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PITTER LUCENA

Escritor e jornalista acreano que mora em Brasília, Pitter Lucena vai ao fundo do baú para trabalhar uma crônica

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DO TEMPO DO RONCA: TAMANCOS FRANCESINHA

Pitter Lucena

Lá pelos idos dos anos 80, quando o Brasil vivia as cores vibrantes da década, onde cada canto parecia tocar uma música disco, havia um sonho que calçava os pés de quase todas as garotas: os famosos tamancos Francesinha. Era o auge da chiqueza, a cereja do bolo da moda. Quem usava, sentia-se como se estivesse desfilando numa passarela, mesmo que fosse só o corredor da escola ou a rua de casa.

Ah, o barulho que aqueles tamancos faziam! Era inconfundível: toc, toc, toc. De longe já se sabia quem estava chegando, e quanto mais alto o som, mais respeito se impunha. Porque, convenhamos, ninguém conseguia passar despercebido usando um Francesinha. Se o assoalho fosse de madeira, então, o barulho reverberava pela casa inteira, avisando aos quatro ventos que ali vinha uma dama de prestígio. Era como um aviso sonoro: “Cuidado, estou chegando!”

Mas não se enganem: apesar do glamour, o Francesinha não era lá um exemplo de conforto. Feito de madeira, o salto não perdoava os pés mais delicados. Muitos calos nasceram nas curvas dos pés por causa dessas belezuras. Mas, como dizem, beleza não põe mesa, e naquela época, quem se importava com conforto quando se podia desfilar por aí sentindo-se a própria rainha? O sacrifício valia a pena. Cada calo era uma medalha de honra, uma marca de que a moda foi respeitada.

Havia toda uma mística em torno do tamanco Francesinha. Garotas sonhavam com ele, fitando os pares nas vitrines com os olhos brilhando. Quem tinha um, ostentava com orgulho, e quem não tinha, fazia das tripas coração para conseguir comprar o seu. Pedidos especiais eram feitos aos pais, as economias das mesadas eram guardadas com carinho, e até promessas de bom comportamento eram seladas na esperança de um dia sentir aquele toc, toc, toc ressoando ao caminhar.

E o estilo? Ah, o estilo! Combinado com uma saia jeans e uma blusa com ombreiras, o Francesinha era o toque final que transformava qualquer menina em mulher. Não era só um tamanco, era um símbolo de emancipação, de poder, de estar na moda. Era o passaporte para o mundo adulto, um troféu de que se estava crescendo e sendo notada.

Mas como toda moda, o reinado do Francesinha teve seu fim. Outros calçados vieram, mais confortáveis e menos barulhentos, e os tamancos foram relegados ao fundo dos armários. Porém, a memória do toc, toc, toc ainda vive na cabeça de quem teve o prazer (e a dor) de calçar um desses. E sempre que se fala dos anos 80, não há como não lembrar da saga dos tamancos Francesinha, que transformaram as garotas da época em verdadeiras divas, uma passarela de madeira a cada passo.

Pitter Lucena

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