ESPORTE
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Sábado à noite estou em casa navegando na internet e de olho nos diversos telejornais. O mundo parece à beira do caos. Pelas bandas do Oriente, mais do que aquela bola linda que um dia entrou na canção do Tião Natureza, o que se vê são drones despejando bombas aqui, ali e acolá.
As guerras agora são no esquema high tech. Não existe mais o combate homem a homem, com baionetas caladas e olhar de assombro e terror ao esguicho do sangue do inimigo. Praticamente não se sacrificam mais soldados nos campos de batalha. A morte da hora é a de civis inocentes.
Ao longe, mas de forma bem audível, o som de disparos me alcança. Não tenho muita segurança de onde eles vêm. Mas amanhã, com certeza, vou ter notícias da chacina da vez. A cidade parece se partir em muitos pedaços. Como na explosão de uma granada, os fragmentos voam para todos os lados.
Pra variar, ninguém sabe como se pagará o rombo nas contas públicas do país. Gasta-se em escala crescente. A típica fórmula da progressão geométrica que eu aprendi em priscas eras nas aulas de matemática do professor Aníbal Brasil. Certamente o meu bolso também vai entrar nessa.
Na fórmula mágica do noticiário, a uma notícia ruim se sucede outra boa. E então a imagem aérea do Cristo Redentor, braços abertos no alto da montanha, invade a minha tela numa tentativa de me induzir a ideia de que nem tudo está perdido e que depois da escuridão da noite virá o alvorecer.
As qualidades da fluidez, da mobilidade e da ilusão que nos tornam civilizados parecem cada vez mais empalidecidas pela sandice dos “donos do mundo”. Qualquer esforço que se faça para compreender os movimentos da geopolítica mundial parece não surtir efeito no universo do plausível.
Então, para que seja possível o apresentador do telejornal finalizar a edição desejando boa noite, a última notícia é a do mundial de clubes dos Estados Unidos, com a participação dos brasileiros Flamengo, Fluminense, Botafogo e Palmeiras. Todos tidos como azarões na corrida pelo pódio.
O apresentador não pode sorrir e desejar que a noite seja boa se a última notícia se referir a alguma catástrofe ou à morte de alguém famoso. Dessa forma, nada melhor do que falar de circos e picadeiros, ainda que a alegria de um seja diametralmente oposta ao insucesso de todos os outros.
E enquanto a maioria garante que o mundo está ficando pequeno, no meu entender ele está é se expandindo. Uma figura furtiva se esgueirando pelo meio da multidão pode me encontrar numa esquina qualquer ou desaparecer para sempre nas brumas do outono. Pra cima deles, meu Fluzão!