‘Quero ser visto como um educador capaz de contribuir para mudanças positivas’, diz consultor em Direitos Humanos que questiona religião e vê manipulação nessa história de fim do mundo

O filósofo, teólogo, psicopedagogo, educador e consultor em Direitos Humanos Jota Conceição estabeleceu uma regra para poder trocar uma ideia com o Acrenews/Gospel sobre religião, ecumenismo, política e os vestígios do final dos tempos, assuntos sobre os quais ele tem concepções bem definidas: evitar ao máximo as polêmicas. Não foi e nunca será possível, primeiro pelos assuntos, naturalmente polêmicos, segundo pelo próprio Conceição, um questionador desde muito jovem, quando ainda morava em sua terra natal, o ainda bucólico município de Feijó. Ele nasceu a contradição em pessoa, é um bereano de nascença, referência a um povo de Beréia, na Macedônia, nos tempos de Jesus, que recebiam a pregação do apóstolo Paulo, mas consultavam diariamente as Escrituras para saber se era aquilo mesmo. Com o Jota é assim. Ninguém empurra ideia nenhuma goela abaixo nele. Não é à toa que questiona as religiões, é agnóstico convicto e enxerga manipulação nessa história de final dos tempos.

Foi com esse polêmico educador que nós batemos um papo bem aberto, informal, depois de alguma resistência por parte dele. Conceição sabe que uma maioria convive com os confeitos estabelecidos pelo Estado e prefere o conforto de não polemizar, não resistir. “Sou um humanista, sou um exímio defensor da justiça social, da liberdade, da igualdade, da dignidade da pessoa humana, sou um sonhador”, se apresenta.

SOCIEDADE LIVRE

“Minha meta principal é: contribuir para uma sociedade mais livre, justa, digna, democrática, solidária e sobretudo, mais igualitária”.

Jota Conceição

Jota Conceição não se rotula politicamente, mas suas teses se encaixam em conceitos esquerdistas e é isso que ele não gosta de colocar em xeque. “Não é bom ser visto como polêmico. Quero ser visto sempre como um educador que é capaz de contribuir para mudanças positivas”, diz ele. E acrescenta: “Sonho e luto por um mundo melhor, por um mundo sem preconceito e sem discriminação de qualquer natureza”.

Filósofo, Jota Conceição questiona as religiões, já foi defensor do ecumenismo, mas hoje vive um momento de liberdade, ao questionar o papel de algumas igrejas, que, segundo ele, manipulam a cabeça das pessoas com assuntos delicados como o final do mundo. “Reafirmo que, embora tenha minha posição bem definida quanto a religião, sou um defensor intransigente da liberdade de crença e credo considerando também que o Estado é laico”, diz. Apesar de seus aspectos negativos, a religião também tem seu lado positivo e ele destaca “aqueles que visam promover a partilha e a paz entre as pessoas”.

AGNÓSTICO

“Ser um agnóstico me permite viver em um mundo mais amplo, em um mundo mais futurístico. Isso me faz mais tolerante e mais humano”.

Jota Conceição

DEUS, PARA CONCEIÇÃO, É UM “FENÔMENO”

Agnóstico, que considera os fenômenos naturais inacessíveis a compreensão humana, Jota Conceição expõe sua cosmovisão sobre Deus como um “ser absoluto”. E segue: “Acredito num grande fenômeno (mistério) inominável, incognoscível, inexplicável, jamais explicado pelas habilidades ou inteligência humana. Sou cético (questiono as verdades construídas sem comprovação de fatos). Para mim embora não tendo como provar a existência de um “ser absoluto”, ao mesmo tempo não é possível não crer num grande fenômeno, que continuará sendo objeto de reflexão, observação, e estudos enquanto o mundo existir. O conceito sobre “DEUS OU DEUSES”, é uma projeção de ideais humanos. Religião é um reflexo sociocultural, imposto pelas pessoas de acordo com a tradição religiosa de cada povo, cultura ou lugar. Freud, ao denominar a religião como uma neurose obsessiva, afirma que a educação religiosa é quem estraga o desenvolvimento da inteligência. Reitero que o fenômeno (mistério) inominável e indecifrável que entendo existir, não pode ser objeto de tradição oral, sistematizado, processado, interpretado, explicado ou descrito em textos (livros) pela mente humana, como as crenças, e as religiões em todos os tempos quiseram a qualquer custo impor”.

MANIPULAÇÃO

“Esta história de estarmos perto do fim, é uma ideia estritamente religiosa para as vezes até impor pavor nas pessoas. Mas que na verdade, não há nenhuma evidência científica que garanta isso”.

Jota Conceição