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Tássio Fúria – O guia rio-branquense que será chancelado “Comendador” do Turismo
Por Wanglézio Braga
Ele é o guia do “rolezinho” mais divertido, cultural e sustentável de Rio Branco. Nas redes sociais, repercute com muita paixão a história e a cultura do nosso povo. Adora bicicleta, tanto é que pedalou 5 mil km para conhecer o Brasil de norte a sul. Numa pedalada e outra, virou especialista e operador de turismo. Aos visitantes que por aqui chegam, propõe um jeito diferentão de mostrar o Acre. Será que cola?
No pacote, atividades com ecoturismo, trilhas, caiaque e vivências junto à natureza. Tudo muito sustentável! Quem já foi pra esse tipo de rolê, não cansa de elogiar as fascinantes aventuras e os passeios realizados. Por conta disto e muitos mais, Tássio Ítalo Lara, ou simplesmente Tássio Fúria, aos 34 anos, ganha cada vez mais visibilidade. Agora, entra para um seleto grupo de notáveis ao se tornar “Comendador”. Fruto de dedicação e inovação do ofício.
Em entrevista exclusiva ao AcreNews, Fúria não esconde a doce satisfação de receber tal galardão, pois, afinal, será o único acreano na categoria – A Cruz do Mérito do Turismo – da Câmara Brasileira de Cultura (CBC) a ser laureado. De pronto, avisa que vai subir ao palco levando a inseparável bicicleta. O motivo? A gente conta logo mais!
À nossa reportagem, Tássio também faz um apanhado da carreira vislumbrando o futuro. Responde se o mundo digital tem interferido na profissão. Abraça o nosso potencial turístico mesmo que estamos ao lado de melhores destinos. Por fim, aproveita o bojo para rebater quem queixa-se: “Aqui não tem turismo!”. Leia na íntegra a Entrevista da Semana com Tássio Fúria e saiba mais:
AcreNews – Tássio, você aguardava receber esse tipo de honraria? Como é o processo de escolha?
Esse prêmio é uma grata surpresa para mim, muito grande. Eu não sabia da existência desta condecoração da Câmara de Cultura. Ela serve para homenagear algumas iniciativas, de diversas áreas, pelo país dando prestígio e visibilidade aos profissionais, autoridades, instituições e pessoas comuns da sociedade. Na procura da área do Turismo, chegaram ao meu nome. Lembrando que existem regras para as homenagens que podem ser indicadas por comendadores antigos e ainda por indicação popular que foi o meu caso. Várias pessoas indicaram o meu nome, confesso que não tenho ideia de quem possa ter indicado a minha pessoa. Estou feliz e muito agradecido.
AcreNews – Qual foi a sua reação quando a equipe da CBC entrou em contato?
A priori pensei que fosse pegadinha. É comum algumas pessoas fazerem isso, né? Daí, recebi os links do prêmio, conversei com os organizadores e pude conhecer um pouco mais do trabalho desempenhado ao longo de 25 anos da Câmara Brasileira de Cultura. Confesso que estou encantado com a iniciativa da CBC.
AcreNews – O que essa comenda honorífica representa para você e ao turismo de modo geral?
Isto representa reconhecimento. Um reconhecimento que mais gosto, o popular. Só de saber que o meu nome foi indicado por populares, já é um grande prêmio. A visibilidade que isso pode trazer para mim é interessante. Não chegar a agregar uma qualificação profissional, mais de visibilidade e credibilidade. Isso dá tranquilidade para os visitantes de que estão contratando um serviço que tem credibilidade.
AcreNews – E a profissão de guia-turístico como entrou na sua vida?
Entrou por um acaso, como muita coisa acontece desta maneira na minha vida. Em 2016, fiz uma grande viagem de bicicleta pelo Brasil. Foi um ano perambulando por aí, pelo Norte, Sudeste, Centro-oeste, e Sul do país. Por onde passava nesses lugares, eu era guiado de maneira aleatória. Pedia para conhecer as coisas mais normais, não pedia para ver nada especial. O comum era algo que me atraia. Sem saber da ideia de que isso também era turismo. Quando regressei para o Acre, tive outra visão das coisas. Por pura consciência abriu uma turma do curso técnico de guia de turismo ofertado pelo Governo do Estado por meio do Instituto Dom Moacir e da Escola Técnica Maria Moreira. Foi esse curso que deu a credencial da Cadastur.
AcreNews – Os trabalhos começaram logo em seguida ou foi preciso ganhar mais aprendizado?
Antes do final do curso, trabalhei de forma amadora. Só depois que peguei a credencial trabalhei profissionalmente na área do ecoturismo que é uma parte do turismo que deu bastante destaque ao meu trabalho.
AcreNews – Hoje em dia quase tudo se encontra com facilidade na internet, quando pensamos em locais para visitar numa cidade. Para um guia, como ganhar mercado tendo a tecnologia a favor de muitos?
Sempre reflito: A questão é o fator humano. Quem viaja busca também por entretenimento, por lazer, viver momentos inesquecíveis. A pessoa quer ter a sorte de encontrar um bom lugar, para que possa se lembrar pelo resto da vida do contato na cidade visitada. Nisso, acho que o guia é bom. É fácil ter um aplicativo na palma da mão ou um Google, mas as pessoas querem mais. Que tipo de experiências elas vão ter indo sozinha? Às vezes não querem um guia, querem um amigo para proporcionar segurança e aprendizado. Particularmente gosto muito dessa troca. Por tanto, o diferencial entre a tecnologia e o guia, é sim o fator humano.
