as melhores propostas para mudar o mundo
MESA DE BAR
Raimundo Ferreira de Souza
Estava aqui matutando, sem ter muito o que fazer, quando me veio uma ideia zombeteira. Cochichou no meu ouvido e disse: vamos beber? Querendo eu ser difícil, respondi sem pestanejar que tinha mais o que fazer. Mas a ideia insistiu, falando do valor dos encontros e dos benefícios do lazer. Fiquei indeciso… e não aguentei a pressão: tive logo que me render. Afinal, quem se diverte enquanto pode, se livra de entristecer.
Boas amizades e boas conversas, além de serem antídotos contra a depressão, estreitam os laços afetivos e fazem bem ao coração. É verdade que talvez não tenhamos a solução para os problemas do mundo, nem consigamos resolver na prática as questões mais complexas, mas discutimos todas elas e sempre apresentamos uma boa resposta — pelo menos na teoria. Nada é tão complexo que não se possa opinar, nem tão delicado que não se possa falar. Toda temática é bem-vinda na tribuna da mesa de bar.
As inspirações afloram, as vozes ecoam na multidão, pessoas cantam sem inibição. Segredos são revelados e, até nas situações mais banais, pode surgir uma forte emoção. Nos ambientes noturnos, onde buscamos desestressar, pode até não haver nada para comemorar, mas as ideias aparecem, conduzindo as conversas e ditando o mote da noite.
Alguns podem se exaltar, atravessar os assuntos e se exceder na discussão, mas os fiéis amigos da noite costumam entender a situação. Muitas vezes, é justamente por esses momentos que conseguimos compreender de verdade, no íntimo de cada um, um pouco mais de sua personalidade.
No entanto, a mesa de bar deve ser sempre um espaço de plena liberdade, onde cada cidadão possa — e deva — sentir-se livre, jamais censurado, especialmente entre os amigos com quem se convive lado a lado.


