RAIMUNDO FERREIRA
Uma reflexão necessária para quem está mais pra lá do que pra cá, na coluna do professor Raimundo Ferreira
A ESCADA
E, de repente — não mais que de repente —, dois seres já maduros proporcionam o surgimento de um novo ser. Uma nova vida, uma nova criatura, que certamente trará, em sua essência, os genes e as características das matrizes.
Apesar de totalmente dependente, desde o nascimento esse novo ser já se depara com uma elevação a ser vencida — em todos os sentidos. Um obstáculo contínuo, que poderíamos denominar de “escada”, e que irá marcar e demarcar sua trajetória.
Por conta da vitalidade e disposição que os seres vivos apresentam nos tempos da juventude, na espécie humana não será diferente. Essa etapa da vida será enfrentada e vencida, em geral, sem grandes dificuldades — inclusive com o enfrentamento de tarefas mais desafiadoras, numa tentativa constante de demonstrar, a si mesmo e aos outros, que o indivíduo, em pleno gozo de sua juventude, pode não ser superior ao tempo, mas é capaz de resolver, com facilidade e desenvoltura, a maioria dos desafios que surgem. Seja pela agilidade no aprendizado, seja pela força e resistência física.
Esse período — que abrange a pré-adolescência, a adolescência e boa parte da vida adulta — talvez possa ser considerado o ápice da criatividade e, possivelmente, o momento da consolidação da personalidade.
Em termos cronológicos, é difícil precisar o exato ponto de transição. No entanto, o corpo humano começa a emitir sinais claros e inconfundíveis. E cabe ao ser humano identificá-los e reconhecê-los.
Ou seja: a escalada que antes era feita para subir a escada, passa agora a ser feita em sentido contrário. A partir desse momento, os passos continuam — mas agora em descida. E é preciso todo o cuidado para não escorregar nos degraus, pois a mesma força que antes era utilizada para subir — às vezes até correndo — será agora usada para amortecer o impacto do peso do próprio corpo, visando pisar firme e seguro em cada degrau abaixo.