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Política & Economia

“É justo um massacre virtual a título de retribuição?”, questiona nosso artículista Valterlucio Bessa Campelo

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Tivemos na última semana, com enorme repercussão na mídia acreana, um acontecimento que merece de todos um olhar sereno e apurado. Trato da jovem que, de modo impensado, reportou-se aos conterrâneos acreanos com grosseria e menosprezo. Mais do que tema para alimentar os fuxicos, o caso deve servir para que façamos uma boa análise e, pensarmos sobre esse tipo de acontecimento com a gravidade que realmente apresenta.

A expansão das redes sociais transformou radicalmente a dinâmica da interação humana, derrubando as fronteiras da comunicação e da participação nas questões sociais. Isso é uma mudança espetacular, contudo, essa mesma conectividade exponencial carrega consigo um lado sombrio: a possibilidade do linchamento virtual, ou “massacre online”. Esse fenômeno, caracterizado por uma avalanche de críticas, ofensas, humilhações e, por vezes, ameaças direcionadas a um indivíduo por suas ações ou declarações online, pode gerar consequências devastadoras em múltiplos níveis.

Sem ser nenhum especialista na área, mas, como portador de distúrbio de ansiedade em grau leve, suponho que as consequências psicológicas para o indivíduo alvo do massacre virtual são graves. A exposição a uma torrente de negatividade e hostilidade pode desencadear ou exacerbar quadros importantes, alterando a sua estabilidade emocional.

É dificílimo suportar a sensação de estar sob escrutínio e julgamento público. A segurança e a estabilidade emocional, implica um estado de alerta permanente que dificulta a capacidade de relaxamento e bem-estar. A intensidade dos ataques pode, por exemplo, evoluir para um quadro de estresse, com sintomas intrusivos como flashbacks e pesadelos, além de comportamentos de recusa a qualquer situação que lembre o fato originário.

No âmbito social, o massacre virtual produz efeitos deletérios significativos. A reputação online do indivíduo pode ser comprometida, e essa mancha digital tende a persistir por um longo período, afetando suas oportunidades de emprego, admissão em instituições de ensino e até mesmo seus relacionamentos pessoais. Em um mundo cada vez mais mediado pela internet, uma reputação online negativa pode, no limite, se traduzir em exclusão social e profissional concreta.

A aparente motivação do massacre virtual, que no caso presente foi uma postagem ofensiva, não justifica a intensidade e a natureza destrutiva da reação coletiva que verificamos. O linchamento virtual extrapola os limites da crítica construtiva e da busca por justiça. Ele se transforma em um espetáculo de punição pública, muitas vezes desproporcional à transgressão original.

Além disso, a cultura do cancelamento, muitas vezes intrínseca ao massacre virtual, pode ter o efeito de limitar a liberdade de expressão e o debate de ideias. O linchamento virtual intimida as pessoas que, prevendo uma reação em cadeia, silenciam em determinados momentos de um debate público. Quando se perde o freio da censura, ela pode amordaçar qualquer um. O receio de se tornar o próximo alvo da fúria coletiva pode levar indivíduos a se conformarem com a opinião dominante, mesmo que discordem internamente, comprometendo a pluralidade e a riqueza do discurso público online.

Então, sem conhecê-la, gostaria de pedir àquela jovem que não se deixe abater. O mundo não é justo, não é proporcional em seus julgamentos. Erros muito mais graves são cometidos por aí sem que seus agentes sejam sequer perturbados do ponto de vista psicológico. Corruptos lotam os lugares mais sofisticados do Brasil, muitos deles estão no poder, ontem mesmo um Ministro do STF se gabou de ter acabado com a lavajato que tentava limpar o andar superior da política brasileira.

Com a idade que tenho, se fosse a minha filha a pessoa envolvida, eu lhe diria, lembrando o grande pensador Edgar Morin, na obra “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”, que em vez de serem vistos como meros desvios a serem punidos ou ignorados, os erros devem ser considerados elementos cruciais e ricos de informação para o desenvolvimento do conhecimento e da compreensão. Portanto, cabeça erguida, a vida segue.

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