GOSPEL
Sudário de Turim faz brasileiro ter artigo mais lido da história de revista científica
O designer 3D brasileiro Cícero Moraes recentemente conquistou um feito notável: um artigo de sua autoria sobre o Sudário de Turim, publicado no Archaeometry (Wiley + Oxford), rapidamente se tornou o mais influente da história do periódico. Além disso, nos últimos trinta dias, alcançou também o segundo lugar mundial em impacto dentro da área de história e arqueologia. O estudo em questão sugere que a fonte que gerou a imagem do rosto de um homem — o de Jesus Cristo, segundo a tradição católica — no tecido sagrado teria sido, muito provavelmente, um baixo-relevo, não um corpo humano.
O processo de elaboração do artigo foi meticuloso. Moraes conta que realizou uma análise detalhada da estrutura do tecido, testando hipóteses a partir de matrizes humanas e de baixo relevo. Além disso, mergulhou em documentos históricos para compreender melhor o contexto artístico do período. Um diferencial do trabalho foi o uso de software livre em todas as etapas, aliado à disponibilização dos arquivos-fonte 3D, permitindo que outros pesquisadores possam replicar e verificar os resultados.
A originalidade do estudo está, sobretudo, na conexão inovadora entre o Sudário e a arte tumular medieval, especificamente a prática das effigy tombs, representações funerárias em baixo relevo que poderiam ter servido de matriz para a criação do manto. Essa hipótese, inédita até então, abriu novas possibilidades de análise sobre a origem do Sudário.
O resultado foi uma repercussão imediata e intensa. Entre elogios e reconhecimento acadêmico, Moraes também enfrentou críticas, em especial de setores ligados à Diocese de Turim e de veículos da mídia católica. Muitas dessas contestações se baseavam em dados do STuRP, equipe de cientistas que analisou o Sudário em 1978, ignorando, porém, a própria cautela dos pesquisadores da época diante de resultados inconclusivos.
“Enfrentei críticas, algumas das quais promovidas por setores ligados à Diocese de Turim e à mídia católica, mas sempre respondi com argumentos técnicos fundamentados, mantendo o respeito pela fé alheia. Meu artigo foi elaborado com sensibilidade para não desrespeitar crenças religiosas, mas também com firmeza para defender a integridade científica do trabalho. Continuo aberto ao diálogo, desde que baseado em evidências e respeito mútuo”, ressaltou.
Falsificação?
Aproveitando o tema, o Aventuras na História mencionou ao designer a recente descoberta de um documento do século 14 que, já naquela época, classificava o Sudário como uma falsificação. Em resposta, Cícero declarou que considera a descoberta “uma peça importante no quebra-cabeça histórico”, mas preferiu não se restringir à leitura proposta.
Em vez de vê-lo estritamente como uma falsificação, prefiro considerar o Sudário como uma obra de arte cristã de profundo significado simbólico” disse.
“Sua criação pode estar vinculada à tradição da arte tumular, que buscava transmitir mensagens espirituais de forma visual e impactante. Essa perspectiva reconhece o valor cultural e religioso do Sudário, independentemente de sua autenticidade histórica, e permite apreciá-lo como um artefato que reflete a devoção e a estética de sua época“, destacou o brasileiro.
Um grande debate
Alvo de intensos debates entre ciência, história e fé, o Sudário de Turim, é um dos objetos mais enigmáticos e controversos da tradição cristã. Cícero Moraes destaca que “os estudos que sugerem uma origem medieval do Sudário” e que, portanto, ele não seria contemporâneo a Cristo, são muitas vezes baseados em datação por radiocarbono e análises históricas, e, por esse motivo, “são amplamente aceitos na comunidade científica”. Já pesquisas como as conduzidas pelo STuRP em 1978, que são “amplamente sustentadas por aqueles que acreditam em uma origem divina do manto”, já tiveram seus resultados abordados com cautela e muitas vezes se mostraram inconclusivos, apesar de oferecem perspectivas interessantes.
“É importante destacar que até mesmo um dos membros do STuRP, o Dr. Joseph Accetta, propôs uma tese de origem medieval, reforçando a necessidade de elevado cuidado ao interpretar os dados”, pontuou o designer.
Via AVENTURAS NA HISTÓRIA