Valterlucio Campelo
Vagner Sales ganhou a eleição no MDB, e agora, como vai ficar? Questionamento do colunista Valterlúcio Campêlo
Habemos Wágner! E agora?
Valterlucio Bessa Campelo
Ocorreu nesta sexta-feira, 29/08, em Rio Branco, a convenção que aclamou o ex-deputado e ex-prefeito de Cruzeiro do Sul, o cacique emedebista Wagner Sales para a presidência estadual do “glorioso” nos próximos anos. Enfim, conseguiram vencer as disputas internas e unificarem um diretório estadual. Parabéns.
Ao mesmo tempo, decidiram… não decidir. Nas palavras do próprio Wágner, o MDB ficará ainda em cima do muro até as águas passarem e poder analisar com frieza e pragmatismo o caminho a tomar, evidentemente, priorizando as eleições de 2026.
A afirmação consensual é de que terão participação nas eleições majoritárias. Leia-se, Senado, Governador ou vice-governador. Obviamente, procurarão apresentar chapas proporcionais, o que para deputado federal parece arriscado, já que nenhum de seus puxadores de voto está disposto ao sacrifício. Talvez fiquem restritos à disputa por vagas na Assembleia Estadual.
Outra declaração firme que se ouviu do Wágner foi a de que estarão longe do PT, ou seja, a tentativa de “ficarem” em 2024 foi frustrante, não deu em casamento. Agora é cada um pro seu lado, mesmo que em nível nacional se cogite uma maior aproximação entre os dois partidos – fala-se numa chapa PT-MDB à presidência. O motivo, embora disfarçado, é que, decididamente, no Acre, qualquer vínculo com a esquerda implica prejuízo eleitoral. Encostar-se no PT é procurar sarna para se coçar.
A boa deputada Jéssica Sales, que perdeu as eleições para prefeita de Cruzeiro do Sul por pouco mais de 200 votos, em uma eleição em que houve de tudo (segundo os perdedores), se apresenta como virtual candidata ao Senado. É o seu desejo, o seu projeto pessoal. Entretanto, sinaliza que se for convidada e se sentir protagonista como vice-governadora, abdicará da candidatura ao Senado. Com quem? Não sabe, nem demonstrou preferência. Elogiou Alan Rick e Mailza Assis como se desse no mesmo e deixou para o futuro maiores explicações. É o que dá para dizer, por enquanto.
A outra grande expressão eleitoral, o bom ex-prefeito Marcus Alexandre, garante que será candidato a deputado estadual. Chega de derrotas. Em 2026, com três anos de MDB, é possível que a mancha vermelha encardida tenha sido minimizada ou apagada de vez. O grande teste está por vir. Se, em 2024, Marcus ainda tinha ranço petista e, por isso, não teve a confiança do eleitor em grau suficiente, em 2026 ele terá a grande oportunidade de se provar oposição ao PT como sacramentou Wágner Sales. Marcus fará oposição ao Jorge Viana para o Senado? Defenderá dois votos à direita para o Senado ou dará uma no prego e outra na ferradura? Isso, o tempo dirá. Desconfio (só desconfio) que para onde for, tem que ir todinho, no rio Acre não se navega com um pé na canoa vermelha e o outro na canoa azul.
Surge no cenário, mais por honraria devida do que por robustez eleitoral, o filho de Flaviano Melo, Leonardo Melo que vem se apresentando nos termos “meu nome está à disposição”. Como viveu muitos anos fora do Acre, embora sempre estivesse por aqui e tenha acompanhado de perto seu pai, talvez o bom rapaz não tenha ainda percebido a brutalidade do jogo político travado por baixo da mesa. Independentemente de sua capacidade e experiência profissional, de sua postura ética e empática, de sua disposição ao combate político, não é certo que o MDB lhe abra muito mais do que os sorrisos. Terá que lutar.
De resto, considere-se a disposição do deputado Tanízio de Sá e seu grupo no sentido de perceber que não interessava ao partido uma fratura exposta, muito mais difícil de tratar. Aquietar-se no momento certo e não lutar quase sempre é mais sábio do que dela sair derrotado. O futuro é bem ali.
E os cabeças brancas? Venceram mais esta e ficarão por mais tempo dando as cartas. Ali, onde tenho ainda alguns contatos, as contradições políticas e ideológicas sempre dão lugar ao pragmatismo, o que não garante vitória, mas, pelo menos, apazigua os ânimos. Daí em diante, é afinar o discurso e, no dizer do seu presidente, deixar o balsseiro passar nas águas turbulentas que antecedem o processo eleitoral. Afinal, envelhecer serve para quê?
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.