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RAIMUNDO FERREIRA

“Revivendo o seringal nativo” é o tema do artigo deste domingo do professor Raimundo Ferreira

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Por alguns instantes me reportei a algum seringal nativo, daqueles que conheço muito bem, de um passado não muito distante, quando por lá vivi e convivi em ambientes e com valores diferentes dos que convivo hoje. Naquela época, nossa família tinha uma meta que era: “sair do mato” e morar na cidade, pois, aqui haveria a possibilidade de colocar os meninos na escola e conseguir um emprego, ou, na pior das hipóteses, montar um ponto de venda, pois, era entendido que na cidade existia muita gente para consumir e por essa razão, qualquer negócio poderia ser rentável. Na verdade o objetivo era a busca de melhoria de vida.
Aqui estamos nós, metidos a esclarecidos, acreditando que evoluímos e que não somos mais seringueiros, pois agora assistimos novelas, tentamos entender o porquê de tanta corrupção na política, tanta violência urbana, greve de funcionários públicos, nervosismo do mercado imobiliário, queda das bolsas, câmbio flutuante e ainda pagamos todos os impostos. Quanto às origens, não conseguimos nem recordar na pratica os velhos tempos em que saboreávamos uma apetitosa paca gorda no leite da castanha, pois, aqui no mundo urbano, em se tratando de animais silvestres, o saudosismo não vai além da teoria.
Sobre a evolução que sonhávamos, tenho as minhas dúvidas se aconteceu, na verdade estamos vivendo diferente, absorvendo outros valores e em outro ambiente, porém, literalmente pagando o preço da mudança de contexto. Quanto à questão da aquisição de conhecimentos, fico confuso para avaliar, porque esse aprendizado que adquirimos é necessário para o contexto urbano que estamos lidando, no entanto, o aprendizado que poderíamos adquiri no contexto dos seringais nativos, pode não ser forjado na programação da educação formal, pode ser alvo de preconceitos, pode não está na moda, mas, é necessário e suficiente para a sobrevivência e domínio do cotidiano no interior da floresta e as pessoas que residem por lá, mesmo não contando com as facilidades e benesses da tecnologia mais avançada, mas, constroem uma história de vida muito interessante.
Hoje relembramos o seringal como algo do passado e ao nosso vê de forma equivocada, visto que, fazemos essa reflexão, avaliando esses valores como sinônimo de retrocesso, atraso, ignorância e ausência de capacidade para entender as coisas do cotidiano urbanizado. As pessoas do meio urbano dificilmente vão entender porque defendemos com veemência o retorno ao ambiente nativo, mesmo porque, a saída da floresta para a cidade está culturalmente internalizada no inconsciente do povo e comprovada na história da ocupação dos centros urbanos, como sendo algo natural e “mais civilizado”, ou seja, as pessoas estão habituadas a acompanhar naturalmente o ciclo migratório do interior para a cidade.
No entanto, exaltamos os valores da vida bucólica no interior da floresta, porque nesse habitat a natureza opera em toda sua plenitude, fazendo crescer as plantas e produzir os frutos, sem a utilização e interferência da mais avançada tecnologia de ponta, apesar dos avanços científicos poder prestar importante contribuição na realização, agilização e melhoria de algumas atividades e/ou resultados; regulando a temperatura ambiente sem a utilização do controle remoto, permitindo a observação in loco do ciclo natural da vida e ainda proporcionando um saudável bem-estar na mais absoluta tranqüilidade.
Todavia, dar valor e apreciar esse tipo de vida, aparentemente simples, faz parte de um conhecimento e aprendizado previamente adquirido. Quem não tem afinidade nem sensibilidade para valorizar o habitar nativo, infelizmente, sempre vai acreditar que estamos defendendo algo sem valor e retrógrado.
Na verdade, quem já foi infectado pelo estresse do rush no trânsito urbano, das contas para pagar ao final de cada mês, das noticiais sobre tudo, que insistem em lhe informar, das facilidades dos eletrodomésticos e pelo o vício do consumismo sem limite; dificilmente vai gostar de consumir produtos naturais, apesar de serem totalmente saudáveis, tomar água da fonte sem produto químico, acostumar com a tranqüilidade das noites no seio da floresta, a observação do luar no terreiro, barulho da chuva na cobertura do barraco e escorrendo na biqueira, o coaxar dos sapos no brejo, a sinfonia do canto dos pássaros, cheiro do mato e a convivência tranqüila com a natureza. Obs. Gostaríamos de reprisar esse texto, que foi elaborado em agosto de 2007 e publicado no diário Página 20.

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