GERAL
Em evento promovido pelo Tribunal de Justiça, mãe conta como o amor da adoção salvou sua vida
Marluce Feitosa chegou com um vestido rosa florido na Escola do Poder Judiciário (Esjud). Ela sabia que hoje teria um evento sobre adoção de crianças, já que domingo é o Dia Nacional da Adoção, mas ela não sabia que iria contar sua história.
Sem ter preparado um discurso e com a simplicidade de ter trabalhado por muitos anos no Educandário, ela resumiu que acabou adotando um casal de gêmeos. Daniele e Daniel: “Eu não tinha nem na mente de adotar crianças e foi uma bênção na minha vida as duas crianças. Logo quando eu adotei, caí numa enfermidade e foi por ter eles dois que eu tive forças! Eu repetia pra mim mesma que eu tinha duas crianças e não podia abandonar”, falou.
A enfermidade que Marluce enfrentou foi um câncer. Foram 10 anos de tratamento. Hoje ela tem 61 anos de idade e se comove ao lembrar de quando eles chegaram em sua casa aos cinco anos de idade e repete várias vezes sua gratidão à Deus. (O vídeo com a íntegra do depoimento está nas nossas redes sociais: assista!)
“A proporção de que as crianças chegam na sua vida, a gente sente aquele amor. Eles me ensinaram muito! Então, o amor que eu tenho por eles e eles têm por mim é isso: eles não me deixam e eu também não deixo eles por nada!”.
Nesta sexta-feira, 23, a Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) realizou um evento em alusão ao Dia Nacional da Adoção (comemorado no próximo domingo, 25 de maio) na Escola do Poder Judiciário (Esjud). Na abertura, o Coral Vozes do Povo, juntamente com o Coral Filhos da Esperança, composto por cinco crianças acolhidas no Educandário Santa Margarida, se apresentaram, sob a regência de Bruno Oliveira.
Em seguida, o juiz Jorge Lima, que está respondendo pela 2ª Vara da Infância e Juventude, fez referência às histórias de adoção narradas nesta ação da CIJ. Assim, reforçou a importância de dar visibilidade ao tema. “Que essa campanha ajude a aumentar a procura e essa realidade de transformação seja realidade para mais famílias acreanas”, declarou.
A coordenadora do Educandário Santa Margarida, Edna Moreira, compartilhou seu olhar sobre a convivência com as crianças que estão na entidade: “nas condições que chegam, muitos não conseguem olhar nos olhos, falam pouco, estão tristes. Então, é possível ver o processo de construção do ser humano. Com o passar dos dias, a segurança do lugar os permite se reanimarem, o amor vai transformando cada um e dá para ver aos poucos o brilho dos olhos voltando. É um trabalho muito gratificante”.
O presidente do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, Hélio Curi, também enfatizou que a adoção oportuniza a substituição da violência e abandono por amor. “Essa manhã foi muito simbólica, porque ouvir as famílias adotantes e conhecer as histórias é renovador. Esses exemplos demonstram a importância de realizar a adoção de forma legal, e não a brasileira, para que os procedimentos ocorram com o devido acompanhamento e cuidado”, disse.
O defensor público Rodrigo Pacheco parabenizou a iniciativa do Tribunal e a atuação do núcleo técnico das Varas da Infância e Juventude. Ao contextualizar os trâmites necessários para a destituição do vínculo familiar, deu relevo aos pareceres técnicos, estudos psicossociais e como as visitas domiciliares trazem uma visão qualificada para os autos – um trabalho que garante o melhor interesse da criança.
Em seu pronunciamento, o corregedor-geral da Justiça, desembargador Nonato Maia, surpreendeu o público ao relatar uma história pessoal. “Na minha família, nós também temos um irmão adotado. Meus pais eram compadres de outra família no seringal onde nós morávamos. Então, a mãe morreu no parto. Anos depois, o pai dessa família também faleceu. Então, minha mãe resolveu adotar afilhado – o Joãozinho, que ela era madrinha. Então, tivemos mais um irmão, de uma família que já tinha nove filhos. Nós já éramos muitos, mas a adoção foi um ator de amor”, sintetizou.
A vice-presidente do TJAC e coordenadora da Infância e Juventude, desembargadora Regina Ferrari, reforçou o convite para o programa “Família Acolhedora” e conclamou os representantes das entidades a colaborarem para que haja um menor tempo de acolhimento institucional. “Nós temos uma responsabilidade compartilhada, somos arquitetos de novos começos. Cada processo que tramita em nossas mãos representa sonhos e colaboram para o nosso propósito aqui”.
O afeto é revolucionário
Mais do que relatar o processo de adoção, Cleísa Brasil e Cleiver Lima revelaram detalhes da maternidade e paternidade atípica. As filhas, Vitória e Maria Clara, hoje em dia têm 14 e 10 anos de idade. Vitória possui limitação na fala, uma condição grave decorrente da síndrome alcoólica fetal, a qual foi vítima.
“São muitos desafios. A Vitória não fala, ela se comunica com sinais, sons e músicas que ela cantarola, às vezes. Então, aprendemos a entendê-la pelo olhar, a ter calma quando ela tem seus momentos de crise. Ela não fala, mas sempre diz que nos ama, no jeito dela de dizer”, falou a mãe.
A felicidade da família é o estandarte para a causa da adoção responsável e em prol das pessoas com deficiência.
Adoção – um lar que nasce do coração
Neste ano de 2025, o foco da campanha nacional, impulsionada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão responsável pelo Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) deu visibilidade a adoção tardia. Por isso, os corações trazem a mensagem “adote crianças maiores” e o slogan “Adotar é amor – Um lar que nasce do coração”.
No Brasil, há 34.523 crianças e adolescentes em acolhimento. Destes, 5.286 estão disponíveis para adoção. Os dados atualizados podem ser vistos aqui.
No Acre, há 127 crianças e adolescentes nas entidades de acolhimento institucional existentes na capital e municípios, destes 13 estão disponíveis para adoção. Ainda, segundo o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, há 64 pretendes ativos e 19 estão em processo de adoção em andamento.
Adoção tardia vale a pena!
“Eu nunca me vi jogando vôlei todo fim de semana. Nunca me vi em um barranco pescando. Eu nunca me vi sendo chamado na escola para falar com professor. Mas agora eu me vejo em todas essas situações e ainda tenho que acompanhar o fôlego de um adolescente de 15 anos de idade”, contou o servidor do Tribunal de Justiça do Acre, Evandro Luzia, sobre a adoção do seu filho.
De forma poética e reflexiva, o adotante narrou sobre a adoção tardia e monoparental. Os desencontros, o tempo e como conheceu o Thalisson em seu aniversário. “A gente recebe surpresas que estão escritas, mas que nunca soube lê-las na vida, assim foi meu processo de adoção. Então, é isso que eu tenho a dizer: a adoção vale a pena”, refletiu.
Texto: Miriane Teles/ Fotos: Elisson Magalhães