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Política & Economia

Coragem, deputados! A história os julgará, escreve neste sexta-feira, 11, nosso artículista Valterlucio Campelo

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De vez em quando, o que prova sua validade até os dias de hoje, somos levados a recorrer ao grandíssimo (talvez o maior de todos) filósofo grego, Aristóteles, para compreendermos o comportamento das pessoas, especialmente daquelas que exercem poder político e, por causa disso, se confrontam com decisões de grande repercussão. Uma dessas lições eternas, é a definição de coragem, que o filósofo chamou de primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.

A coragem é, para Aristóteles aquele ponto equidistante da covardia e da temeridade. Tal sentença nos leva a verificar o que seriam. Vejamos em “Ética a Nicômaco” que covardia é o excesso de medo, o covarde sente medo em situações em que não deveria sentir, ou sente um medo desproporcional ao perigo real, lhe falta a confiança necessária para enfrentar o perigo de maneira apropriada e racional. Diante de questões graves, o covarde se retrai e evita o enfrentamento, mesmo quando há um dever moral ou um bem maior em jogo. No outro polo, a temeridade é o excesso de confiança, o temerário possui uma confiança exagerada em suas próprias capacidades, muitas vezes subestimando os perigos reais, desprezando a prudência e a cautela.

Se esses dois conceitos são diametralmente opostos, a coragem é, no centro, o ponto de equilíbrio da decisão, aquele que combina uma dose indispensável de medo com a força suficiente para enfrentá-lo mediante uma ação racional. De qualquer modo, a coragem não é a omissão, a inação, a fuga da decisão, o escapismo, a transferência de responsabilidades. Na política, então, a coragem sempre será o enfrentamento, calcado que está o agente no mandato outorgado por seus eleitores, ou seja, ele não age só nem por si, mas, sobretudo, com e por aqueles que o elegeram.

A história nos conta alguns casos célebres de covardia que levaram a intensas transformações. Até hoje, historiadores se perguntam se a Revolução Francesa teria acontecido, ou se teria sido naquele momento e daquela forma, se Luis XVI não tivesse se comportado de maneira tão fraca e dissociada dos interesses do povo. Bastaria aceitar o voto “por cabeça” nos Estados Gerais. Quando ele aceitou o voto por ordem (clero, nobreza e Terceiro Estado) favoreceu os dois primeiros e frustrou profundamente a grande maioria da população. Foi a partir daí que o Terceiro Estado tomou força e deu seguimento à formação da Assembleia Nacional. Covardemente, pensou em salvar a própria pele. Não conseguiu.

Outro caso, muitíssimo apontado, diz respeito a Chamberlain e a sua política de apaziguamento. O primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, em 1938, depois de muitas negociações chegou ao Acordo de Munique, mediante o qual a Grã-Bretanha, a França e a Itália concordaram em ceder a região dos Sudetos à Alemanha. Em troca, Hitler prometeu que essa seria sua última reivindicação territorial na Europa. Cinco meses depois, o líder alemão traiu o acordo e anexou a Tchecoslováquia. A política de apaziguamento foi, decididamente, covarde perante um líder que sabia se impor e determinou a Segunda Guerra Mundial em que se transformaria o conflito.

Steve Jobs, em determinado momento percebeu que o custo financeiro quase insuportável não era compatível com o resultado dos estudos no Reed College, e largou os estudos. Depois de algum tempo assistindo aulas como ouvinte, viajou ao oriente, voltou aos EUA, arrumou um sócio e fundou a Apple. Coragem para tomar decisões difíceis.

Recentemente, no Brasil, mais precisamente no Rio Grande do Sul, durante as enchentes que inundaram a regão de Porto Alegre, vários exemplos de coragem foram observados. Centenas de médicos, bombeiros, militares, gente do povo, se fizeram heróis em situações graves de atendimento a necessidades imediatas. Coragem para salvar a vida e o patrimônio de desconhecidos.

Então, é necessário sempre, seja em circunstâncias gravíssimas e históricas ou no dia a dia de nossas vidas, ter coragem. Não como a “maior” das virtudes, mas como a primeira (como referiu Aristóteles), aquela que leva à ação, que retira o indivíduo da zona de conforto e move-o racionalmente e moralmente a decidir sobre o certo e o errado.

No Brasil, estamos vivendo um momento que exige coragem dos homens e mulheres que nos representam no Congresso Nacional. Trata-se de dizer sim ou não a um processo de implantação do terror do estado contra o direito de expressão e manifestação. Coragem para enfrentar o monstro tirânico que se avoluma como um personagem de filme de ficção, enquanto prende e tortura inocentes. Não haverá lugar na história para os omissos. Penso nisso enquanto observo os deputados acreanos na lista de apoio ao PL da anistia.

Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no  DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.

 

 

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