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Crônicas, poemas, desenhos e observações

RAPOSA E ABUTRE

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Em sua coluna, na página dois, do finado jornal Página 20, o Antonio Stélio costumava apelidar seus desafetos, além de escrever verdadeiras barbaridades impublicáveis até aqui, na internet (Nem eu que tenho uma escrita um tanto quanto pouco ortodoxa, não tenho coragem de escrever como o doido do Teté. Deus me livre e guarde!), terreno totalmente livre pra tudo enquanto for porcaria, vitupérios e coisas desagradáveis que o humor humano possa gerar pela palavra escrita ou tagarelada.

Pois bem, o editor e dono do “Galinho bom de briga” não perdoava quem fosse contrário à sua linha de pensamento, podia até ser um parente próximo, uma amante, um amigo de infância ele atacava ferozmente e tacava sua pena venenosa, sem dó e sem pena. Adjetivos grosseiros, palavras chulas, desafios assustadores. Um dos alvos da iracunda figura, outro dono de jornal, Dr. Narciso Mendes, proprietário do vetusto “O Rio Branco”, recebeu, entre outros, o apodo de “abutre da imprensa acreana”.

Mas o velho jornalista não ficava calado não! Era pau de cá, pau de lá diariamente! Poucos de nós tinham coragem de ir com o Stélio em bares e botecos que frequentavam seus adversários. Sim, porque ele ia sim nesses lugares! E sempre me levava junto, dentro de seu Lada Laika, tomando uísque e achando graça. E por falar em graça, foi pela Graça de Deus que eu nunca estive presente quando alguém o esmurrava ou quando ele resolvia, ébrio dar tiros na casa de algum de seus incontáveis inimigos.

Então, certo dia, nos dirigíamos ao Banco do Estado, o exânime Banacre, na ânsia de recolher nossos caraminguás e pagar as contas do bar do Papinha e dos milhares de outros pregos pela cidade, quando a gente vê, subindo a famosa rampa lateral do prédio, ninguém menos que Narciso, o “Abutre”, ladeado por dois rinocerontes, de paletó. Eu não me caguei todo, naquele minuto de segundo, porque não tinha merda nenhuma pronta. Não dava mais pra correr, até porque o homem, de longe já foi logo gritando: “Stélio! Ora vejam só quem eu encontro!”

O Stélio cochichou assim, pra mim: “Eita porra! Agora fodeu! É hoje que eu me lasco…”. Não corremos não, nem recuamos, continuamos andando e mirabolando uma saída daquele precipício. Chegando bem perto do fatídico e inevitável confronto, Dr. Narciso atirou – sacudiu, rebolou, deu um peteleco – o cigarro que fumava longe, esticou seu bigodão num sorriso matreiro, embraçou o ombro do meu trôpego e palpitante amigo e sentenciou: “Eu sabia, Telinho, que um dia a gente ainda iria caminhar juntos!”. E foram os dois, banco adentro, numa profunda e sorridente conversa de velhas raposas e grandes abutres.

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