ESPORTE
Ecos do carnaval
Acabou o carnaval. A sabedoria popular diz que o ano só começa de verdade depois do carnaval. Se for isso mesmo, então o ano já está de fato na medida para começar. Ainda que as águas de março não tenham chegado aqui pelo Sudeste para fechar o verão, o ano pode sim dar o pontapé inicial.
Eu sei que ainda tem gente por aí coberta de paetês e lantejoulas, escutando um tambor imaginário ecoando pelo ar. Mas é real que o grosso da muvuca já foi para as calendas. Hoje pela manhã, por exemplo, eu ainda encontrei na padaria dois mascarados. Mas esses são os bêbados renitentes.
Como que num passe de mágica, os argentinos que invadiram as ruas do Rio de Janeiro desapareceram. Voltaram lá para os domínios do Javier Milei. Foram conferir se ganharam alguma coisa nas criptomoedas. E eu voltei a ouvir a língua mãe, adornada com o chiado peculiar dos cariocas.
Uma coisa que chamou a minha atenção nesse carnaval foi a ausência de craques de futebol nos blocos de rua. Antigamente, os caras largavam a bola por alguns dias e caíam no samba. Era curioso a gente ver os nossos ídolos da bola fantasiados de todas as maneiras, extravasando a alegria.
Nossos ídolos, pra falar a verdade, em tempos de intolerância, já não são os mesmos. Talvez tenham sido os mesmos apenas até o dia em que Belchior compôs “Como nossos pais”. Apesar de tudo, porém, seguindo a voz da canção, “o amor é uma coisa boa” e “viver é melhor que sonhar”.
Falar nisso, eu lembrei que a fantasia que os jogadores de futebol mais gostavam era a de se vestir de mulher. Em todos os cantos do Brasil, os marmanjos dos times assaltavam os guarda-roupas das esposas e namoradas e saíam por aí. Havia até uma pelada onde todo mundo jogava de vestido.
E dava um Ibope danado essa pelada dos sujeitos vestidos de mulher. É só procurar em velhas coleções de jornal que a gente pode encontrar. Tinha carinha que caprichava no visual e usava até batom. Tudo bem que os beiços ficavam mais para lambuzados do que para maquiados. Mas vá lá que seja.
No Acre, uma das últimas cenas que eu lembro de ter visto de praticantes de futebol brincando o carnaval envolvia os craques Dodô (centroavante de Andirá e São Francisco) e Deca (zagueiro de Independência e Juventus). Os dois abraçados cantando a plenos pulmões na beira do rio.
Era o começo da manhã de quarta-feira de cinzas e eu havia ido tomar café no mercado, em Rio Branco. E então vi os dois citados chamando urubu de “meu louro”, talvez achando que ainda era o sábado anterior. É isso aí. Sigamos porque já vem “vindo no vento o cheiro de uma nova estação”.