Quem contrata o meu trabalho, sou obrigado a proporcionar entretenimento, momentos inesquecíveis. Sinceramente, não considero isso algo impossível. O Acre é um lugar de baixa expectativa. Como algo aparentemente desconhecido, que não tem lugares consagrados a nível de mundo. Quem vem para cá tem a expectativa baixa. Muito diferente quando viaja para o Maranhão, para Fernando de Noronha ou para a Bahia. Já espera-se encontrar um lugar mágico. Os profissionais desses lugares têm uma missão maior de proporcionar entretenimento. Diferente daqui.
AcreNews – Para quem acompanha o seu trabalho, tens um hábito forte de pedalar. Isso é bom! E a ideia de levar a magrela para festa da CBC?
Fiz questão de perguntar ao responsável do evento da possibilidade de entrar no palco de bicicleta. Ele falou que é difícil por causa da cerimônia, mas garantiu que poderia levá-la para fazer umas fotos. Farei os registros tradicionais e depois com a bike, minha melhor companhia. Eu quero muito ser lembrado como o cara da bicicleta. Eu amo pedalar.
AcreNews – Qual o diferencial do guia-turístico, Tássio Fúria?
A gente tem guias que são licenciados em história. Alguns tem grande experiência sobre o Acre, a Revolução Acreana, tem outros que têm amplos conhecimentos sobre o Peru, em ecoturismo, turismo nos rios, montanhas e floresta. O que me diferencia é o carisma, a minha espontaneidade. Do jeito que sou nas redes sociais, espontâneo, acontece da mesma forma ou até melhor nos passeios. Tenho a facilidade de transformar os atrativos em algo Instagramável. Não é fácil transferir para rede social aquilo que a pessoa viveu. Nem sempre o vídeo, a foto, transmite o que aconteceu de real nos passeios. Acho que consigo vender esse “peixe”, em poder transformar boas publicações nas redes sociais.
AcreNews – O Amazonas é um estado altamente turístico. Rondônia possui boas instalações e vem crescendo no setor. A Bolívia é um destino muito barato. O Peru é referência suprema na América do Sul. E o Acre, tem potencial para “brigar” com os vizinhos?
Sim, temos potencial. O Acre é um destino exótico, curioso. Os visitantes que recebo, faço questão de perguntar: por que conhecer o Acre? Eles sempre relatam algo parecido de que é um estado exótico, que vieram para cá depois de conhecer cidades como Manaus, Belém e o Acre acaba sendo um destino que não teve oportunidade e quer matar a curiosidade. E a gente peca em falta de estrutura, falta de informativos, se a pessoa não tiver um contato de um guia, um local que conheça a cidade, ela acaba dando um tiro no escuro. Infelizmente Rio Branco tem poucas informações do que fazer.
Nas agências que encaminham os turistas para as aldeias, fazem um trabalho para o etnoturismo. No setor temos boas expectativas. Nessa área nós somos referência mundial porque quando se pensa em pirâmides, temos o Egito. Quando se pensa em torre, lembramos de Paris, na França. E quando o mundo pensa em turismo de aldeia, aponta o Acre. Então, nós temos potencial.
AcreNew – Qual a sua expectativa para o futuro do turismo acreano?
A expectativa é a melhor possível. Não fazemos nem 10% do que dá para fazer. Cruzeiro do Sul, por exemplo, a gente cansa de frustrar quem desejar ir pra cidade. Elas acham que é fácil visitar a capital do Juruá, mas somos obrigados a falar a verdade, das condições, da falta de transporte acessível e seguro. Então, a gente acaba ‘explorando’ a nossa cidade, Rio Branco. Mas, vejo que temos um futuro promissor. Lá em Cruzeiro, por conta do Rio Croa. Lá em Xapuri por conta da história do Chico Mendes, dos seringais antigos. Das aldeias de Tarauacá e Envira. Então, acredito que temos muito para explorar.
AcreNews – Estamos finalizando a entrevista. Desejamos sucesso. Aproveite o espaço e deixe a sua mensagem aos nossos leitores.
Quero dizer aos acreanos que precisamos acordar para o nosso potencial turístico. O acreano precisa conhecer a própria história e parar de falar tanta bobagem. É inaceitável que alguém desembarque no aeroporto ou na rodoviária, e no trajeto para o hotel, ouça bobagens sobre a história do Acre, o legado de Chico Mendes, de personalidades como Marina Silva. Falando achismos e deixando uma péssima impressão. É preciso abrir os olhos dessa gente. Ganha-se levando informação de qualidade. Muitos não percebem que falando mal, elas estão perdendo dinheiro.
Canso de fazer passeios e os locais perguntam o que os turistas estão fazendo aqui. Digo que é turismo! E essas pessoas, ambulantes, transeuntes, vendedores, começam a rir e dizem que não tem nada para fazer. Por tanto, precisamos mudar isso. É necessário ter conscientização da nossa riqueza que temos. Obrigado!
Nota do repórter: A entrega da comenda ao Tássio será nesta sexta-feira (10) durante o “III Encontro de Notáveis da Amazônia”, evento que reúne ainda personalidades de diversos estados brasileiros em diferentes áreas.