GERAL
Professora Gisalda, filha do primeiro jornalista de Cruzeiro do Sul, é outro nome importante do Juruá
Por Eré Hidson
Gisalda Mariano Coêlho Sampaio é filha de João Mariano Mariano da Silva, o primeiro jornalista de Cruzeiro do Sul, e de Adalgisa Maria Mariano Correia.
Nascida em 22 de junho de1932, Gisalda casou-se com Gutemberg de Araújo Sampaio, primeiro e único amor de sua vida.
Desse amor, nasceram os filhos Adalgisa Mariano Coelho Sampaio, chef de cozinha renomada; João Gutemberg Mariano Coêlho Sampaio, irmão Marista; Ulisses Mariano Coêlho Sampaio, gerente comercial; Antônio Carlos Mariano Coêlho Sampaio, padre, atualmente em São Paulo; Plácida Mariano Coêlho Cameli, professora e empresária; Ivanete Maria Melo De Lima, professora.
Eterna defensora da causa educação, Gisalda Mariano aprendeu ler, escrever e contar, com apenas quatro anos de idade, ensinada pelo pai, o ilustre jornalista João Mariano da Silva.
Começou a lecionar aos 14 anos de idade. Inclusive, a atual escola Governador Hugo Carneiro, em Cruzeiro do Sul, foi criada por Gisalda Mariano e pelo então governador do Território do Acre, Hugo Carneiro. O terreno para sua construção foi doado para fazer a escola por Gisalda Mariano.
Essa escola de ensino fundamental tem os melhores índices da educação pública em Cruzeiro do Sul, há anos.
“Meu pai me dizia: não adoece pra não deixar de ir a igreja, porque eu ia na igreja um dia sim e outro não. Tive uma vida infantojuvenil muito gostosa, muito boa de viver, e até hoje a minha vida é boa de se viver. Eu não me chamo de velha, eu não sou velha, eu sou idosa”, diz a professora, durante nossa educativa conversa.
“Tirando todas as dúvidas, todas provas, tudo que me perguntam, eu ainda sei responder”, destaca essa católica fervorosa e praticamente, que participou ativamente no que lhe cabia na construção da Catedral Nossa Senhora da Glória. Carregou tijolos, inclusive.
Foi amiga pessoal dos bispos Dom José Ascher; Dom Henrique Ruth, que dar nome ao maior colégio de ensino médio do Juruá; e também de Dom Luís.
Destaca que todos esses padres foi ela quem vestiu suas roupas funerais na hora de suas respectivas partidas, porque as freiras preferiam não ter esse tipo de acesso, segundo revela a professora Gisalda.
Lucida, a professora lembra que morava exatamente onde está a Escola Hugo Carneiro, quando Dom José Ascher mandou uma freira ir ao seu encontro que ele estava nos últimos momentos de vida, nas dependências do Instituto Santa Teresinha.
“Quando cheguei lá, ele, com muita dificuldade, me disse: Boa menina, cuide de mim, nos meus últimos momentos.
Coloquei a velinha na mão dele, me ajoelhei, rezei o terço, quando me levantei, ele suspirou para eternidade com o Pai Celestial. Cuidei de tudo até o seu sepultamento”, conta.
Depois veio a falecer Dom Henrique Ruth, mais recente, em 2007, um ‘santo’ protetor dos Hansenianos na região do Juruá, a missão que escolheu em vida. “Cuidei dele até os últimos suspiros”, conta, agradecida a Deus pela oportunidade.
Em relação a outro bispo, Dom Luís, ela revela que em seus últimos momentos as freiras faziam comida pra ele, e ele não queria. “Aí as freiras traziam ele pra cá, e a minha filha Nete fazia aquelas comidinhas gostosinhas, ele comia abeça. Ao término, as freiras diziam: Dom Luís, vamos? Ele respondia: Pra onde? Elas diziam: Pra casa. Ele respondia: A minha casa é aqui”, conta a professora Gisalda.
A nossa personalidade do Juruá historia, também, sua amizade com o ministro da Eucaristia, Alberto Brito, sepultado, também, na Catedral Nossa Senhora da Glória. “Foi uma honra bem merecida ao meu amigo/irmão, Alberto Brito”, considera.
Ativista e defensora da causa da Educação, professora Gisalda Mariano perdeu as contas de quantos alunos passaram em suas mãos, sob sua batuta. Ela sabe, no entanto, que muitos daqueles pequenos que aprenderam com ela em sala de aula se tornaram médicos, dentistas, enfermeiros, pilotos de avião, inúmeros professores, advogados, promotores e juízes.
Passagem interessante desse conjunto de formados pela professora Gisalda, ela conta que um aluno “traquina” todos os dias jogava areia na sopa dos demais alunos. “Um dia mandei ele ir pra casa. A mãe dele se achou no direito de ir dar queixa no Juíz. O magistrado escutou a conversa dela e no final deu a sentença: ‘Vá educar seu filho, porque hoje, eu estou educado e na função de juíz, graças a ela (professora Gisalda). O Juíz tinha sido meu aluno, era o Juíz Santana”, conta.
Também teve uma atuação efetiva na política. É afilhada do primeiro prefeito de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima. Conviveu com Guiomard Santos, Oscar Passos, José Augusto de Araújo, e tantos outros da época.
Também teve convivência com os donos de seringais. Margarida Pedreira; Edson Cadaxo, o ainda seringalista, antes de entrar na política; Maurício Quirino, da Casa Quirino, são alguns deles.
“Papai dizia: Minha filha, venha com o funcionário do Quirino, que me parece um rapaz muito sincero. Eu estava namorando ele”, lembra aos risos ao lembrar de seu saudoso esposo, Gutemberg, o Guti.
“Deu trabalho pra casar, porque ele bebia. Então eu estabeleci: se você deixar de beber, a gente casa. Foi meu primeiro e único amor”, conta, orgulhosa.
Ainda tem lembranças da ida a Mâncio Lima, nos engenhos de cana-de-açucar, no Barão, acompanhando o próprio coronel Mancio Lima.
Destaca ainda os filhos do coração, entre eles Maria José, que mora em Mancio Lima, uma sumidade. Gente de responsabilidade, que a mamãe adotiva ensinou.
Ainda tem o filho Crizildo, que é padre, e também é filho do coração.
Também tem o Jardesson, que atualmente mora em Eurinepé.
Ainda tem um na Alemanha chamado Cleonildo.
Deixa um legado incomensurável para a nossa sociedade enquanto formação de identidade histórica, para esta e as futuras gerações.
Deixa ainda uma mensagem de incentivo a juventude. “Se amem, façam tudo de bom na vida, não se esqueçam de Deus, e caminhem para a frente, e o resto Ele fará”, concluiu a professora Gisalda Mariano Coêlho.