GERAL
Selma, a professora que levou o sabor do Acre para Foz do Iguaçu, comemora o sucesso do Seldeestrela
Ela saiu do Acre em busca de uma vida melhor, levando na bagagem a coragem, a família e uma história marcada por trabalho e persistência. Selam Cavalcante por 20 anos atuou como professora na rede estadual de ensino, sempre em contratos provisórios, exercendo múltiplas funções na Secretaria de Estado de Educação sem nunca ter sido efetivada. A instabilidade não a impediu de sonhar.
A virada veio na pandemia. Em Foz do Iguaçu, no extremo Oeste do Paraná, ela e a família começaram do zero, vendendo capuccino em feiras, montando barraca, enfrentando as adversidades e a incerteza. Foi ali, entre uma feira e outra, que surgiu a ideia de transformar saudade em oportunidade: levar a culinária acreana e amazônica para o Sul do país.
O primeiro passo foi simples e ousado: entrar nas feiras com pratos típicos do Norte. A aceitação surpreendeu. O público queria mais. Assim nasceu o restaurante que hoje se orgulha de ser o primeiro de Foz do Iguaçu totalmente dedicado à gastronomia nortista da Amazônia.
“Mais que um espaço para comer, o restaurante é uma experiência cultural”, diz. No banheiro, o cliente encontra a lenda do boto-cor-de-rosa. Nas paredes, histórias dos seringueiros, do Rio Croa, de Cruzeiro do Sul, da vitória-régia e do soldado da borracha. Cada detalhe é uma homenagem explícita ao Acre.
O cardápio é um manifesto de identidade. Pratos como o tacacá, servido quente e aromático, carregam o sabor ancestral do tucupi e do jambu. A rabada no tucupi une rusticidade e técnica, enquanto o pato no tucupi reafirma a tradição amazônica em sua forma mais clássica. São receitas que contam histórias, não apenas alimentam.
Entre os mais pedidos, a muqueca de pirarucu impressiona pela delicadeza do peixe e equilíbrio de temperos, enquanto a banda de tambaqui celebra a força dos rios amazônicos. Para fechar, o Matuto — creme de cupuaçu com geleia da fruta e farinha de castanha — traduz o encontro perfeito entre acidez, doçura e memória afetiva.
O sucesso também está nos detalhes: açaí servido com farinha de mandioca e tapioca, como manda a tradição, sucos de cupuaçu, cajá e graviola, além da caipirinha com cachaça de jambu, que surpreende quem prova pela primeira vez.
Os pratos mais vendidos revelam a força dessa cozinha: o menu degustação para duas pessoas, o tacacá, o vatapá de camarão, a maniçoba e o caranguejo toc-toc. Às sextas-feiras, a casa promove a noite do caranguejo; em outras, o som do carimbó embala a experiência.
O reconhecimento veio do público. “Sempre me falaram da sua comida e nunca fui onde ficava seu trailer. Fico muito feliz de ver que você está crescendo”, comentou a cliente Bárbara Jayane, sintetizando o sentimento de quem acompanha a trajetória desde o início.
Hoje, ela se define sem medo: empreendedora. Mais que isso, tornou-se -assim por deizer – uma embaixadora da cultura acreana. Ao lado da família, apresenta ao Brasil e ao mundo uma Amazônia viva, saborosa e cheia de histórias.
A professora provisória virou empresária sólida. O Acre virou cenário, narrativa e prato principal. E Foz do Iguaçu ganhou um pedaço da floresta servido à mesa, com orgulho, qualidade e identidade.





