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PITTER LUCENA

Articulista Pitter Lucena, jornalista e escritor acreano que mora em Brasília, escreve sobre as guerras: “Imbecilidade humana”

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A IMBECILIDADE HUMANA

Pitter Lucena

Há um certo tipo de estupidez que permeia a existência humana. Uma ignorância tão profunda e voraz que transcende a razão, atravessa os séculos e insiste em se instalar como uma sombra eterna sobre a história. O homem, em sua busca insana por poder e domínio, transformou o planeta em um tabuleiro de guerra, como se não houvesse outro propósito para sua presença aqui senão o de exercer controle sobre seus semelhantes. Ele se esquece — ou, talvez, nunca tenha aprendido — que esta casa, o nosso planeta, não possui saídas de emergência. Não há para onde ir quando os escombros começarem a cair.

Ao olharmos para o presente, é impossível não enxergar a continuidade desse espetáculo de imbecilidade. Conflitos armados eclodem por toda parte como vulcões adormecidos que, de repente, decidem vomitar sua lava ardente sobre civis, crianças e idosos. Na Ucrânia, a guerra se tornou rotina, desde que a Rússia decidiu, em 2022, avançar em uma invasão que só revela as velhas cicatrizes da Guerra Fria e as ambições desmedidas de poder. O conflito, que muitos acreditavam ser uma anomalia temporária, já se estende há mais de dois anos, ceifando vidas, destruindo lares, e transformando cidades inteiras em ruínas. Quem vence, afinal? Aquele que restar de pé sobre os destroços, orgulhoso do que sobrou de uma pátria arrasada?

Na Síria, o absurdo se perpetuou há mais de uma década. Uma guerra civil que começou em 2011, como protesto contra um regime autoritário, evoluiu para um palco onde potências estrangeiras testam suas armas e exercitam suas táticas. Milhões de mortos, milhões de refugiados, cidades como Aleppo e Raqqa destruídas até os alicerces. E o homem, esse ser burro, continua jogando xadrez com a vida alheia, movendo peças em tabuleiros que não são seus, deixando um rastro de morte e desolação. O que ganham com isso? Talvez o direito de olhar para a miséria que causaram e aplaudir o próprio desastre.

E há ainda o conflito eterno entre Israel e Palestina, onde a lógica e a razão deram lugar a um ciclo incessante de retaliação e vingança. Vidas perdidas e sonhos despedaçados, enquanto líderes discursam sobre segurança e direitos divinos. Na verdade, não há vencedores nesse campo de batalha, apenas mais corpos a serem enterrados e mais lágrimas a serem derramadas. Uma terra santa, manchada de sangue, cuja paz nunca chega porque os homens que a reivindicam preferem a guerra.

Mas por que o homem quer dominar o homem? Por que essa sede insaciável de poder? A história mostra que essa obsessão tem raízes profundas em nossa espécie. Desde os primórdios, o homem buscou ser o líder, o caçador, o guerreiro, aquele que governa e subjuga. Ele crê, em sua arrogância cega, que o domínio de outros lhe trará alguma forma de glória ou de imortalidade. Mas, que glória há em aniquilar seu próximo? Que imortalidade há em deixar como legado a destruição?

A humanidade parece ignorar que estamos todos presos na mesma casa. Não há outra morada, não há um segundo planeta para onde possamos fugir quando finalmente tivermos destruído tudo. O homem, esse ser imbecil, não compreende que sua corrida pelo poder é a corrida de ratos num labirinto sem saída. Cada bomba lançada, cada tiro disparado, cada decreto assinado em nome de uma guerra, é um golpe contra as paredes da nossa própria casa. E essas paredes, um dia, cederão.

E não pensemos que essa é uma questão de meros tiranos ou déspotas isolados. A imbecilidade é democrática. Líderes eleitos, generais aclamados, e até cidadãos comuns contribuem para o mesmo erro. Uns pelo voto, outros pelo silêncio, muitos pela indiferença. Todos, de alguma forma, carregam a responsabilidade de perpetuar esse ciclo infernal de domínio e submissão. E a Terra, nossa única morada, segue girando, balançando, como um náufrago perdido em um oceano de vazio, enquanto seus habitantes brigam pela melhor cabine de comando em um navio que afunda.

O que restará para contar? Uma história de destruição e arrogância, uma crônica de guerra sem fim. Até que um dia, o próprio planeta, cansado dessa praga que somos nós, decida ele mesmo dar o golpe final, varrendo nossa presença da face da Terra, assim como o vento dissipa a poeira no ar. E será justo, porque, afinal, quem em sã consciência incendiaria a própria casa sabendo que não tem para onde fugir?

Mas ainda há uma réstia de esperança. Um fio tênue de sanidade. Para que esta casa, a Terra, possa um dia ser um lar verdadeiramente humano, precisamos parar de lutar uns contra os outros e começar a lutar contra nossa própria estupidez. Precisamos lembrar que todos nós, sem exceção, estamos confinados ao mesmo espaço, respirando o mesmo ar, bebendo da mesma água. Precisamos aprender a viver em harmonia, ou nos preparar para o pior dos desfechos: sermos nós mesmos os arquitetos de nossa extinção.

Porque, no final das contas, a maior imbecilidade humana é acreditar que, destruindo uns aos outros, poderemos um dia alcançar a paz.

Pitter Lucena é jornalista e escritor

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