CULTURA & ENTRETENIMENTO
Cartunista e historiador Enilson Amorim lança a segunda edição do livro “O canto do uirapuru”, neste sábado, na Biblioteca Pública
O historiador e artista plástico Enilson Amorim, lança, hoje (30), às 18 horas, na Biblioteca Pública Estadual, a segunda edição do livro “O Canto do Uirapuru”. A obra foi financiada pelo Fundo Municipal de Cultura, através do edital da Fundação Garibaldi Brasil (FGB) e conta com apoio do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas, Academia Acreana de Letras (AAL), Associação Acreana de Cinema (ASACINE) e da Fundação Elias Mansour (FEM). O livro também foi lançado em formato digital pela Editora da Universidade Federal do Acre (Edufac). No lançamento, também terá contações de histórias do autor e uma apresentação musical, com Alberan Moraes, de músicas dos personagens de Enilson Amorim.
O AUTOR
Enilson Amorim é autor e ilustrador de livros infantis, sua história nas artes começa no bairro do Taquari, quando roteiriza e desenha, aos 11 anos, uma história em quadrinhos intitulada “A Turminha Infantil” que narrava, de forma precisa, os acontecimentos entre seus amigos como as brincadeiras no campo de futebol e o convívio escolar de seu grupo de amigos. O objetivo de criar este gibi, segundo ele, era comercial e o dinheiro adquirido com a venda dos gibis da Turminha Infantil, ele comprava material escolar, já que sua mãe, a dona Francisca Amorim, não tinha condições para comprar. Quando começou a trabalhar em jornais, ilustrou vários livros dentre os quais podemos citar “O Zebecedário”, de Carlos Gilberto de Oliveira, e o livro infantil “A Egypti a Mosquita da Floresta”, da historiadora Kelen Gleysse, entre outros. Sonhador como todo artista, começa a escrever seu primeiro livro intitulado Mapinguari a Lenda seguidos de outros como “Abelardo e o Curupira”, “Clarinha e o Boto”, “O Canto do Uirapuru” e a “Lenda da Cobra Grande”, dentre estas obras, o escritor também teve participações, como ilustrador, em centenas de livros de outros autores tanto locais como nacionais.
Como cartunista e diagramador o jornalista trabalhou nos jornais O Rio Branco e A Tribuna, durante 15 anos, chegando a ganhar três vezes o Prêmio de Jornalismo José Chalub Leite, na categoria charge, prêmio considerado em tempos de outrora o óscar do jornalismo acreano. Em 2019 foi eleito, com 21 votos, para assumir a cadeira de número 07 da Academia Acreana de Letras (AAL). Além das atividades como ilustrador e escritor, Amorim também é considerado um mestre em animação em 2D, mantendo um canal no Youtube com aulas diárias, com esta temática, que podem ser encontradas neste link https://youtu.be/7gVLxskfUak
O MENINO POBRE DO SEGUNDO DISTRITO
Nascido em 1974, em Rio Branco-Acre, Enilson Amorim teve uma infância marcada por muitas dificuldades financeiras, considerando que seus pais eram seringueiros que haviam migrado para a cidade nos anos 80, numa época em que Rio Branco ainda ganhava aspecto de uma cidade em formação, caracterizada por uma população vivendo em extrema pobreza, com muito desemprego e marcada pela explosão de locais periféricos e falta de saneamento básico. Por dois anos, ainda na sua infância, Enilson Amorim esteve em Baturité, no Ceará, local onde estudou numa escola denominada Monsenhor Manuel Cândido, instituição de ensino cujo modelo educacional era católico. Este local vai exercer grande influência na sua educação moral. No retorno para Rio Branco, o jovem artista passa a estudar na instituição de ensino Anita Garibaldi e depois adentra na escola João Mariano, Elias Mansour, Ana Turam Machado Falcão, todas elas localizadas no segundo distrito de Rio Branco, com exceção da última.
A falta de emprego dos pais, levou o menino Amorim a ajudar sua mãe no sustento da casa. O artista vendia refresco, quibes e charutos nas ruas do Segundo Distrito de Rio Branco. Com sua caixa de refresco branca o artista conta que ele se diferenciava dos outros vendedores de refresco porque a caixa dele era cheia de desenhos de personagens de histórias em quadrinhos feitos de caneta esferográfica. O objetivo, segundo ele, era seduzir os compradores. Mais tarde, sabendo de sua capacidade no domínio de traços e cor que já possuía desde a infância, começa a trabalhar na fabricação de letreiros e, logo em seguida, inicia a ganhar dinheiro com produções de retratos e caricaturas nos bares de Rio Branco, em meados dos anos 90, ano em que ele é descoberto pela editoria do jornal O Rio Branco e logo é contratado como caricaturista e ilustrador daquele matutino.
