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GOSPEL

Devotos de São Sebastião tentam manter viva uma tradição de mais de meio século no seringal Andirá

Publicado

em

Evandro Cordeiro

A festa de São Sebastião na sede do antigo seringal Andirá, localizado em território do Amazonas na divisa com o Acre, no município de Porto Acre, está sendo resgatada com poucas chances de voltar a ter o glamour de antigamente. Um grupo reduzido de devotos está fazendo das tripas coração para não deixar morrer de vez um dos eventos mais charmosos do final dos anos 1960, decorrer dos 1970 e 1980, a procissão de São Sebastião, uma festa que em dado momento durava uma semana, com 40 bois mortos, quatro bandas de música e centenas de litros de vinho, cerveja e uísque consumidos.
Para começo de conversa a sede do histórico seringal Andirá não lembra mais o símbolo financeiro que foi no período em que a borracha valia ouro. Do passado permanecem apenas a linda curva do rio Acre, três horas e minutos abaixo da cidade de Porto Acre em uma viagem feita em batelão com capacidade para 20 toneladas, e o íngreme barranco, semelhante a uma falésia, que dá acesso ao local onde brilhou a glória do que foi a sede mais garbosa dos seringais da Amazônia brasileira. Dos casarões, da pista de avião e do armazém onde empilhavam milhares de pelas de borracha, restou apenas a igreja, recentemente revitalizada por pequenos agricultores que ainda moram ao redor, com a ajuda do fazendeiro de nome “Euridice”, que adquiriu toda a área do seringal Andirá para torná-lo fazenda.
Além da igreja de São Sebastião, construída pela família Dantas, a sexta mais rica do Brasil na metade do século passado, resta apenas um pequeno armazém, o ‘supermercado’ da época, e uma palmeira plantada há 50 anos pelo ex-guarda-livros da companhia dona do seringal, Raimundo Ferreira Lima. Não há mais vestígio do armazém que de longe pelo rio Acre se avistava e que era símbolo do poderio daquele negócio. Um navio que era encalhado no barranco também foi arrastado pelas águas. “Pouca coisa lembra a glória do passado”, conta Francisco Lins, o Totinha, filho de seringueiro dali, que há 21 anos lidera uma viagem ao local no dia de São Sebastião, em parte por devoção e de resto para lembrar as origens.

Totinha, o primeiro da esquerda para a direita, liderada uma viagem de barco para o Andirá há 21 anos


Apesar de o tempo e o provável desinteresse das autoridades pela preservação de um local tão histórico, neste 21 se janeiro de 2024 algumas pessoas participaram de uma missa, seguida pelo batismo de duas crianças, e no final pela procissão em cuja dianteira a imagem barroca do santo padroeiro era carregada em revezamento pelos fiéis. O trajeto não demorou 30 minutos. A caminhada foi e voltou em cima do rasto dentro do campo. O diácono Nelson Noronha, enviado pelo padre Gilson, chefe da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, em Porto Acre, conduziu o ato, depois de rezar uma missa em que a palavra principal exaltou a história do mártir Sebastião, um grego que se naturalizou romano, entrou para o Exército e terminou a vida morto a chicotadas, depois de se recuperar do primeiro castigo, as flexadas ordenadas pelo imperador Diocleciano, tudo por não negar sua fé em Jesus Cristo.

Raimundo Lima Filho e a palmeira que o pai dele plantou há mais de 50 anos


O pároco Gilson atende convite dos moradores para garantir a sobrevida do evento. O João Miguel, filho de seringueiros, mora até hoje no local e disse ao Acrenews que há 27 anos, quando viu que a festa iria acabar, resolveu assumir. “Conseguimos revitalizar a igreja e mesmo com pouca gente a festa segue”, diz.

Diácono Nelson Noronha conduziu a missa na histórica igreja


Além dos moradores da região, algumas pessoas filhas de seringueiros do Andirá que se mudaram para Rio Branco mantém a tradição de voltar ao local dia 20 de janeiro. “Aqui é onde tiro minhas férias todos os anos. Aqui é a minha Paris”, diz o bancário e professor universitário Raimundo Ferreira Lima Filho, de 58 anos. “Meu pai era guarda-livro do seringal e quando venho aqui revejo minhas raízes”, completa, saudoso.

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