ACRE
Há 20 anos o Acre chorava pelas 23 vítimas da tragédia aérea da Rico
Por Wanglézio Braga / Foto: Arquivo/Reprodução Internet
O dia 30 de agosto, certamente, não passa batido na memória da maioria dos acreanos. Foi nesta data, no ano de 2002, que ocorreu um dos acidentes aéreos mais chocantes da aviação do Brasil, a queda da aeronave Embraer (PT-WRQ) da empresa Rico Linhas Aéreas. O voo RLE-4823 que teve início em Cruzeiro do Sul com destino a capital, Rio Branco, fez uma escala em Tarauacá trazendo a bordo um total de 31 pessoas. O aparelho não conseguiu finalizar as operações de pouso no Aeroporto de Rio Branco e vitimou fatalmente 23 pessoas.
VÍTIMAS FATAIS
A aeronave iniciou a viagem às 16h25 trazendo políticos, empresários, funcionários públicos e membros da tripulação. A grande maioria dos viajantes se preparava para participar da Expoacre. Outros, simplesmente retornavam de reuniões de trabalho no Juruá.
Como consequência da colisão, três tripulantes e 17 passageiros faleceram no local, no ramal da Chapada, sendo que três passageiros vieram a falecer posteriormente, seis sofreram lesões graves e dois sofreram lesões leves.
Paulo Roberto Freitas Tavares (comandante), Paulo Roberto Nascimento (co-piloto), Kátia Regina Figueiredo Barbosa (comissária), Luís Marciel Costa, José Waldeir Rodrigues Gabriel, Francisco Darichen Campos, Ildefonso Cordeiro, Arlete Soares de Souza, Maria de Fátima Soares de Oliveira, Walter Teixeira da Silva, Francisco Cândido da Silva, Ailton Rodrigues de Oliveira, Carina Matos de Pinho, José Edilberto Gomes de Souza, Maria Alessandra de Andrade Costa, Geane de Souza Lima, Rosimeire dos Santos Lobo, Raimundo Araújo Souza, Maria Raimunda Iraide Alves da Silva, Maria José Pessoa Miranda, João Alves de Melo, Rosângela Pimentel Cidade Figueira Clenilda Nogueira.
VELÓRIO COLETIVO
Os velórios ocorreram em Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Porto Velho (RO). Por conta da burocracia e das condições dos corpos, alguns cadáveres foram embalsamados. Na capital, o velório aconteceu na Assembleia Legislativa, no Colégio Barão do Rio Branco e em casas de algumas das vítimas. Em Cruzeiro do Sul, houve cortejo fúnebre pelas ruas da cidade, em carros do Corpo de Bombeiros.
SOBREVIVENTES
Napoleão Silva, Racene Cameli, Maria Célia Rocha, Theodorico de Melo, Maria de Fátima Almeida, João Gaspar, Maria José Albuquerque e Luiz Wanderlei.
CONDIÇÕES CLIMÁTICAS
Poucas horas antes do acidente, o tempo indicava para uma forte chuva na capital. De acordo com relatório do Cenipa, as condições meteorológicas começaram a piorar por volta das 22hs. O documento cita que “durante o voo em rota, no trecho Tarauacá – Rio Branco, a aeronave não reportou nenhuma anormalidade relativa à meteorologia aos órgãos de controle”.
Em Rio Branco, o tempo continuou pesado às 23hs. Nesse ínterim, os controladores informaram sobre as condições atuais. De acordo com o relatório do CENIPA, “quando próxima de Rio Branco, a tripulação foi informada que o aeródromo estava operando nos mínimos” e que “quatro testemunhas sobreviventes informaram não haver turbulência durante a aproximação, até o momento do impacto”.
Às 23h40s a Torre de Comando recebeu a última mensagem do piloto do avião que disse: “Dois três!”. Após isso, os controladores seguiram por mais sete tentativas de contato, sem sucesso.
IMPACTO
O aparelho impactou com a cauda no solo. Antes, ela atingiu uma árvore de 4m e animais que estavam no pasto de uma fazenda. Há quatro quilômetros da cabeceira 06 da pista de pouso e decolagem. A parada final do avião ocorreu a 650 metros além do ponto de impacto inicial, já sem as asas e motores. O trem de pouso estava recolhido.
“Após o impacto, houve indícios de início de fogo na asa esquerda, que não se propagou provavelmente devido estar exposto à forte chuva. O material combustível, querosene de aviação, havia se espalhado ao longo da trajetória percorrida pela aeronave no solo”, descreve relatório do CENIPA.
Por determinação do Departamento de Aviação Civil (DAC) as nove toneladas de destroços do avião foram enviadas para São Paulo (SP). E a caixa-preta da aeronave foi enviada para a sede da Embraer, em São José dos Campos SP.
E A CAUSA?
O laudo do CENIPA tirou a hipótese de falha mecânica, elétrica ou hidráulica. O documento que tem 26 páginas descartou também falta de combustível. “Falha humana” poderia ter sido apontada como uma causa primária, no entanto, o documento técnico apresentado em 08 de julho de 2004 concentra-se em dizer que é de “caráter preventivo ou de alerta”. Ou seja, “não acusa com propriedade se foi ou não falha humana, muito menos de quem é a responsabilidade”.
FATOS!
Os tripulantes estavam com seus Certificados de Capacidade Física e de habilitações válidos. Ambos os pilotos possuíam experiência de voo no tipo de aeronave e na rota voada. O avião estava com suas cadernetas de célula, hélice e motores atualizadas e também estava com seu Certificado de Aeronavegabilidade válido.
A RICO
A Rico Linhas Aéreas atuava na Região Norte do país, com linhas diretas e conexões em 30 cidades dos Estados do Amazonas, Pará, Rondônia e Acre. Naquele ano, a frota era composta por 10 aeronaves de fabricação nacional, como o Brasília e Carajás, e estrangeira, como o Sêneca, todos os aparelhos de médio porte, além de helicópteros da Bell.