Na redação do jornal, onde rabiscava histórias em quadrinhos do Mapinguari e charges diárias, seus amigos como Narciso Mendes, Zacarias Pena Verde, Antônio Muniz, Evandro Cordeiro, Silvania Pinheiro, Raimundo Fernandes, Wania Pinheiro e Mara Rocha logo acabaram percebendo o tamanho do talento daquele jovem que abrilhantava a redação do mais antigo jornal do Acre, com suas caricaturas de grande arrojo crítico. Em seguida, começam a estimular Amorim a escrever para o público infantil e seguir nos estudos. Na atualidade, o artista é formado em história, é graduando em Artes Visuais, possui especialização em Docência do Ensino Superior, é estudante do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre (Ufac), trabalha com artes digitais e demais projetos que visam preservar o folclore local e oferecer ao público infantil, de forma lúdica e divertida, afinal de contas, segundo ele “A educação muda a vida das pessoas”.
O AUDIOVISUAL
Amante das animações em 2D, desde garoto, Enilson Amorim começa a estudar de forma totalmente autodidata no bairro do Taquari, precisamente em 1986, quando achou no lixo uma lente de aumento. Curioso, desde o nascimento, ele constrói uma espécie de projetor caseiro, fabricado a partir de uma caixa de papelão, onde rasgou um orifício na mesma proporção da lente encontrada e a colou entre aquele buraco. Sobre a posse de papeis transparentes colados de forma sequencial, ele desenhava seus personagens e com a ajuda de uma lâmpada inserida dentro da caixa de papelão projetava suas ilustrações na parede de seu humilde casebre, em madeira velha, localizado no bairro Taquari, na rua do passeio. Já reconhecido quando trabalhava na redação de “A Tribuna” começou se interessar e a estudar os programas gráficos. Lá ele descobre o software chamado Adobe Flash, cuja função primordial é trabalhar animações e o artista começa a estudar o programa fazendo estudos e experimentos de pequenas animações em 2D, e segue avançando estudando o Adobe Animate, programa utilizado por ele até os dias de hoje.
Logo mais tarde, Amorim é convidado pela escritora Kelen Gleysse para produzir e dirigir a animação Aegypti a Mosquita da Floreta, que retrata um enxame de abelhas no combate a proliferação do mosquito da dengue. Em seguida, o artista é contratado para escrever um Álbum de Memória da professora Elaís Meira Eluan e acaba conhecendo o cineasta Adalberto Queiroz de Melo que, naquela ocasião, seria uma das personalidades inseridas naquele trabalho. Como Enilson Amorim estava finalizando a animação “Mapinguari a lenda” resolveu convidar o cineasta para participar como dublador de uma personagem do anime. A parceria entre Enilson Amorim e o cineasta Adalberto Queiroz resultou num convite para sua participação com suas animações nos Festivais promovidos pela Associação Acreana de Cinema (ASACINE), entidade que, na época, era presidida pelo cineasta Queiroz. Em seguida, o artista se tornou um grande parceiro de Adalberto, que acabou conduzindo Amorim a ser candidato e em seguida ser eleito para presidir a ASACINE por dois mandatos consecutivos.
A PERSEGUIÇÃO VINDO DA ESQUERDA
Como suas charges eram compostas de extremo arrojo crítico, Enilson Amorim começou a ser perseguido pelas autoridades políticas, numa época em que o jornal O Rio Branco fazia oposição ao atual governo. Com isso, o chargista Amorim foi processado várias vezes e por isso convidado para se fazer presente em inúmeros interrogatórios inclusive na Polícia Federal. Segundo Enilson Amorim “Isto me causou um desgaste emocional muito grande porque fui ameaçado a pagar indenizações altíssimas, mas graças a Deus e aos amigos a justiça findou me inocentando de todos estes processos. E hoje, eu me surpreendo ao ver todos estes perseguidores de jornalistas querendo voltar ao poder novamente. Eu espero que estes canalhas não voltem nunca mais” comentou o artista.
AS ARTES MARCIAIS
Ainda na infância, Amorim conheceu o Mestre José Carlos Gomes Guimarães (O Mestre Juca), na época faixa preta, terceiro dan de taekwondo. Este mestre, tido como o introdutor desta arte marcial no Estado do Acre resolve criar em 1989 um projeto social para contemplar as crianças que viviam em situação de vulnerabilidade social, neste contexto Enilson Amorim é contemplado com uma bolsa de estudos para praticar este esporte com grande destaque, chegando a participar de apresentações e demais campeonatos realizados no Acre e em outros estados brasileiros. Quando perdeu seu Mestre pelo coronavírus, o artista lamentou grandemente nas suas redes sociais a partida de forma prematura de um dos melhores mestres do Brasil.
Hoje Enilson Amorim continua estudando e aprimorando sua arte de desenhar e construir, para documentar para a história, os livros infantis sobre lendas acreanas. Um trabalho primoroso que caiu no gosto dos leitores e amantes da literatura. Parabéns ao escritor e imortal Enilson Amorin por sua memorável história de vida.
[Assessoria]
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